Relembre ‘barracos’ em debates de outras eleições
A recente ‘cadeirada’ de Datena em Marçal, em São Paulo, é apenas o exemplo mais recente
Além de checar as propostas dos candidatos, muitos eleitores assistem aos debates para acompanhar de perto os frequentes embates travados pelos participantes mais exaltados e explosivos. A recente ‘cadeirada’ de José Luiz Datena contra Pablo Marçal, em São Paulo, é apenas o exemplo mais recente – e um dos mais radicais.
A maioria dos debates organizados pela mídia não chega ao extremo da ‘cadeirada’ ou da troca de socos, mas a história das eleições no Brasil têm diversos registros de tensão e tom agressivo entre concorrentes.
Em 1982, por exemplo, o debate entre candidatos que disputavam o governo de São Paulo foi marcado pela tensão entre o ex-presidente Jânio Quadros (PTB) e Franco Montoro (PMDB). O peemedebista usou uma citação do ex-ministro da Fazenda do adversário, Clemente Mariani, que teria dito que foi obrigado a fazer emissões (de dinheiro) após a renúncia de Quadros, o que saiu “mais caro do que a construção de Brasília”, insinuando que o petebista era corrupto.
Montoro pediu para que o ex-presidente refutasse ou negasse a afirmação, ao que Quadros respondeu: “Eu não posso refutá-la nem negá-la. Onde se encontra escrita essa informação?”. Montoro pegou o livro Depoimento, de Carlos Lacerda, e apontou a página sob risos.
Com ironia, Jânio Quadros respondeu: “Está dispensado porque o senhor acaba de querer citar as Escrituras, valendo-se de Asmodeu ou de Satanás. Não quero ouvi-la”.
O bom humor, no entanto, se transformou em bate-boca. Montoro tentou ler os trechos enquanto o ex-presidente gritava que não queria ouvir. O mediador Joelmir Beting precisou intervir e dar a palavra para Quadros, que pediu: “O tempo é meu, e o senhor por obséquio não me mande calar a boca, guarde o seu Carlos Lacerda e durma com ele, que deve fazer-lhe bom calor”.
‘Baixaria’ e gritaria no debate eleitoral
Outros dois famosos personagens da política nacional, Paulo Maluf (PDS) e Leonel Brizola (PDT), protagonizaram uma das maiores brigas da história no primeiro debate presidencial após a ditadura militar, em 1989.
Maluf iniciou dizendo que não havia ido ao debate para “assistir baixaria” e, portanto, os candidatos eram obrigados a ter estabilidade emocional. “Quem é desequilibrado não pode ser candidato a presidente da República”, afirmou. Brizola interrompeu pedindo aparte, o que deu início à gritaria entre os dois postulantes.
O pedetista então se referiu a Maluf como um “filhote da ditadura” que não tinha coragem de defender seus “chefes”. O adversário retrucou chamando-o de desequilibrado e acrescentando que Brizola havia passado 15 anos fora do Brasil “e não aprendeu nada”, se referindo ao tempo que o postulante esteve exilado durante o período da ditadura militar.
Já o embate entre os então candidatos Paulo Maluf e Mário Covas foi intenso na disputa pelo governo de São Paulo em 1998. O encontro teve insultos das duas partes. Maluf chamou Covas de ignorante, caloteiro e disse que o adversário não estava aprendendo nada na vida.
Covas rebateu afirmando que a história do adversário era de baixo nível. Em outro momento, Covas questionou Maluf sobre uma fala em que dizia ser “mais honesto que Jesus Cristo”. “O senhor pensa que está acima de Jesus Cristo, o senhor pensa que é Deus, o senhor não se põe no seu lugar”, afirmou o candidato.
‘Fica quietinha’
Nas eleições de 2000 para escolha do prefeito de São Paulo, o debate entre os candidatos também foi regado a bate-bocas, começando por Marta Suplicy (PT) e Paulo Maluf (PDS). O candidato acusou Marta de ser “administrativamente desqualificada” e foi interrompido pela adversária, que gritava “Eu não vou ficar ouvindo isso”. Depois do mediador interferir, Maluf deu continuidade às críticas sobre o comportamento da petista.
“A senhora já foi condenada, por ter me insultado, e vou novamente te processar, porque a senhora vai ter que tomar jeito. A senhora fica quietinha e pare de dar palpite”, disse. “Cala a boca, Maluf”, gritou a petista.
Os embates mais recentes também colecionam desentendimentos entre os postulantes, como é o caso da discussão entre os candidatos à Presidência da República em 2014, Aécio Neves (PSDB) e Luciana Genro (PSOL). Ela acusou o adversário de não ter “conexão com a realidade”.
“Você que anda de jatinho, que ganha um alto salário, não conhece a realidade do povo, vocês do PSDB zombam do povo que anda de ônibus lotado, metrô lotado, vive de salário mínimo”, criticou Luciana, que completou chamando Aécio de “fanático da privatização e da corrupção”. O tucano respondeu pedindo para que ela não fosse “leviana”.
Fernando Collor teve discussão acalorada em um embate com Rodrigo Cunha durante as eleições para o governo de Alagoas em 2022. Collor pediu para que o senador explicasse porque havia indicado a namorada para um cargo na secretaria da prefeitura de Maceió, confrontando uma fala do adversário sobre escolher pessoas para os postos de acordo com a capacidade técnica. O senador se levantou, interrompendo Collor, que gritava repetidamente: “Morda os seus beiços, morda os seus beiços!”.
‘Candidato padre’
Um dos debates presidenciais de 2022 também teve momentos de desentendimentos e até de uma certa hilaridade. Então candidata pelo União Brasil, a senadora Soraya Thronicke começou o embate trocando o nome do padre Kelmon, que concorria pelo PTB. “Padre Kelson. Kelvin? Candidato padre”, ironizou.
No meio de uma resposta, o chamou de “padre de festa junina”. O candidato do PTB se desentendeu também com o atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O petista foi interrompido em sua fala pelo petebista e reclamou: “Não dá para debater com uma pessoa que tem o comportamento de um fariseu e se diz padre”.
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