As estudantes de Medicina envolvidas em uma polêmica nas redes sociais após a publicação de um vídeo comentando o caso de uma paciente que passou por múltiplos transplantes se manifestaram neste fim de semana. Gabrielli Farias de Souza e Thaís Caldeiras Soares Foffano afirmaram que não tiveram a intenção de expor ou desrespeitar a paciente e lamentaram a morte da jovem, que ocorreu dias após a divulgação da gravação.

“Estamos vindo a público para dizer à família que nós realmente sentimos pela perda. E deixar claro que nossa intenção jamais foi expor. A única intenção do vídeo foi demonstrar surpresa por um caso clínico raro que tomamos conhecimento dentro de um ambiente de prática e aprendizagem médica”, disseram as duas alunas.

Identificação no vídeo

As estudantes cursam Medicina em instituições diferentes — Gabrielli na Universidade Anhembi Morumbi, em São Paulo, e Thaís na Faculdade da Saúde e Ecologia Humana (Faseh), em Minas Gerais. Elas também garantem que nenhuma imagem da paciente foi divulgada, tampouco houve identificação explícita no vídeo.

As estudantes negaram que tenham tido contato direto com a paciente ou acesso ao prontuário médico dela. “Nem sabíamos o seu nome completo”, afirmaram.

Apesar da alegação de que o vídeo visava apenas destacar a raridade do caso, o tom utilizado nas falas gerou forte repercussão negativa nas redes sociais. Em um dos trechos mais criticados, uma das estudantes diz: “Ela acha que tem sete vidas?”, em referência à quantidade de procedimentos realizados pela paciente, incluindo três transplantes cardíacos e um de rim.

No vídeo, que já foi deletado após a polêmica, as estudantes comentavam que nunca tinham visto ou ouvido falar de um paciente que tivesse passado por tantos transplantes de coração. Além disso, sugeriram que um dos procedimentos teria falhado por suposta negligência da paciente com a medicação pós-operatória, uma afirmação que não tem comprovação pública.

Paciente morreu dias depois

A paciente citada no vídeo era Vitória Chaves da Silva, de 26 anos, internada no Instituto do Coração (Incor), do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP). Ela sofria de uma cardiopatia congênita e enfrentava uma dura trajetória de tratamentos e procedimentos, incluindo o transplante de coração realizado pela terceira vez, e faleceu dias depois da publicação do vídeo.

A família da jovem, ao tomar conhecimento do conteúdo, registrou um boletim de ocorrência na Delegacia de Polícia e também protocolou denúncia junto ao Ministério Público, que agora acompanha o caso por meio da Promotoria de Justiça de Direitos Humanos da Capital. A investigação ocorre sob a tipificação de injúria e tramita em um inquérito policial em andamento.

Instituições se pronunciam

Em nota, tanto a Faseh quanto a Anhembi Morumbi condenaram o conteúdo da gravação, afirmando que as declarações não refletem os princípios e valores das instituições. As faculdades também informaram que abriram processos internos para apuração dos fatos e que as medidas cabíveis serão tomadas.

A USP, por sua vez, informou que Gabrielli e Thaís não têm vínculo com a instituição, sendo apenas participantes de um curso de curta duração no Hospital das Clínicas. O Incor também esclareceu que as estudantes não estavam envolvidas diretamente no atendimento à paciente e que o caso clínico foi apenas citado em um ambiente de aprendizado supervisionado.

O caso segue gerando repercussão entre profissionais da área da saúde e especialistas em ética médica, que apontam a necessidade de respeito e sigilo diante de histórias clínicas, especialmente em ambientes hospitalares.