‘Motosserra afiada’ em Cajazeiras: crítica à obra de Jerônimo inclui apelo a Caetano Veloso

O líder da bancada governista na Câmara de Salvador, vereador Kiki Bispo (União Brasil), levantou questionamentos, na sessão desta última segunda-feira (31), sobre os impactos ambientais gerados pelas obras de construção da ligação da Avenida 29 de Março ao bairro de Cajazeiras, conduzidas pelo Governo do Estado. Segundo o parlamentar, a execução do projeto tem resultado na remoção de um grande número de árvores, o que estaria provocando danos ao meio ambiente e alterando significativamente a paisagem da região.

Em discurso no plenário da CMS, Kiki aproveitou a oportunidade para criticar o que considera uma postura contraditória de apoiadores do governador Jerônimo Rodrigues (PT). Ele destacou que, na época das obras do BRT na capital baiana, muitos grupos e figuras políticas se manifestaram contra a supressão de vegetação e outros impactos urbanos, mas, segundo ele, agora silenciam diante das intervenções promovidas pelo Estado.

Impacto ambiental em Cajazeiras

A fala de Kiki ocorreu em apoio ao vereador Claudio Tinoco (União Brasil), que também fez críticas ao governo estadual, apontando os danos ambientais gerados por outras intervenções. Entre elas estariam a canalização de rios e a remoção de vegetação no Subúrbio Ferroviário, em razão das obras do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) e da duplicação da Estrada do Derba.

“Quero me associar à vossa excelência e dizer que todo desenvolvimento é bem-vindo, mas as máquinas estão cantando no centro lá em Cajazeiras. Para a via nova, se derrubou milhares de árvores, mas eu não vejo nenhum representante nesta Casa propondo abraçaço ou qualquer coisa semelhante. Não vejo nenhum ambientalista. Ora, é porque é no Subúrbio, é porque é em Cajazeiras que não vão lá defender o meio ambiente? Será que a causa é essa?”, ironizou Kiki.

Segundo o líder governista, a supressão de vegetação precisa ser tratada de forma equânime, independentemente de quais gestões públicas estejam conduzindo as obras. Ele defendeu que a responsabilidade ambiental deve ser um compromisso de todas as instâncias de governo, sem seletividade nos discursos ou mobilizações.

Pedido de apoio a Caetano Veloso

Em sua crítica, o vereador também convocou o cantor e compositor Caetano Veloso a se manifestar sobre a situação. Ele lembrou que o artista foi um dos principais críticos das intervenções promovidas pela Prefeitura de Salvador na implantação do BRT, em 2018.

“Eu tenho certeza que quem vai nos ajudar é o cantor Caetano Veloso. Eu vi a crítica dele ao BRT e tenho certeza que ele, como bom defensor do meio ambiente, vai se associar à nossa fala”.

“Porque quem passa hoje na 26 de Março vai ver lá um deserto, que está a céu aberto para quem quiser ver. As máquinas estão lá funcionando, derrubando árvore. A motosserra está afiada e não se vê uma voz se levantando para defender o povo de Cajazeiras”, completou Kiki.

A presença de Caetano Veloso em manifestações ambientais já ocorreu em outras ocasiões. Em 2021, por exemplo, o artista participou de atos contra o projeto de Lei que flexibilizaria a legislação ambiental no Congresso Nacional. Kiki aposta que o cantor possa se mobilizar também em relação à situação em Cajazeiras.

Denúncia de racismo ambiental

Além da questão ambiental, Kiki Bispo denunciou a situação dos “penicões” existentes em Cajazeiras. Segundo ele, são sete reservatórios de esgoto a céu aberto que comprometem a qualidade de vida da população local.

“Espero que o governador tenha passado pelos penicões lá de Cajazeiras, são sete a céu aberto. É um presente que a Embasa dá aos moradores de Cajazeiras. Espero que ele, de fato, venha a tomar providências, porque ali se trata de racismo ambiental”, concluiu o vereador.

A expressão “racismo ambiental” tem sido usada para descrever situações em que comunidades de baixa renda, majoritariamente negras, são desproporcionalmente afetadas por problemas ambientais, como a falta de saneamento, a poluição e a remoção de vegetação. Até o momento, o governador e vereadores de sua bancada na CMS ainda não se pronunciaram sobre as críticas do líder da base do prefeito Bruno Reis (União Brasil).