Feitos de ACM foram marcantes na ditadura e na democracia, avalia Paulo Fábio Dantas
Em entrevista exclusiva ao Portal M!, cientista político revela motivações para escrever 2º livro sobre trajetória política do ex-senador

O cientista político e professor da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Paulo Fábio Dantas Neto, falou sobre as motivações que o levaram a escrever o segundo livro sobre a trajetória do ex-senador Antonio Carlos Magalhães, conhecido como ACM, influente personalidade política por quatro décadas.
Após publicar a obra Tradição, autocracia e carisma: a política de Antonio Carlos Magalhães na modernização da Bahia (1954-1974), em que narrava a trajetória de ACM até 2006, o estudioso lançou, no último dia 1º de novembro, o livro ACM – Político baiano-nacional, cronologia de um fato consumado. O lançamento mais recente conta a trajetória do chefe político desde o seu início de sua carreira até a sua morte, no dia 20 de junho de 2007, aos 79 anos.
Em entrevista exclusiva ao editor-chefe do Portal M!, Osvaldo Lyra, durante participação no programa SobreTudo, Paulo Fábio Dantas disse que o seu questionamento inicial se deu a partir do seguinte argumento: qual a explicação para a longevidade de ACM?
“Na verdade, ela foi provocada pela seguinte questão: como entender em 97, 98, que um líder estadual, regional, chefe regional do regime autoritário, tenha conseguido, no período democrático, em vez de cair em desgraça, não apenas mais do que sobreviver – ele aumentou de patamar a sua influência nacional e conseguiu reconquistar na Bahia o poder, de uma forma tão sólida que parecia que duraria muito mais tempo até que durou”, afirmou.
‘Regime carlista’
Conforme explicação do cientista político, o chamado carlismo nunca foi um fenômeno de votos, mesmo durante o seu auge, que perdurou nos anos 1990. Segundo Paulo Fábio, ACM nunca ultrapassou, em relação ao eleitorado, um percentual em torno de 33% ou 35% dos votos quando se elegeu na Bahia. Apesar disso, o professor da Ufba aponta que o pesava em favor do líder estadual.
“O que ele [ACM] tinha, na verdade, era, primeiro, um peso eleitoral maior que qualquer um dos outros grupos. Mas o fato é que ele nunca foi um campeão de votos. O carlismo nunca foi hegemônico, eleitoralmente. Havia recursos extra-eleitorais de poder que lhe transmitiam. Ele emanava uma sensação de poder maior do que o poder real que ele tinha no plano eleitoral, mas não só por causa disso”, apontou.
Paulo Fábio cita o conjunto de articulações que o ex-senador era capaz de fazer no regime autoritário – habilidade mantida no período democrático e que, graças a isso, seu espaço de poder não foi afetado com o passar dos anos.
“Uma certa aura de infalibilidade que lhe dava a capacidade de sair de todas as situações. Isso sempre foi explicado assim. Ou pelos seus adversários, [que o definiam] como um sujeito que usou, sem escrúpulo, o chicote na mão, o dinheiro na outra, aquelas coisas. São explicações simples demais para poderem realmente retratar o que acontecia, que era um esquema complexo de poder”, complementou Fábio Dantas.
Visão de ACM
Conhecido por ser ‘mandão’, de acordo com o professor da Ufba, a personalidade de Antonio Carlos Magalhães fazia com que as pessoas o enxergassem de maneira diferente. Porém, para Paulo Fábio, outros métodos do ex-senador foram responsáveis pela sua ascensão política.
“Essa característica espaçosa dele era evidente no período da ditadura. Isso subia e ofuscava a percepção das pessoas, ofuscava esse outro lado a que eu me referi, que se tratava de uma articulação política permanente. Uma costura que envolvia articulação, que envolvia processo de computação, processo de deslizamento, que foram, digamos, métodos que ele não inventou. Ele encontrou uma cultura política no país que dispunha desse repertório e ele usou de uma maneira, digamos assim, eficaz”, disse.
Por fim, o cientista político ainda destacou que um dos motivos que o levaram a escrever o segundo livro sobre ACM foi a intenção de apresentar um olhar crítico sobre a sua atuação política. Além disso, há a presença do repertório estratégico que o líder estadual deixou, mesmo depois da sua decadência.
“Isso também faz com que sucessores seus, adversários ou aliados, possam também usar desses repertórios em vários momentos, muito depois do desaparecimento dele. Por causa dessas características, desses fatos, ele pode ser usado – como é usado nesse livro, como foi usado no livro anterior -, como um personagem, para, através dele, se comentar, analisar e interpretar”, concluiu.
Confira a entrevista com Paulo Fábio Dantas na íntegra:
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