PL e PT gastam mais do que ‘fundão’ de 21 partidos apenas nas capitais

Nordeste é a segunda região, atrás do Sudeste, com maior investimento, mas Salvador não lidera


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Estadão Conteúdo 03/10/2024 11:52 Eleições 2024
PL e PT gastam mais do que ‘fundão’ de 21 partidos apenas nas capitais -


Os diretórios nacionais do PL e do PT depositaram mais de R$ 217 milhões do fundo eleitoral nas contas de candidatos a prefeito nas capitais. A apenas três dias das eleições, o valor já supera o total de recursos que outros 21 dos 29 partidos brasileiros terão para gastar durante todo o processo eleitoral.

As siglas do ex-presidente Jair Bolsonaro e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, respectivamente, detêm as maiores fatias do Fundo Eleitoral de Financiamento de Campanha, que contabiliza R$ 4,9 bilhões disponíveis para o pleito deste ano.

O psolista Guilherme Boulos recebeu R$ 30 milhões da direção nacional do PT para a disputa em São Paulo. É o candidato que mais ganhou recursos do partido de Lula, que doou até agora R$ 82,7 milhões para suas apostas nas capitais.

Depois de Boulos, aparecem os petistas Rogério Correia, que disputa a prefeitura de Belo Horizonte, com R$ 8 milhões, e Maria do Rosário, candidata em Porto Alegre, com R$ 7 milhões.

Já o principal beneficiado pelo partido de Bolsonaro no Sudeste é Alexandre Ramagem (PL), que disputa a prefeitura do Rio. Ele recebeu R$ 26 milhões do fundo eleitoral até aqui.

O PL já transferiu R$ 134,3 milhões para candidatos de capitais. Além de Ramagem, o investimento tem sido pesado nas campanhas de Ricardo Nunes (MDB), em São Paulo, e de Bruno Engler (PL), em Belo Horizonte, com R$ 17 milhões e R$ 15 milhões doados, respectivamente.

As principais apostas de PL e PT estão no Sudeste, onde candidatos concentram cerca de 50% do valor doado pelos diretórios nacionais das legendas até aqui, segundo dados do sistema DivulgaCandContas até o fim de setembro.

Nordeste atrai segundo maior montante de recursos

Candidaturas nas capitais nordestinas têm atraído a segunda maior quantidade de recursos públicos de PL e PT entre as regiões do País. Salvador, entretanto, não está na lista. Na tentativa de reverter o histórico local mais favorável à esquerda, o diretório do PL doou R$ 34,8 milhões a candidatos para as principais prefeituras.

Mais de um terço desse valor (R$ 13,2 milhões) está concentrado em André Fernandes (PL), na disputa pela prefeitura de Fortaleza. Candidatos do partido em Maceió (JHC), Recife (Gilson Machado) e Aracaju (Emilia Correa) receberam entre R$ 5 milhões e R$ 7 milhões.

Já o diretório nacional do PT, que doou R$ 19,9 milhões para aliados no Nordeste, priorizou até agora repasses para candidaturas em Natal (Natália Bonavides, R$ 6,7 milhões) e também em Fortaleza (Evandro Leitão, R$ 4,3 milhões).

Além das candidaturas nas capitais, os diretórios nacionais dos partidos fazem repasses do “fundão eleitoral” para os escritórios locais nos estados e para postulantes em cidades menores. Só para o diretório estadual mineiro do PT, por exemplo, o valor repassado foi de R$ 29,7 milhões. Para o diretório de Rondônia, o PL doou R$ 6,3 milhões.

Como a maior parte do dinheiro, por lei, deve ser utilizada no primeiro turno, a distribuição dos recursos do fundão é maior nesta primeira fase da disputa eleitoral.

De acordo com os dados do DivulgaCandContas, mais de R$ 524 milhões aparecem como “doações” feitas pelo diretório nacional do PT, que tem R$ 619 milhões para usar ao todo. Na página do PL nacional, constam R$ 871 milhões em doações; o partido tem direito a R$ 886 milhões do fundão.

Em nota à reportagem, o PT defendeu o sistema de distribuição dos recursos do fundo eleitoral. “O mesmo critério foi aplicado em outras legislaturas, outras eleições, outros períodos históricos, resultando em constantes alternâncias na posição relativa das legendas. O financiamento público das eleições e de parte das atividades partidárias, respeitado o critério da representatividade, é uma garantia democrática contra a privatização da política”, afirmou a legenda.

O diretório nacional do PL foi procurado pela reportagem, porém não respondeu até a publicação deste texto.

Desigualdades entre partidos

Para analistas ouvidos pelo Estadão, a disparidade entre cifras dos partidos pode fazer com que siglas com menor poder financeiro acabem tendo de se aglutinar em torno de PL e PT. “O resultado das eleições deste ano vai permitir que o Congresso e os partidos avaliem a eficácia da atual regra do fundo eleitoral”, disse o cientista político José Álvaro Moisés, da USP.

“A democracia não existe sem recursos, mas o problema é que estamos em um país de desigualdades e necessidades de recursos para políticas públicas. Então, a questão é sobre a quantidade alocada pelo Congresso para si mesmo e que acaba sendo usada de forma concentrada por partidos que vão se distanciar muito dos outros”, afirmou Moisés.

Levantamento do Estadão com base em pesquisas recentes de intenção de voto mostra que candidaturas turbinadas pelo diretório nacional do PL têm chances de disputar o segundo turno em 15 capitais.

Além de Nunes em São Paulo e Engler em Belo Horizonte, é o caso de candidatos como Sebastião Melo (MDB), em Porto Alegre, que já recebeu R$ 2,6 milhões do PL, e Beto Pereira (PSDB), de Campo Grande, para quem o partido de Bolsonaro doou R$ 7 milhões.

As chances de segundo turno de candidatos que receberam dinheiro do diretório nacional do PT são reduzidas a sete capitais, segundo as pesquisas mais recentes. Fábio Novo (PT), em Teresina (R$ 3 milhões), e Adriana Accorsi (PT), em Goiânia (R$ 4,9 milhões), aparecem nas pesquisas disputando vaga no segundo turno, assim como Boulos e Maria do Rosário.

Tendências para eleições gerais

“As eleições municipais funcionam para indicar tendências para as eleições gerais”, disse Creomar de Souza, da consultoria Dharma Politics.

“O esforço do bolsonarismo e do lulopetismo para gerar uma transformação no quadro de prefeituras nas capitais tem a ver com a mensagem que se quer passar para 2026, quando haverá disputa pelo Congresso”, avalia.

Para ele, o uso dos recursos mostra “a distorção de um sistema excessivamente baseado em financiamento público e um esforço das lideranças de buscarem mais a sobrevivência dos partidos do que a construção de um ambiente favorável à proposição de políticas públicas para o País”.

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