PF prorroga investigações do 8/1 até janeiro de 2025
Operação Lesa Pátria vai ser apurada pela corporação
A Polícia Federal prorrogou, até janeiro de 2025, as investigações da Operação Lesa Pátria, apuração permanente sobre os atos golpistas de 8 de janeiro de 2023. A corporação já abriu 28 fases da operação, a mais recente delas no último dia 20, no rastro de financiadores do 8 de Janeiro e de bloqueios em rodovias após as eleições de 2022.
Quando as primeiras etapas da Operação foram abertas o foco principal era localizar e prender os executores dos atos de vandalismo na Praça dos Três Poderes. Pelo menos 97 investigados ou já condenados estão presos, entre eles Antônio Cláudio Alves Ferreira, acusado de jogar ao chão o relógio de D João VI no Palácio do Planalto. Na semana passada, Ferreira foi sentenciado a 17 anos de prisão, a pena padrão do Supremo Tribunal Federal para os radicais.
As fases mais recentes da investigação miram os financiadores e incitadores, entre eles os empresários de Santa Catarina Horst Bremer Junior e Lilian Bremer Vogelbacher, diretores do grupo Bremer.
No final de maio, a Procuradoria-Geral da República denunciou Horst, Lilian e outros sete suspeitos de ligação com os bloqueios de rodovias após as eleições de 2022. O Estadão busca contato com a defesa dos empresários.
Em janeiro, um ano após a invasão e depredação das dependências do Planalto, Congresso e Supremo Tribunal Federal, a Polícia Federal divulgou resultados da Lesa Pátria – 97 mandados de prisão preventiva cumpridos, 313 buscas realizadas e R$ 11,6 milhões em bens apreendidos. O balanço levou em consideração as 22 primeiras fases da ofensiva.
A ofensiva apura supostos crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado, associação criminosa, incitação ao crime, destruição e deterioração ou inutilização de bem especialmente protegido.
Relembre as fases da Operação Lesa Pátria
1ª fase: aberta em 20 de janeiro, com a prisão de cinco suspeitos de participação, incitação e financiamento nos atos golpistas, entre eles ‘Ramiro dos Caminhoneiros’, Randolfo Antonio Dias, Renan Silva Sena e Soraia Baccio.
2ª etapa: aberta em 23 de janeiro, com a prisão de Antônio Cláudio Alves Ferreira, filmado destruindo um relógio histórico no Palácio do Planalto.
3ª etapa: aberta em 27 de janeiro, com a prisão de cinco investigados, entre elas Maria de Fátima Mendonça, de 67 anos, que viralizou ao dizer em um vídeo que ia ‘pegar o Xandão’.
4ª etapa: aberta em 3 de fevereiro, com a prisão de Márcio Furacão, que se filmou ao participar da invasão ao Palácio do Planalto, e o sargento da Polícia Militar William Ferreira da Silva, conhecido como ‘Homem do Tempo’, que fez vídeos subindo a rampa do Congresso Nacional e dentro do STF.
5ª etapa: aberta em 7 de fevereiro, com a prisão de quatro oficiais da Polícia Militar do Distrito Federal foram presos suspeitos de convivência com os bolsonaristas radicais que invadiram os prédios do Planalto, Congresso e STF – entre eles o coronel Jorge Eduardo Naime Barreto, que era chefe do Departamento Operacional da corporação, setor responsável pelo planejamento da operação de segurança para o 8 de janeiro.
6ª etapa: aberta no dia 14 de fevereiro, com a prisão preventiva de seis radicais, e cumprimento de ordens de busca de 13 endereços de Goiás, Minas Gerais, Paraná, Sergipe e São Paulo.
7ª etapa: aberta no dia 7 de março, com a prisão de três radicais: Edmar Miguel, o ‘Miguel da Laranja’ que se filmou subindo no teto do Congresso nacional durante a ofensiva antidemocrática; Kennedy de Oliveira Alves, que fez um vídeo enquanto invadia o prédio do Supremo Tribunal Federal; e a Aline Cristina Monteiro Roque, que também se gravou invadindo a Praça dos Três Poderes durante os atos golpistas.
8ª etapa: aberta em 17 de março, com o maior número de mandados – ao todo, 32 investigados tiveram prisão decretada. A PF prendeu golpistas como a mulher responsável por pichar a estátua da Justiça em frente ao Supremo Tribunal Federal com a frase ‘perdeu, mané’ e o homem que teria levado uma bola autografada pelo jogador Neymar da Câmara dos Deputados.
9ª etapa: Aberta no dia 23 de março, com a prisão de Claudio Mendes dos Santos, major da Polícia Militar do Distrito Federal da reserva suspeito de incitar os atos golpistas e de administrar recursos que financiaram ações antidemocráticas. Ele teria ensinado táticas de guerrilha para os bolsonaristas acampados em frente ao QG do Exército, em Brasília.
10ª etapa: aberta no dia 18 de abril, com a prisão de 13 pessoas, entre eles o tenente-coronel da reserva da Aeronáutica Euro Brasílico Vieira Magalhães; a professora Claudebir Beatriz da Silva Campos, suplente do PL na Assembleia Legislativa do Pará; e o empresário Leandro Muniz Ribeiro, que se candidatou a uma vaga na Assembleia Legislativa de Goiás pelo Democracia Cristã nas eleições 2022.
