Geração Z: entenda tendência de trocar smartwatch por relógio analógico
Mercado indica crescimento do estilo tradicional, apesar do impacto da tecnologia
Mesmo com a crescente tendência de usar smartwatches, principalmente pelo fato do relógio digital exercer diversos papéis, além do principal – mostrar a hora -, jovens da chamada Geração Z destacam a preferência no uso dos peças analógicas, com ponteiros. No TikTok, inclusive, os vídeos com a hashtag #relogio já ultrapassam a marca de 100 mil publicações.
Apesar das facilitações tecnológicas, o relógio analógico continua sendo tendência, principalmente no mundo da moda. Outros fatores que levam à preferência pelo modelo tradicional de ver as horas dizem respeito à questões de segurança, em decorrência dos altos índices de roubos e furtos.
A costureira Brenda Falcão, de 29 anos, é uma das que continuam preferindo o modelo tradicional, apesar de destacar a imersão tecnológica dos tempos modernos. Ela, que também é influenciadora e tem uma conta na rede social de vídeos em que faz análises de celulares, já disse que substituiu o seu smartwatch por relógios analógicos.
Em um dos vídeos que dividiu opiniões, como de costume no TikTok, Brenda justificou a preferência por um relógio mais vintage. Outro motivo é o fato de não exigir que a bateria seja recarregada quase todos os dias, algo que lhe proporciona mais tranquilidade no uso.
“Aqui onde eu moro não é tão calmo como em outros lugares. Geralmente, eu costumo olhar a hora no próprio relógio, não no celular. Portanto, eu junto é útil ao agradável: o meu gosto e a situação também do lugar que moramos”, relata a costureira, que mora em Pacajus, no interior do Ceará.
O filmmaker Bernardo Britto, de 29 anos, defende que “smartwatch não é relógio”. O criador de conteúdo tem um canal para falar de relógios e acumula mais de 300 mil seguidores no Instagram, 2 milhões de curtidas no TikTok e quase 60 mil inscritos no YouTube.
Bernardo aponta que utilizar um relógio é muito mais do que apenas “olhar as horas”. “Fico triste quando dizem que relógio é só para dizer a hora, porque não é”. Segundo ele, o uso do item é uma forma de expressão. O filmmaker disse ainda que ganhou seu primeiro relógio da avó, quando tinha 7 anos, o que reforça ainda mais o sentimentalismo com os aparelhos tradicionais.
“Eles começaram a olhar para o relógio como relógio. […] E a ‘galera’ começou a se preocupar um pouco com a personalidade e aparência. Assim como estar bem vestido, usar um relógio legal transmite uma mensagem para quem você está conhecendo”, comentou o criador de conteúdo, ao dizer que os hábitos da Geração Z foram impactados diretamente pelo uso dos smartwatches nos últimos cinco ou dez anos.
Crescimento do estilo tradicional
Apesar das avaliações positivas de integrantes da Geração Z, algumas marcas brasileiras apontam que o público-alvo tem idade entre 30 a 50 anos. Empresas clássicas, como Condor e Champion, porém, dizem que o interesse maior vem de pessoas de 25 a 45 anos.
O cofundador da Statera Watch Co., de relógios mecânicos, Rafael Guimarães, diz ainda que a marca apresentou um crescimento de clientes voltados para o modelo tradicional durante a pandemia. “Observamos que há um crescente interesse de pessoas mais jovens, que estão descobrindo e mergulhando no encantador mundo da relojoaria mecânica como uma forma de expressão”.
“Nos fez lembrar da Crise do Quartzo nos anos 1970, quando a relojoaria tradicional enfrentou uma grande ameaça. […] [Mas] a Crise do Quartzo também evidenciou que a paixão pelos relógios mecânicos ia além da mera funcionalidade. Os relógios mecânicos resistiram porque são uma expressão de arte, tradição e ‘savoir-faire’ (saber-fazer) que os relógios a quartzo ou digitais não conseguem replicar”, complementou o empresário.
Edmundo Nascimento, head de Growth da Champion, também aponta que, no início, os revendedores de relógios temiam por uma redução da demanda com o uso dos celulares. Fato este que não aconteceu, já que o item apresentou um crescimento entre os itens de moda. “O relógio vem crescendo ano a ano”.
Estilos ‘Old Money’ e ‘Vovôcore’
Outro fato relacionado à preferência da Geração Z em aderir os relógios analógicos diz respeito a uma nova tendência. A consultora de moda Thamyris Curado, de 34 anos, formada em jornalismo, ainda aponta que os relógios “nunca estiveram em baixa” e que “são itens clássicos”.
Ela ainda citou o “Old Money”, tendência de moda muito comentada nas redes sociais que busca o tradicionalismo, com roupas lisas que “fogem daquilo que não é considerado elegante”. Outra tendência do mercado é o “Vovôcore”, que dá preferência a estilos “vintage”.
Em 2023, o “Vovôcore” apareceu no Pinterest Predicts, relatório do aplicativo que prevê as maiores tendências para o ano seguinte. Além disso, a rede social destacou que a busca pelo “Estilo Vovô” cresceu em 60% neste ano.
“Quando eu trago um relógio analógico, eu estou comunicando uma coisa. Quando eu trago um relógio esportivo, voltado para o digital, eu estou comunicando outra. Relógio digital é só na academia”, concluiu a especialista em moda, ao dizer que os smartwatches não são “estéticos”.
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