Especialistas propõem programas para adultos e atuação conjunta no combate ao analfabetismo na Bahia
Estado tem 1,4 milhão de analfabetos, o maior contingente do Brasil, segundo o IBGE
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou recentemente dados alarmantes sobre o analfabetismo na Bahia, revelando a existência de 1,4 milhão de pessoas que não sabem ler nem escrever, o que deixa o estado com o maior contingente de analfabetos em números absolutos no Brasil, evidenciando um desafio significativo para as políticas educacionais locais. O número corresponde a 12,6% da população baiana, colocando o estado como detentor da 9º maior taxa de analfabetismo do país.
O Portal M! ouviu especialistas para oferecer sugestões sobre como melhorar os índices de alfabetização na Bahia. As propostas variam desde a implementação de programas para adultos até a atuação conjunta dos poderes municipais, estadual e federal. As medidas sugeridas visam não apenas reduzir o número de analfabetos, mas também promover uma educação de qualidade que possa transformar a realidade social e econômica do estado.
De acordo com o coordenador geral do Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado da Bahia (APLB), Rui Oliveira, a Bahia é um “péssimo exemplo”, nesse aspecto, para o Brasil. Ele também afirmou que o tema é responsabilidade de todas as esferas: municipal, estadual e federal.
“A Bahia tem o maior índice analfabetos do Brasil, e isso não está levando em consideração os analfabetos funcionais. É lamentável, porque o plano decenal de educação estabeleceu meta para erradicar o analfabetismo, e também o plano estadual de educação, e essas ações são compartilhadas. Não é responsabilidade somente do município, é uma responsabilidade compartilhada entre a União, os estados e os municípios. Para isso, existem os planos estaduais de educação, os planos municipais e o plano nacional, que estabelece meta, compartilha a responsabilidade e faz diretrizes para erradicar. E como aqui 90% do plano não foi cumprido, a responsabilidade pertence a todos”, enfatizou.
A afirmação de Rui é um contraponto à declaração do governador Jerônimo Rodrigues (PT), que atribuiu o problema aos municípios. “No que diz respeito ao analfabetismo, eu quero dizer, novamente, como a gente sempre fala sobre a saúde, quem alfabetiza são os municípios. É do município que começa a creche, o infantil, o Fundamental I, o Fundamental II. Então, a gente vai ficar de cá aguardando os estudantes chegarem no nível médio”, declarou o petista no último dia 20 de maio, durante a entrega de 54 vans para o transporte escolar no interior do estado, no Parque de Exposições de Salvador.
A reportagem também buscou a Secretaria de Educação do Estado da Bahia (SEC) para saber como tem sido a atuação da pasta para melhorar o quadro, mas não houve qualquer retorno até a publicação desta matéria. Na época, após a divulgação dos dados, o estado divulgou que a Bahia teria a menor taxa de analfabetismo do Nordeste, em função da redução da população analfabeta em 17,8% entre 2010 e 2022 (308.350 pessoas a menos nesta condição) e o recuo do índice de analfabetismo, de 16,6% para 12,6%.
Ouvida pelo Portal M!, a pedagoga e psicopedagoga Fernanda Menezes, apontou que o analfabetismo está frequentemente ligado a condições socioeconômicas desfavoráveis, criando um ciclo de pobreza que pode ser transmitido de geração a geração. Por conta disso, ela acredita que o analfabetismo não afeta apenas a capacidade de ler e escrever, mas também tem repercussões profundas em várias áreas da vida das pessoas, impactando negativamente seu desenvolvimento pessoal, social, econômico e emocional.
Segundo Fernanda, algumas estratégias podem ser importantes para promover a redução dos índices de analfabetismo, a exemplo do investimento em Educação Básica, garantindo os recursos adequados para melhorar a qualidade e com foco no desenvolvimento de habilidades de leitura, escrita e letramento.
“Investimento em programas de alfabetização de adultos, pautados em recursos e materiais adequados para a realidade desse público; capacitação e contratação de professores que possuam habilidades e formação para alfabetizar; promover campanhas de conscientização sobre a importância da alfabetização e os recursos disponíveis para aprender a ler e escrever; acessibilidade e inclusão; parcerias público-privadas; inclusão digital e o monitoramento e avaliação para medir o progresso dos educandos e ajustar as estratégias de acordo com as necessidades”, listou.
Impactos negativos do analfabetismo
Outro ponto destacado por Fernanda foi o conjunto de impactos negativos do analfabestimo na vida das pessoas. Ela enfatizou que um indivíduo não alfabetizado pode enfrentar dificuldades em se inserir no mercado de trabalho e conseguir uma renda mensal adequada para seu sustento. “Tendo que se submeter a subempregos e, como consequência, pode se tornar uma pessoa com dependência não só financeira, mas em todas as áreas da vida, como preencher um formulário, ler uma receita médica e compreender informações importantes”, pontuou.
O analfabetismo pode ocasionar ainda vergonha e falta de autoestima, como explicou a psicopedagoga. “Podendo levar ao isolamento social e afetando a saúde mental. E estão mais propensas a serem enganadas e exploradas devido à dificuldade de compreensão, por exemplo, de documentos importantes, contratos e práticas fraudulentas”, alertou.
Iniciativa busca reverter o quadro
Em Salvador, o Programa de Alfabetização e Letramento da Faculdade Estácio é uma iniciativa que busca reverter o cenário do analfabetismo na Bahia. Responsável pela ação, a professora Marialva Gargur enfatizou que o programa tem o objetivo de desenvolver as habilidades de leitura e escrita entre as pessoas que não tiveram a oportunidade de alcançá-las na faixa etária prevista por lei.
“Os motivos são diversos, principalmente as crianças que tiveram que deixar as escolas para que pudessem ajudar no sustento familiar. Nosso trabalho é voltado para desenvolver essa habilidade, alfabetizar os adultos que são analfabetos. Mas também temos o objetivo de incluí-los na sociedade, porque eles passam a ter direitos garantidos, passam a poder fazer a leitura do letreiro do ônibus e saber para onde ir”, enfatizou.
Marialva apontou ainda que a iniciativa contribui para o desenvolvimento da capacidade crítica. “O letramento permite com que os alunos possam, através da leitura e da escrita, desvendar esse mundo em que ele vive. Fazendo uma leitura crítica, a partir do momento em que ele se torna um ser crítico social na sociedade, ele se reconhece como cidadão. Então, a gente também desenvolve a cidadania, e procura fazer com que os alfabetizandos tenham garantido os seus direitos”, finalizou.
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