Brasil assume presidência dos Brics com foco em multipolaridade e justiça global, afirma Lula

O presidente Lula (PT) anunciou, nesta quarta-feira (23), durante a cúpula dos Brics, que a presidência brasileira no bloco será uma oportunidade para reafirmar o compromisso com a criação de um mundo multipolar. O petista participou por videoconferência, após cancelar sua viagem a Kazan, na Rússia, devido a um acidente doméstico.

Lula destacou que o grupo, que inclui Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, tem caminhado para se tornar uma força de contrapeso ao poder das alianças tradicionais entre Estados Unidos e Europa na política global. “Na presidência brasileira dos Brics, queremos reafirmar a vocação do bloco na luta por um mundo multipolar e por relações menos assimétricas entre os países”, declarou Lula.

Segundo o presidente, o lema brasileiro no próximo ano à frente dos Brics será “fortalecer a cooperação do Sul Global para uma governança mais inclusiva e sustentável”. Ele ressaltou a importância de combater a desigualdade no acesso a tecnologias, vacinas e medicamentos, fazendo referência à disputa por insumos durante a pandemia de Covid-19 como um exemplo claro da desigualdade global.

Além disso, Lula enfatizou a necessidade de enfrentar desafios emergentes como a inteligência artificial, afirmando que não se pode aceitar uma espécie de “apartheid” tecnológico que exclua países em desenvolvimento do acesso a inovações essenciais.

Taxação dos super ricos

Lula também agradeceu o respaldo do Brics às iniciativas brasileiras para a taxação dos super ricos, medida que seu governo tem defendido nas discussões globais como uma ferramenta importante para reduzir as desigualdades econômicas. “Seu respaldo foi fundamental para avançar em iniciativas que são cruciais para a redução das desigualdades, como a taxação dos super ricos”, disse o presidente.

Ainda na videoconferência, Lula destacou que o Brics é um “ator incontornável” nas discussões sobre mudanças climáticas, mas ressaltou que os países desenvolvidos têm uma maior responsabilidade no enfrentamento da crise ambiental devido ao seu histórico de emissões de gases de efeito estufa. Apesar de cobrar mais ação dos países ricos, Lula também sublinhou que as nações emergentes devem fazer sua parte para ajudar a limitar o aumento da temperatura global e contribuir para a luta contra a crise climática.

“É preciso ir além dos US$ 100 bilhões anuais prometidos e fortalecer as medidas de monitoramento dos compromissos assumidos”, afirmou o presidente, referindo-se à promessa não cumprida de financiamento climático para países em desenvolvimento.