A culpa é sempre do outro ou você tem medo do espelho?

Como seria se, ao invés de culpar, você olhasse para si mesmo e encontrasse o poder de transformar sua dor?


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Sergio Manzione 15/02/2025 08:30 Artigos
A culpa é sempre do outro ou você tem medo do espelho? - Divulgação

Relacionamentos terminam, mas nem sempre acabam. Algumas pessoas passam anos presas ao fantasma de um casamento que já desmoronou, repetindo a mesma história: “foi ele (ou ela) que destruiu tudo.” Nada do que fizeram ou deixaram de fazer parece ter impacto. O outro deveria ter lutado mais, entendido melhor, feito diferente, mas e você? Onde estava nessa história?

Um dos personagens da peça de teatro “Entre Quatro Paredes”, de Jean-Paul Sartre, diz que “o inferno são os outros”, e às vezes, é exatamente assim que nos sentimos. O outro nos machuca, nos decepciona, não nos dá o que precisamos. Mas será que esse inferno não é, na verdade, a nossa própria incapacidade de nos vermos com clareza? Se tudo sempre foi culpa do outro, quem você se tornou?

O mito da isenção: quando você só observa a relação

Existe um padrão comum em muitas separações: uma pessoa se coloca no papel de vítima absoluta, enquanto o outro vira o vilão da história. “Eu fiz tudo certo, mas ele (ou ela) estragou tudo.” Pode até ser que o outro tenha errado feio, mas acreditar que você não teve nenhuma participação na dinâmica que levou ao fim é, no mínimo, um pensamento ilusório.

E pior: esse tipo de narrativa aprisiona. Quando você se convence de que não tem nada a aprender com o que aconteceu, a única coisa que resta é a mágoa. E mágoa não constrói nada – só mantém você estagnado(a).

Por que é sempre o outro que estragou tudo?

Essa forma de pensar pode ser sustentada por vários mecanismos psicológicos, que funcionam como armadilhas internas:

  • 1. Projeção: o que você não quer ver em si mesmo

        Sigmund Freud chamava de projeção o hábito inconsciente de atribuir aos outros aquilo que não conseguimos enxergar (ou aceitar) em nós mesmos. Se é doloroso admitir que fomos egoístas, controladores ou indiferentes em certos momentos, é mais fácil acreditar que tudo isso veio apenas do outro. E, para explicar as situações dolorosas que vivo, posso criar várias hipóteses dos fatos até eu achar uma que me convença, mesmo que ela não exista, o que pode me levar a experimentar a distorção da realidade causada pela paranoia.

        Se você acha que o problema sempre esteve no outro, vale se perguntar: o que nessa história me incomoda tanto? Será que, de alguma forma, isso também diz algo sobre mim?

        • 2. Pensamento preto no branco: vilão e vítima

        Aaron Beck descreveu o “pensamento dicotômico” como uma das maiores armadilhas da mente. Ele faz com que a gente veja tudo de forma extremista: certo ou errado, bom ou ruim, vítima ou culpado. Se você se encaixou na posição da vítima, quem está do outro lado automaticamente vira o grande responsável por tudo que deu errado.

        No entanto, as relações humanas não funcionam assim. As coisas não são tão simples. Talvez o outro tenha errado bastante, mas será que você não teve pequenos gestos de negligência? Será que não evitou conversas importantes? Será que não empurrou conflitos para debaixo do tapete? Será que deixou de se atualizar com as referências do mundo? Se negar a olhar para isso significa perder uma oportunidade gigantesca de crescimento.

        • 3. A necessidade de controle: culpar o outro para não encarar o vazio

        Existe um paradoxo interessante em culpar o outro: mesmo que pareça uma forma de se libertar da relação, muitas vezes é o oposto. Ficar preso ao ressentimento mantém você conectado(a) ao passado.

