Após expansão, Brics reduz apoio à candidatura do Brasil no Conselho de Segurança

Declaração de Kazan manifestou apoio a temas de interesse do país no G-20, como combate à fome e à pobreza


Vixe d-flex me-2
Estadão Conteúdo e Redação 26/10/2024 14:00 Internacional
Após expansão, Brics reduz apoio à candidatura do Brasil no Conselho de Segurança - Reprodução / Tv Globo

O último documento da Cúpula do Brics, realizado em Kazan, Rússia entre os úlitmos dias 22 a 24, não mencionou diretamente o Brasil em seu pedido histórico de assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU). O ajuste surge em meio à expansão do Brics para dez membros, complicando o consenso e afastando o foco da meta de Brasil, Índia e África do Sul, conforme a nova Declaração de Kazan.

A citação à reforma da ONU, anteriormente nominativa aos três países, passou a englobar “os países do Brics”, incluindo os novos membros Egito, Etiópia, Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita e Irã.

O trecho da declaração salienta o compromisso: “Apoiar as aspirações legítimas dos países emergentes e em desenvolvimento da África, Ásia e América Latina, incluindo os países do Brics, a desempenhar um papel maior nos assuntos internacionais, em particular nas Nações Unidas, incluindo seu Conselho de Segurança.”

A inclusão mais ampla representa a complexidade trazida pelos recém-admitidos países africanos. Egito e Etiópia, por exemplo, demonstraram resistência ao papel da África do Sul como principal representante africano, assim como o Brasil tenta estabelecer seu lugar permanente como o primeiro latino-americano no Conselho.

A Declaração também reconheceu “as aspirações legítimas dos países africanos, refletidas no Consenso de Ezulwini e na Declaração de Sirte”, firmados em 2005, que buscam assegurar ao menos duas cadeiras fixas no Conselho de Segurança da ONU para a África, com escolha dos países pela União Africana.

Produzida anualmente, a declaração da cúpula do Brics possui 134 parágrafos e resume a posição oficial do grupo, desenvolvida ao longo de meses de negociações. Diplomatas confidenciaram que o documento reconhece a Declaração de Johannesburgo (2023), em que Brasil, Índia e África do Sul foram citados, mas sem o apoio específico para seus pleitos, enfraquecendo o Brasil.

O chanceler brasileiro Mauro Vieira estava presente, mas assistia a um concerto enquanto líderes africanos interagiam em torno da questão da reforma da ONU. “O documento final reflete a posição de todos, está muito bem”, afirmou Vieira, sem mencionar o impacto na meta de reforma do Conselho.

Outro ponto foi a inclusão de 13 países convidados como “parceiros” do Brics, uma nova categoria que reforça a ampliação do grupo sem as prerrogativas de veto dos membros plenos. Esse ajuste aponta os desafios internos de consenso, com decisões que se complicam diante da diversidade de interesses.

O Brasil, desde a cúpula anterior (2023), pressiona por um apoio mais direto à sua reivindicação, mas a expansão do Brics – especialmente promovida pela China e, neste caso, pela Rússia – intensifica as discordâncias. “O denominador comum foi rebaixado”, afirmou um negociador, destacando que o texto genérico foi uma “sutileza” para superar o impasse.

Historicamente, o Brasil resiste à expansão do Brics temendo perda de influência. O Itamaraty tende a apoiar critérios para adesão antes de novas inclusões, com respaldo da Índia. “Aumento desmedido” é como Mauro Vieira denominou o movimento expansivo, que para a Índia traz o dilema da entrada de países como Paquistão, rival regional.

Os debates sobre expansão continuam e, agora, os novos parceiros do Brics deverão aceitar certos princípios antes da adesão. A formação do grupo sempre reuniu países com interesses divergentes, exigindo alta articulação diplomática para manter a coesão política.

Disputas internas se tornaram evidentes desde as últimas reuniões de chanceleres, que ocorreram tanto em Nova York quanto em Nijni Novgorod, em junho do ano passado, onde já surgiram divergências sobre a reforma. As negociações em Kazan refletiram essa mesma divisão.

A resistência de Egito e Etiópia quanto ao protagonismo africano afetou a inclusão de Brasil, Índia e África do Sul, bloqueando menções específicas no documento final. O Brasil tem articulado suas demandas junto ao IBAS – grupo com Índia e África do Sul – e ao G4, que reúne ainda Japão e Alemanha, mas que enfrenta oposição direta da China. Pequim também teve resistência ao apoio a demandas brasileiras.

Fundado em 1945, o Conselho de Segurança da ONU conta com quinze membros, sendo cinco fixos e com poder de veto. A demanda por uma reforma, defendida pelo Brasil, visa aumentar a representatividade. Algumas nações já declararam apoio à candidatura brasileira, mas os EUA e a China ainda resistem a mudanças substanciais.

Entre outras questões abordadas, a Declaração de Kazan manifestou apoio a temas de interesse do Brasil no G-20, como combate à fome e à pobreza.

Mais Lidas

Internacional

Últimas Notícias

Após vídeo com PMs chutando eleitores do UB, Jerônimo diz que ‘polícia fez seu papel’ no 2º turno em Camaçari -
Eleições 2024 28/10/2024 às 11:09

Após vídeo com PMs chutando eleitores do UB, Jerônimo diz que ‘polícia fez seu papel’ no 2º turno em Camaçari

Governador também agradeceu aos serviços prestados pelos agentes de segurança neste domingo


Dia do Servidor Público altera funcionamento de serviços municipais em Salvador -
Cidades 28/10/2024 às 10:48

Dia do Servidor Público altera funcionamento de serviços municipais em Salvador

Prefeitura mantém apenas serviços essenciais como saúde, trânsito e segurança em pleno funcionamento


A Fazenda 16: após briga generalizada, Fernanda Campos e Mc Zaac desistem de reality -
Coluna Ohh! 28/10/2024 às 10:27

A Fazenda 16: após briga generalizada, Fernanda Campos e Mc Zaac desistem de reality

Zé Love e Yuri Bonotto protagonizaram uma nova briga, com acusações de agressão contra Sacha Bali


Kamala Harris faz campanha na Filadélfia e reforça pedido por voto antecipado -
Internacional 28/10/2024 às 10:06

Kamala Harris faz campanha na Filadélfia e reforça pedido por voto antecipado

Participação dos eleitores do reduto democrata tradicional é vital para estratégia eleitoral da atual vice-presidente dos Estados Unidos


Eleições 2024: PSD e MDB lideram lista de partidos que mais elegeram prefeitos nas capitais -
Eleições 2024 28/10/2024 às 09:45

Eleições 2024: PSD e MDB lideram lista de partidos que mais elegeram prefeitos nas capitais

Com fim do 2º turno, legendas vencerem em cinco prefeituras cada; PSD aumentou percentual e MDB se manteve


Fiéis homenageiam São Judas Tadeu, padroeiro dos funcionários públicos, em todo país -
Cidades 28/10/2024 às 09:23

Fiéis homenageiam São Judas Tadeu, padroeiro dos funcionários públicos, em todo país

Capital baiana terá programação especial nesta segunda; Governador e prefeito de Salvador decretaram ponto facultativo e antecipação de salários


Mais de 38 mil eleitores não votaram em Camaçari no 2º turno; saiba como justificar ausência -
Eleições 2024 28/10/2024 às 09:02

Mais de 38 mil eleitores não votaram em Camaçari no 2º turno; saiba como justificar ausência

Eleitores têm até o dia 7 de janeiro de 2025 para efetuar processo


Brasil registra 77 ocorrências de crimes eleitorais neste domingo, segundo Ministério da Justiça -
Eleições 2024 28/10/2024 às 08:41

Brasil registra 77 ocorrências de crimes eleitorais neste domingo, segundo Ministério da Justiça

Boletim não leva em conta cinco episódios registrados pela SSP-BA em Camaçari, única cidade baiana que teve 2º turno


Empate técnico nas pesquisas: Trump e Harris travam batalha decisiva a uma semana das eleições -
Internacional 28/10/2024 às 08:20

Empate técnico nas pesquisas: Trump e Harris travam batalha decisiva a uma semana das eleições

Nos últimos dias, pelo menos três sondagens indicaram um empate técnico entre os dois nos Estados Unidos


Degradação da Amazônia atinge recorde histórico em setembro -
Cidades 28/10/2024 às 08:00

Degradação da Amazônia atinge recorde histórico em setembro

Área degradada na floresta cresceu 1.402% em relação a 2023, impulsionada por desmatamento e queimadas no período seco