MP-BA realiza audiência pública sobre alteração na canção ‘Caranguejo’ e a honra dos povos de terreiro
Segundo órgão, debate é fundamental para proteção do patrimônio cultural imaterial do país, abrangendo crenças e símbolos religiosos

O Ministério Público da Bahia (MP-BA) realizará, na próxima segunda-feira (27), às 14h, uma audiência pública para discutir o inquérito civil instaurado contra a cantora Claudia Leitte, em razão da alteração na letra da música “Caranguejo”. A iniciativa acontece no auditório da sede do órgão, no bairro Nazaré (na Avenida Joana Angélica).
A mudança substituiu o termo “Yemanjá”, figura das religiões afro-brasileiras, por “Yeshua”, ligado ao cristianismo, e gerou reações por parte de comunidades de terreiro e defensores do patrimônio cultural.
Discussão sobre direitos culturais e intolerância religiosa
Presidida pelos promotores de justiça Lívia Maria Santana, da 1ª Promotoria de Combate ao Racismo e à Intolerância Religiosa, e Alan Cedraz Carneiro, do Núcleo de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural, a audiência abordará os impactos culturais e religiosos da substituição. Segundo o MP-BA, o evento pretende ouvir representantes da sociedade civil, de comunidades afro-brasileiras e de setores público e privado.
A discussão busca promover o diálogo sobre liberdade artística, direitos culturais e respeito às tradições de matriz africana.
Preservação do patrimônio cultural e respeito às tradições
O MP-BA destaca que o debate é fundamental para a proteção do patrimônio cultural imaterial do país, abrangendo crenças e símbolos religiosos. “A presença da sociedade é fundamental para a construção de um diálogo respeitoso e para a promoção de uma reflexão mais ampla sobre os limites da liberdade artística e o respeito aos direitos culturais e religiosos“, afirmaram os promotores em nota.
A audiência também pretende traçar diretrizes que garantam a proteção dos valores e símbolos das religiões de matriz africana, promovendo a dignidade dos povos de terreiro e combatendo ações consideradas ofensivas ao patrimônio cultural brasileiro.
Coautores saem em defesa de Claudia Leitte
Os músicos Luciano Pinto e Alan Moraes, coautores da música “Caranguejo”, defenderam a cantora Claudia Leitte na polêmica envolvendo a modificação da letra da canção. Em carta enviada à coluna Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo, na sexta-feira (17), os artistas rebateram a declaração de outros dois compositores da faixa, que afirmaram não terem sido consultados sobre a substituição do trecho “saudando a rainha Iemanjá” por “eu canto meu rei Yeshua”.
A composição de “Caranguejo” é assinada por Luciano, Alan, Durval Luz e Nino Balla.
“Houve, sim, uma conversa. A artista Claudia Leitte fez uma consulta verbal com todos os compositores e possíveis reclamantes. Ela perguntou, sim, o que achávamos, se podia alterar uma palavra na letra, mudando Iemanjá por Yeshua, e explicou o significado da palavra Yeshua”, afirmaram.
Eles acrescentaram que houve concordância entre os compositores e destacaram o respeito demonstrado pela cantora durante o processo: “Houve ali uma concordância de todos. Ela sempre foi e continua sendo amável, cuidadosa e respeitosa com todos do grupo, músicos, equipe e compositores também”.
Coautor anuncia processo contra artista
Em entrevista ao portal Leo Dias, Durval Luz, outro autor da faixa, afirmou que pretende processar Claudia Leitte por intolerância religiosa. Ele alegou que a cantora não consultou os compositores ou a banda sobre a remoção da referência a Iemanjá, entidade ligada às religiões de matriz africana. Segundo ele, Nino Balla também ingressará no processo.
A versão, no entanto, foi contestada por Luciano Pinto. Ainda em fala à coluna Mônica Bergamo, o músico afirmou ter ficado surpreso com as declarações de seus colegas. Embora não se recorde da data exata, ele disse que a conversa sobre a alteração ocorreu por volta de 2012, antes da gravação do DVD Axemusic, quando a nova versão da música foi incluída.
Anteriormente, em 2004, Claudia gravou “Caranguejo” em sua versão original, quando ainda fazia parte do grupo Babado Novo. A cantora se tornou evangélica há 12 anos, e o termo Rei Yeshua significa Jesus em hebraico.
“Claudia não chegou alterando sem explicar, sem perguntar e sem ter a certeza do ok de todos. Não houve nenhuma ação hostil, ameaçadora ou condicional imposta por ela e, como a relação era de amizade, parceria, não achamos que precisava de um documento assinado ou vídeo gravado sobre esse assunto”, apontaram os músicos na carta.
Daniela Mercury: ‘arte não é religião’
A cantora Daniela Mercury voltou a se pronunciar, na última quarta-feira (15), sobre a recente polêmica envolvendo Claudia Leitte e a substituição da palavra “Iemanjá” na canção Caranguejo. Daniela destacou sua amizade com Claudia e defendeu o direito da colega de tomar as próprias decisões artísticas. Ao mesmo tempo, a rainha abordou questões como liberdade de expressão, intolerância religiosa e o papel da arte na cultura brasileira.
Ao ser questionada sobre o caso, Daniela enfatizou que as manifestações artísticas não devem ser confundidas com práticas religiosas. “Eu tenho uma sensação muito clara de que quando a gente está em cima do palco está fazendo arte, não está levando nenhuma mensagem necessariamente religiosa. Os orixás fazem parte da nossa cultura, como a gente canta o hino do Senhor do Bonfim”, explicou a cantora.
Para a cantora, é importante entender que a arte reflete os símbolos e arquétipos culturais de uma região, mas sem impor dogmas ou crenças. “Vou repetir: arte não é religião. Arte é arte. Quando estamos cantando, estamos expressando a cultura da nossa cidade, não discutindo dogmas ou crises pessoais. Estamos falando de símbolos e arquétipos da nossa cultura. Por isso, não vejo problema em todos cantarem, mesmo que não sigam determinada religião. Um artista está no palco para interpretar, não para pregar”, destacou Daniela.
Redação
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