11ª etapa: aberta no dia 11 de maio, na mira de empresários, produtores rurais e pessoas com registro de Colecionadores, Atiradores e Caçadores (CACs) que teriam financiado os atos golpistas. Durante as diligências, os investigadores apreenderam armas na casa de um só alvo, em Mato Grosso do Sul, e o equivalente a R$ 704 mil na residência de outro alvo, em Bauru.
12ª etapa: aberta no dia 23 de maio, na mira de investigados por suposta ‘omissão’ ante o 8 de janeiro. Um dos alvos foi o major Flávio Silvestre de Alencar, que já havia sido preso na 5ª etapa da Operação.
13ª etapa: aberta em 27 de junho, na mira do empresário Milton de Oliveira Júnior, que afirmou, em uma rádio: “Eu ajudei patriotas a irem para Brasília fazer protestos contra um governo ilegítimo. Eu não tenho medo da Justiça. Eu contribui. Mando os recibos do pix. Está lá, com o número do CPF”.
14ª etapa: Aberta no dia 14 de agosto, para prender dez investigados – entre influenciadores, um pastor e uma cantora gospel – por fomento aos atos de 8 de janeiro. A ofensiva mirou supostos incitadores da ‘Festa da Selma’, codinome usado para se referir à intentona que deixou um rastro de destruição na Praça dos Três Poderes.
15ª etapa: aberta no dia 29 de agosto, para vasculhar dois endereços do deputado estadual de Goiás Amauri Ribeiro (União Brasil) que, em sessão da Casa Legislativa em junho, afirmou ter ‘ajudado a bancar’ acampamento golpista montado em frente a quartel do Exército.
16ª etapa: aberta no dia 5 de setembro para vasculhar 53 endereços em sete Estados. Foram bloqueados bens, ativos e valores dos investigados, em até R$ 40 milhões.
17ª etapa: aberta em 27 de setembro, mirou três investigados – Aildo Francisco Lima, que fez uma live sentado na cadeira do ministro Alexandre de Moraes; Basília Batista, que teria invadido o Congresso; e a advogada Margarida Marinalva de Jesus Brito.
18ª etapa: A PF fez buscas na casa do general da reserva do Exército Ridauto Lúcio Fernandes, ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde no governo Bolsonaro, que participou dos atos do dia 8.
19ª etapa: A 19.ª etapa da investigação fez novas buscas em endereço ligado a Léo Índio. Os policiais federais ainda tentaram prender preventivamente cinco suspeitos.
20ª etapa: O desdobramento mais recente da investigação envolveu a prisão de um homem que teria gravado vídeos durante a invasão do Palácio do Planalto e incentivado outros a “participarem do ataque às instituições” nos atos de 8 de janeiro.
21ª etapa: PF foi às ruas para vasculhar sete endereços e cumprir mandado de prisão preventiva contra um suposto incitador dos atos golpistas.
22ª etapa: Agentes saíram às ruas para cumprir três ordens de prisão preventiva e vasculhar 25 endereços em Santa Catarina e Minas Gerais no rastro de supostos financiadores dos atos de 8 de janeiro.
23ª etapa: Aberta simbolicamente no dia 8 de janeiro deste ano, a 23ª fase divulgou o balanço das ações da PF, indicando que 97 suspeitos foram presos na Operação. Agentes cumpriram 46 mandados de busca e apreensão e uma ordem de prisão preventiva. Depois, em um complemento, a PF vasculhou três endereços de Barueri, na Grande São Paulo, no rastro de suspeitos de planejar, financiar e incitar os atos de 8 de janeiro.
24ª etapa: Operação que fez buscas contra o deputado Carlos Jordy (PL/RJ), primeiro parlamentar federal a entrar na mira da Polícia Federal na Operação Lesa Pátria. As buscas contra o deputado foram motivadas por mensagens interceptadas trocadas com uma liderança de extrema-direita, responsável por organizar bloqueios de estradas após as eleições 2022.
25ª etapa: PF prendeu três supostos financiadores e fomentadores do 8 de janeiro, entre eles Joveci Xavier de Andrade e Adauto Lúcio de Mesquita, sócios da rede de supermercados Melhor Atacadista. Além deles, foi capturado o empresário Diogo Arthur Galvão, que trabalha em uma empresa do ramo de madeira e transmitiu ao vivo o ato golpista em Brasília, publicando imagens dentro dos prédios públicos invadidos no 8 de janeiro
26ª etapa: Etapa que vasculhou 18 endereços de investigados por financiar, fomentar e promover os atos golpistas. Um dos alvos foi um publicitário, investigado por ter arrecadado dinheiro por meio de financiamento coletivo on-line para os atos.
27ª etapa: Investigadores cumpriram 18 mandados de busca e apreensão e dois de monitoramento eletrônico.
28ª etapa: Etapa que mirou empresários que não só financiaram a intentona antidemocrática, mas também teriam ligação com o bloqueio de estradas após a vitória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições 2022. Foram alvo dois empresários de Santa Catarina – Horst Bremer Junior e Lilian Bremer Vogelbacher, diretores do grupo Bremer. No final de maio, a Procuradoria-Geral da República denunciou eles e e outros sete suspeitos de ligação com os bloqueios de rodovias após o segundo turno do pleito de 2022
COM A PALAVRA, A DEFESA
Até a publicação deste texto, a reportagem do Estadão buscou contato com a defesa de Antônio Cláudio Alves Ferreira e dos empresários Horst Bremer Junior e Lilian Bremer Vogelbacher, mas sem sucesso. O espaço segue aberto.
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