Pensar sempre positivo prejudica a saúde mental?
Você já parou para pensar se o otimismo excessivo pode estar sabotando sua vida?

Em um mundo que nos pressiona a ser sempre felizes e otimistas, a positividade tóxica tem se tornado um fenômeno recorrente, que é aquela insistência em ser positivo a qualquer custo, mesmo em situações onde o sofrimento é real e necessário de ser processado. O problema aqui não é a positividade em si, mas quando ela se torna uma imposição, ignorando sentimentos negativos legítimos. O resultado é que as emoções dolorosas são reprimidas, e a pessoa é levada a acreditar que é fraca ou não tem o direito de sentir tristeza, frustração ou raiva.
Pense em situações como:
• Uma pessoa passa por uma crise de ansiedade e escuta: Basta pensar positivo que tudo vai passar. A questão é que a pessoa com ansiedade não consegue “pensar positivo” de maneira mágica. Esse tipo de frase simplifica um problema complexo e pode aumentar o sentimento de inadequação e culpa.
• Após a morte de um ente querido, alguém diz: Pelo menos ele está em um lugar melhor, siga em frente. O malefício é ignorar o processo de luto, e as emoções profundas que acompanham a perda.
• Uma pessoa está exausta de tanto trabalhar, mas precisa continuar a pagar as contas, acaba ouvindo: Seja grato pelo trabalho que você tem, muitos não têm essa sorte. Ocorre que esse comentário invalida o cansaço e o desgaste emocional da pessoa, impondo culpa por reclamar ou se sentir esgotada.
As consequências psicológicas da positividade tóxica
Negar as emoções negativas pode trazer uma série de consequências psicológicas adversas. Segundo a pesquisadora norte-americana Brené Brown, suprimir sentimentos como tristeza e raiva nos desconecta de nossa própria vulnerabilidade, nos impedindo de ser genuínos. Essa falta de autenticidade emocional pode aumentar os níveis de estresse, ansiedade e até mesmo desencadear depressão.
O pai da psicologia analítica, o suíço Carl Jung, também alertava para os perigos de resistirmos aos nossos sentimentos mais profundos. Ele dizia: Aquilo a que você resiste, persiste. Ou seja, não adianta ser um negacionista, porque ignorar as emoções negativas não as faz desaparecer. Na verdade, elas tendem a se acumular no inconsciente, aumentando de intensidade até que, eventualmente, se manifestam de forma ainda mais prejudicial.
Susan David, psicóloga e professora em Harvard, ressalta que o reconhecimento das emoções, tanto boas quanto ruins, é fundamental para uma vida emocional saudável. Ela aponta que a contínua repressão das emoções negativas pode gerar uma desconexão interna, em que a pessoa se sente permanentemente incompleta ou insatisfeita, mesmo que, externamente, tente demonstrar felicidade ou sucesso.
A aceitação genuína
Carl Rogers, psicólogo humanista e criador da Terapia Centrada no Cliente, ofereceu uma visão extremamente valiosa sobre o equilíbrio emocional. Para ele, a chave para um desenvolvimento emocional saudável está na aceitação incondicional de quem somos, com todas as nossas emoções — tanto positivas quanto negativas.
Rogers usava o termo “congruência” para descrever um estado de harmonia entre o que sentimos internamente e o que expressamos externamente. Quando negamos as emoções negativas, como nos força a fazer a positividade tóxica, entramos em um estado de incongruência, onde o que sentimos e o que demonstramos estão em conflito. Isso não só nos afasta de nós mesmos, como também das pessoas ao nosso redor.
Alienação emocional: um efeito da negação
A alienação, tanto de nós mesmos quanto dos outros, é uma das principais consequências da positividade tóxica. Quando ignoramos nossas emoções ou minimizamos as dos outros, acabamos por nos desconectar de nossa essência e da verdadeira natureza das nossas relações. O ser humano é complexo, e viver como se só houvesse espaço para emoções positivas nos faz perder contato com a realidade.
Nos relacionamentos, essa alienação pode se manifestar em forma de distanciamento emocional. Pessoas que insistem em respostas simplistas, como “vai dar tudo certo” ou “não pense nisso”, acabam criando barreiras entre elas e os que estão enfrentando momentos difíceis. Esse tipo de resposta não é empática; ao contrário, desconsidera a profundidade das experiências emocionais, enfraquecendo a confiança e a comunicação nas relações.
Um caminho mais saudável
Em vez de se render à positividade forçada, é possível adotar uma postura mais equilibrada e saudável diante das emoções. Aqui estão algumas dicas para lidar melhor com as emoções, tanto positivas quanto negativas:
• Valide suas emoções: sentir tristeza, raiva ou frustração não é sinal de fraqueza. Essas emoções são parte da experiência humana, e merecem ser reconhecidas e compreendidas.
• Busque equilíbrio: quando enfrentamos uma situação difícil, podemos, sim, procurar soluções e caminhos para que tudo melhore, mas sem tentar suprimir ou negar o que estamos sentindo no momento.
• Ofereça apoio genuíno aos outros: em vez de frases prontas e simplistas, ouça e tenha empatia. Às vezes, a melhor forma de apoiar alguém é apenas estar presente e ouvir.
• Aprenda com os momentos difíceis: o verdadeiro crescimento emocional só ocorre quando aceitamos nossas vulnerabilidades. As emoções negativas não são inimigas, mas oportunidades para aprender mais sobre nós mesmos, e encontrar formas de lidar com os desafios.
Aceitação e crescimento
O equilíbrio emocional não está em viver uma vida de constante alegria e otimismo, mas em ser capaz de enfrentar os altos e os baixos de maneira realista. Acredito que, ao permitirmos que nossas emoções fluam naturalmente, sem as pressões externas de sempre ter de aparentar felicidade, nos tornamos mais resilientes, mais conectados conosco e com os outros.
Viver de maneira autêntica significa aceitar quem somos de verdade — com todas as nossas falhas, dores e conquistas. A ideia não é negar o valor da positividade, mas reconhecer que ela só tem efeito genuíno quando é realista, senão é tóxica.
É preciso destacar, no entanto, que também não se pode viver na negatividade tóxica, onde a pessoa acredita que tudo dá errado em sua vida, porque ela merece o sofrimento, ou porque é inferior, ou porque, por exemplo, tem de carregar a sua cruz. Aceitar as emoções e fases negativas não é um passe livre para estacionar na tristeza, na raiva ou depressão, mas um momento de reflexão sobre si mesmo, e da procura de como sair do sofrimento, mesmo que aos poucos ou com ajuda profissional.
A psicoterapia é um excelente caminho para promover a aceitação incondicional de quem somos, que é o primeiro passo para o desenvolvimento genuíno. Ao permitir que nossas emoções fluam de maneira saudável, sem forçar uma alegria que não existe, abrimos caminho para uma vida mais plena.
Ouça no meu podcast “Psicologia Cotidiana” o mesmo tema com outras reflexões.
Sergio Manzione é psicólogo clínico, administrador, podcaster, colunista sobre comportamento humano e psicologia no Portal Muita Informação!, e escreveu o livro “Viva Sem Ansiedade – oito caminhos para uma vida feliz”. @psicomanzione
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