          Isso acontece porque, ao jogar toda a responsabilidade sobre o outro, você também entrega seu poder pessoal. Se foi ele (ou ela) que destruiu tudo, então ele (ou ela) deveria consertar. E se a pessoa faz todo o possível, mas nunca é suficiente? E se já tiver seguido em frente? E se já se cansou de tentar e desistiu? O que sobra para você? Sobra o vazio. A necessidade de reconstruir algo novo sem ninguém para culpar. E isso dá medo.

          • 4. O narcisismo da dor: quando o sofrimento vira identidade

          Heinz Kohut, criador da escola psicanalítica da Psicologia do Self, estudou o “narcisismo vulnerável”, que é diferente daquele narcisismo grandioso, que normalmente imaginamos. Aqui, a pessoa não se acha a melhor do mundo, mas sim a mais ferida. O centro da identidade passa a ser o sofrimento.

            Se culpar o outro pelo fracasso da relação virou parte da sua história, a pergunta que precisa ser feita é: o que acontece comigo se eu soltar essa dor? Quem eu sou sem essa narrativa?

            Como sair dessa armadilha?

            Se você percebe que caiu nesse ciclo, a boa notícia é que existe uma saída, mas ela exige coragem.

            • 1. Abrace a autorresponsabilidade (sem autoculpa)

            Assumir seu papel nos acontecimentos não significa se martirizar ou perdoar o outro automaticamente. Significa apenas reconhecer que você também fez escolhas ao longo do caminho – algumas boas, outras ruins. Essa consciência liberta. Pergunte-se: o que eu poderia ter feito diferente? Que sinais eu ignorei? Onde me omiti? Isso não muda o passado, mas muda completamente o futuro.

            • 2. Pare de contar a mesma história

            Se toda vez que você fala sobre o relacionamento, a narrativa é sempre a mesma – e sempre termina com o outro como culpado –, talvez seja hora de questionar essa versão. O que você não está contando para si mesmo? O que sua história esconde? Mude a pergunta: o que aprendi com essa relação? O que posso levar para o futuro?

            • 3. Perdoe

            Para perdoar é preciso entender o contexto em que as coisas ocorreram, incluindo você na história. O que estava acontecendo com a outra pessoa? Como ela fazia de um jeito e, de repente, fez coisas diferentes? Por que o outro não pode se arrepender e mudar? Se eu não acredito que as pessoas mudam, também acredito que não posso mudar. Lembre-se de que ninguém é perfeito, nem você! Por isso, perdoe a si mesmo(a) também!

            • 4. Ocupe seu espaço no presente

            Se sua atenção ainda está voltada para o que o outro fez ou deixou de fazer, significa que seu presente está sendo roubado pelo passado. Onde está sua energia agora? O que você quer construir? Se a resposta ainda for “esperar que o outro reconheça seus erros”, cuidado: você pode estar preso a uma ilusão. A verdadeira reparação vem de dentro. Então, faça o certo, o que não é, necessariamente, o que você tem certeza de que é o certo.

            • 5. Procure ajuda profissional

            Se essa dor parece grande demais para carregar sozinho(a), ou se você não consegue respostas para as perguntas que faz, buscar terapia pode ser um passo transformador. Às vezes, precisamos de um espelho externo para enxergar aquilo que sozinhos não conseguimos ver.

            O Inferno são os Outros… ou será que é o reflexo que você evita?

            Culpar o outro pode trazer um alívio momentâneo, mas no final das contas, só te mantém parado(a). O verdadeiro crescimento acontece quando você decide olhar para dentro – e encontra ali não só as feridas, mas também a possibilidade de recomeço. Lembre-se do que disse o filósofo alemão Friedrich Nietzsche: “As convicções são inimigas mais perigosas da verdade do que as mentiras”. Tente ver as coisas e pessoas de outras perspectivas para que, assim, sua opinião não seja só um “achismo”.

            O inferno são os outros? Ou será que o inferno é se recusar a ver sua própria história de um jeito diferente?

            *Sergio Manzione é psicólogo clínico, administrador, podcaster, colunista sobre comportamento humano e psicologia no Portal Muita Informação!, e escreveu o livro “Viva Sem Ansiedade – oito caminhos para uma vida feliz”. @psicomanzione

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