O mundo literário se despede de uma de suas maiores figuras: Mario Vargas Llosa, vencedor do Prêmio Nobel de Literatura em 2010, morreu, neste domingo (13), aos 89 anos, em Lima, no Peru. A informação foi confirmada por seu filho, Álvaro Vargas Llosa, nas redes sociais. De acordo com comunicado oficial da família, o corpo do escritor será cremado, conforme seu desejo, e não haverá cerimônia pública de velório.

Vargas Llosa deixa uma obra que atravessa fronteiras e décadas, consolidando-se como um dos mais influentes escritores da língua espanhola no século XX e XXI. Autor de romances, ensaios e colunas jornalísticas, também atuou na vida política de seu país natal e foi membro de várias academias de letras ao redor do mundo.

Trajetória marcada por prêmios e engajamento político

Nascido em 28 de março de 1936, na cidade de Arequipa, no Peru, Jorge Mario Pedro Vargas Llosa iniciou sua carreira literária ainda jovem, mas foi com o romance A Cidade e os Cachorros (1963) que ganhou reconhecimento internacional. A obra crítica sobre a sociedade peruana venceu o Prêmio Biblioteca Breve e o Prêmio da Crítica Espanhola, marcando o início de uma produção literária intensa e premiada.

Ao longo da vida, Vargas Llosa recebeu diversas condecorações, entre elas:

• Prêmio Rómulo Gallegos (1967)
• Prêmio Príncipe das Astúrias de Letras (1986)
• Prêmio Planeta (1993)
• Prêmio Miguel de Cervantes (1994)
• Prêmio Jerusalém (1995)
• National Book Critics Circle Award (1997)
• Prêmio PEN/Nabokov (2002)
• Grande Prêmio Mundial Simone Del Duca (2008)

Além do Nobel, o autor colecionou títulos honorários de universidades na Europa, América e Ásia. Ele também integrou instituições literárias prestigiadas, como a Real Academia Espanhola (desde 1994), a Academia Peruana de Língua (desde 1977), a Academia Brasileira de Letras (desde 2014) e, mais recentemente, a Academia Francesa, da qual passou a fazer parte em 2023, sendo o primeiro autor de língua espanhola a ingressar na centenária instituição.

Reconhecimento da crítica e influência duradoura

A concessão do Prêmio Nobel de Literatura, em 7 de outubro de 2010, marcou um ponto alto na carreira do autor. Segundo a justificativa da Academia Sueca, Vargas Llosa foi premiado por sua “cartografia das estruturas de poder e suas imagens vigorosas sobre a resistência, revolta e derrota do indivíduo”.

A crítica literária destaca sua capacidade de unir densidade intelectual e narrativa envolvente, explorando temas como autoritarismo, desigualdade, liberdade e a complexidade do comportamento humano. Obras como Conversa na Catedral, A Guerra do Fim do Mundo e Travessuras da Menina Má continuam a ser lidas e estudadas em todo o mundo.

Atuação jornalística e posicionamentos ideológicos

Além da ficção, Mario Vargas Llosa manteve por décadas uma produção constante como articulista e ensaísta. No Brasil, publicou colunas no jornal O Estado de S.Paulo entre 1996 e 2024, com sua última contribuição em 21 de fevereiro deste ano, intitulada “Por que a verdade é a pedra de toque do jornalismo?”

No campo político, Vargas Llosa teve trajetória marcada por mudanças ideológicas. Inicialmente simpatizante da Revolução Cubana e do governo de Fidel Castro, rompeu com o regime nos anos 1970 e se tornou um defensor fervoroso da democracia liberal. Em 1990, se candidatou à presidência do Peru por uma coligação de centro-direita, mas foi derrotado por Alberto Fujimori.

Últimos momentos e despedida

No comunicado divulgado por seus familiares, foi informado que Vargas Llosa morreu em paz, cercado pelos filhos Álvaro, Gonzalo e Morgana Vargas Llosa, e pela ex-esposa Patricia. A família destacou a longa e produtiva vida do escritor e expressou o desejo de se despedir em ambiente reservado.

“Esperamos que encontrem consolo, como nós, no fato de que ele gozou de uma vida longa, múltipla e frutífera, e deixa para trás uma obra que o fará sobreviver”, diz a nota assinada pelos filhos.

Con profundo dolor, hacemos público que nuestro padre, Mario Vargas Llosa, ha fallecido hoy en Lima, rodeado de su familia y en paz. @morganavll pic.twitter.com/mkFEanxEjA

— Álvaro Vargas Llosa (@AlvaroVargasLl) April 14, 2025