O Brasil assume, a partir desta quarta-feira (1º), a presidência rotativa do Brics pela quarta vez, com o compromisso ambicioso de promover uma governança mais inclusiva e sustentável. O país liderará o bloco em um momento crucial em 2025, quando o Brics contará com pelo menos nove novos membros.

Entre as metas do Brasil está a reforma da governança global e a promoção de um desenvolvimento sustentável que integre socialmente as nações do bloco. O bloco busca representar economias emergentes, além de defender uma ordem internacional mais equilibrada.

Expansão do Brics e desafios do Brasil

Em 2025, ao menos nove países novos integrarão o grupo, dentre os quais estão: Cuba, Bolívia, Indonésia, Bielorrússia, Cazaquistão, Malásia, Tailândia, Uganda e Uzbequistão. O desafio para o Brasil, agora à frente da presidência, é coordenar a integração desses países e avançar na implementação do sistema de pagamentos com moedas locais, com a intenção de reduzir a dependência do dólar no comércio entre os membros.

Sob o lema “Fortalecendo a Cooperação do Sul Global para uma Governança mais Inclusiva e Sustentável”, o governo brasileiro terá o desafio de fomentar uma maior participação das nações em desenvolvimento nas decisões globais. Para o professor Paulo Borba Casella, do Grupo de Estudos sobre o Brics da USP, a principal tarefa do Brasil será criar uma dinâmica eficaz para a nova configuração do Brics, que incluirá dez países plenos e mais uma dúzia de estados associados.

“Há mais de uma centena de grupos de trabalho em áreas das mais diversas. Será preciso ver como o Brasil consegue ajudar a fazer funcionar o Brics na sua nova configuração, com dez estados e com mais uma dúzia de estados associados. Que maneira isso vai operar? Ainda ninguém viu e ninguém sabe”, destacou.

Com a inclusão de Cuba, Bolívia, Indonésia, Bielorrússia, Cazaquistão, Malásia, Tailândia, Uganda e Uzbequistão, o Brics se torna ainda mais representativo globalmente. A estratégia de substituir o dólar por moedas locais no comércio entre os países também será uma prioridade.

Entretanto, a questão ainda apresenta desafios, especialmente para a integração desses novos membros, que terão diferentes categorias de participação, com alguns podendo atuar como parceiros e outros como membros plenos.

Impacto do governo dos EUA

Em meio a essa expansão, o governo de Donald Trump, que assume a presidência dos Estados Unidos no próximo dia 20, expressou ameaças a países que deixarem de usar o dólar, propondo aumento de tarifas. No entanto, Casella argumenta que essas ameaças não têm força para mudar a dinâmica do Brics, que se apresenta como uma alternativa viável ao domínio econômico do dólar e dos EUA.

“Ele joga para o eleitorado interno para tentar mostrar uma posição, mas é uma bobagem porque o sistema internacional não funciona só com ameaças”, declarou o professor.

O Brics tem se consolidado como um fórum de resistência a políticas internacionais que favorecem os países mais industrializados. Com 40% da população global e 37% do PIB mundial por poder de compra, o bloco se apresenta como um forte concorrente ao G7.

Brics e reforma da governança global

Outro ponto importante da agenda do Brics, além da promoção do uso de moedas locais, é a reforma das instituições internacionais. O bloco defende uma maior representação da Ásia, África e América Latina no Conselho de Segurança da ONU, na Organização Mundial do Comércio (OMC) e em organizações financeiras como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI).