Uma pessoa morreu e cinco ficaram feridas após parte do teto da Igreja de São Francisco de Assis desabar na tarde desta quarta-feira (5), no Centro Histórico de Salvador. O local, um dos principais pontos turísticos da capital baiana, foi tomado por destroços, o que dificultou os trabalhos de resgate.

Equipes do Corpo de Bombeiros Militar foram acionadas e atuaram na área para identificar possíveis vítimas sob os escombros. Segundo a corporação, três viaturas atuaram na ocorrência e as vítimas foram socorridas por guarnições. Policiais militares isolaram o perímetro, enquanto o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) prestava socorro aos feridos.

Ainda segundo os Bombeiros, equipes do Serviço e Atendimento Móvel de Urgência (Samu) estão no local e o Departamento de Polícia Técnica (DPT) foi acionado.

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Defesa Civil interdita equipamento

O diretor geral da Defesa Civil de Salvador, Sosthenes Macedo, que está no local, afirmou em entrevista a ao Portal M!, que equipes já realizam intervenções no local. Além da Codesal e Corpo de Bombeiros, as Polícias Militar e Civil, Prefeitura-Bairro e a Samu atuam na região. A Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano (Sedur) foi acionada para poder auxiliar na operação e o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) já foi contactado para tomar providências legais.

“É um episódio onde teve o desabamento quase na integralidade da parte central da igreja, total. Ainda tem as áreas laterais e essas também, sobretudo diante do ocorrido, são merecedoras de atenção e as nossas equipes estão fazendo essas análises”, disse Sosthenes.

Segundo ele, o acidente aconteceu em um momento em que não acontecia missa, logo, o número de pessoas presentes era menor, mas tinha visitantes.

“Quanto aos feridos, a gente não tem agora o número completo, porque alguns já tinham saído antes, e obviamente que a nossa atenção maior para esse momento atual é buscar se ainda há algum outro tipo de vítima, além da que nós já identificamos”, destacou.

Confira trecho da entrevista:

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Histórico de problemas estruturais

A Igreja de São Francisco de Assis é considerada uma das Sete Maravilhas de Origem Portuguesa no mundo e enfrentava problemas estruturais há anos. Com um interior revestido em ouro, o templo, fundado no início do século 18, é tombado como patrimônio material do Brasil. No entanto, a proteção do governo federal não impediu que a edificação chegasse a uma situação degradante.

Durante uma visita realizada em 2023, sinais de desgaste foram evidenciados. O teto e as pinturas apresentavam deterioração, as pilastras estavam sem reboco e o piso desnivelado dificultava a locomoção. Naquele mesmo ano, um dos pátios do templo foi interditado devido ao risco de queda de um pináculo de metal de uma tonelada e meia, que precisou ser removido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

Em maio de 2023, o governo federal iniciou a restauração dos painéis lusitanos da igreja. No entanto, as melhorias não abrangeram outras partes da edificação que necessitavam de reparos urgentes. Para realizar uma restauração completa, é necessário que o projeto passe pela avaliação técnica do Iphan, garantindo que as características originais do barroco sejam preservadas.

Riqueza histórica do templo

A Igreja e o Convento de São Francisco começaram a ser construídos em 1686 e foram concluídos em 1723, após doações de moradores. A abertura ao público ocorreu em 1713. Externamente, a edificação pode parecer simples, mas seu interior exibe riqueza ornamental, com entalhes cobertos de ouro, florões, arcos e figuras barrocas.

O templo abriga imagens esculpidas por mestres santeiros baianos e lusitanos, além de duas pias de pedra doadas por Dom João V, então rei de Portugal. Outros elementos importantes são as balaustradas e peças em jacarandá, madeira nobre utilizada na construção.

Os púlpitos e tetos são decorados com pinturas datadas de 1737, atribuídas ao artista português Bartolomeu Antunes, mestre ladrilhador da época. No coro da igreja, há um antigo oratório com um crucifixo e relíquias, incluindo o crânio de um mártir conhecido como São Fidélis, doado pelo papa Inocêncio XII.

Além da capela-mor dedicada a São Francisco de Assis, o templo conta com oito capelas secundárias. Entre os destaques artísticos, estão o cadeiral entalhado do coro e a estante para o missal, ambos criados pelo frei Luís de Jesus, conhecido como “Irmão Torneiro”.

Preservação e futuro do patrimônio

A sacristia do templo também preserva uma coleção significativa de arte sacra, incluindo um grande arcaz entalhado por Irmão Torneiro. Acima dele, pinturas de Bartolomeu Antunes ilustram passagens da vida de São Francisco. Essas relíquias tornam a igreja um dos maiores exemplos do barroco brasileiro, ressaltando a necessidade urgente de sua preservação.

O desabamento reacende o debate sobre a conservação do patrimônio histórico e a urgência de investimentos para evitar novas tragédias. O futuro da Igreja de São Francisco de Assis dependerá de ações efetivas das autoridades responsáveis pela manutenção desse importante marco cultural e religioso do Brasil.