Emprego impulsiona confiança, mas inflação limita consumo das famílias, aponta Fecomércio

O Índice de Intenção de Consumo das Famílias (ICF), medido pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado da Bahia (Fecomércio BA) e pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), registrou em fevereiro a sexta alta consecutiva, atingindo 113,4 pontos. O crescimento foi de 0,8% em relação a janeiro, mas em comparação com o mesmo período do ano passado, houve um recuo de 0,8%.

Emprego sustenta otimismo das famílias

Os itens relacionados ao emprego foram os que apresentaram os maiores índices na pesquisa. O fator Emprego atingiu 133,4 pontos, com alta mensal de 1,1%, enquanto Emprego Atual subiu 0,3%, chegando a 132,8 pontos. O presidente do Sistema Comércio BA, Kelsor Fernandes, destacou o impacto positivo do mercado de trabalho na confiança das famílias.

“De fato, a taxa de desemprego em Salvador está no seu menor nível em mais de 10 anos, o que tem gerado elevado otimismo nas famílias em relação à situação atual de emprego”, afirmou.

A pesquisa apontou ainda elevação no ‘Acesso ao Crédito’, que teve um aumento de 2,6%, passando de 99,5 pontos em janeiro para 102,1 pontos em fevereiro. A Fecomércio BA avalia que a estabilidade no emprego tem possibilitado às famílias se manterem no mercado de crédito, mesmo diante das taxas de juros elevadas.

Consumo cresce, mas inflação pesa no orçamento

O Nível de Consumo Atual registrou alta de 1,8%, atingindo 101,5 pontos, enquanto a Perspectiva de Consumo subiu 0,8%, alcançando 119,4 pontos. O consultor econômico da Fecomércio BA, Guilherme Dietze, alertou que a alta não significa, necessariamente, um aumento real no poder de compra.

“Aqui, a análise precisa ser cautelosa, pois o aumento do consumo não necessariamente significa novos gastos. Com a inflação de alimentos impactando o bolso, com um aumento superior a 6% nos últimos 12 meses na RMS, é possível que muitas famílias tenham respondido que o nível de consumo está maior, mas apenas para comprar os mesmos produtos de meses atrás — ou seja, uma resposta, de certa forma, mais negativa”, explicou.

A pesquisa também registrou variação negativa de 0,7% no item Renda Atual, que recuou para 128,4 pontos. Apesar do nível elevado, Dietze destacou que a alta nos preços de itens essenciais afeta a percepção das famílias sobre a renda.

“Embora a renda disponível das famílias esteja em nível recorde, é natural que o otimismo diminua à medida que o consumidor vai ao supermercado e observa o aumento de preços de itens essenciais, como carne, leite e café”, disse.

Compras de bens duráveis recuam

O índice que mede a intenção de compra de bens duráveis registrou queda de 0,4% em fevereiro, atingindo 76,3 pontos. Segundo a Fecomércio BA, essa redução já era esperada após altas nos meses anteriores, influenciadas pelas promoções de Black Friday, Natal e início de ano.

Os dados da pesquisa também mostram que o ICF cresceu para todas as faixas de renda analisadas. Entre as famílias com renda inferior a 10 salários-mínimos, o índice subiu 0,6%, alcançando 110,6 pontos. Para aquelas com renda superior a esse valor, a alta foi de 2,2%, chegando a 143 pontos, um patamar superior ao registrado no ano passado, que era de 123 pontos.

Emprego segue como principal fator para o consumo

A análise da Fecomércio BA aponta que o emprego tem sido determinante para a manutenção do consumo, mesmo em um cenário econômico desafiador.

“O emprego tem garantido condições para que as famílias se mantenham no mercado de crédito”, afirmou a entidade, destacando a influência do trabalho na estabilidade financeira das famílias neste início de ano.