Reposição hormonal e câncer de mama: riscos, benefícios e o alerta do Outubro Rosa
Especialistas ressaltam que mulheres devem fazer avaliação médica antes de iniciar o tratamento
A vida da mulher é marcada por transformações e transições, e uma das mais significativas ocorre durante o climatério e a menopausa. Após décadas de estudos, especialistas hoje reconhecem que a reposição hormonal pode trazer mais benefícios do que riscos à saúde feminina nesta fase.
O estudo ‘The Women’s Health Initiative (WHI)’, publicado em 2017, durou cerca de 18 anos e analisou a relação do uso da terapia hormonal e a mortalidade, sobretudo por câncer e doenças cardiovasculares. Considerada por especialistas como a mais completa pesquisa até o momento, os resultados mostraram que não houve aumento de mortalidade por câncer e doenças cardiovasculares.
De acordo com dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca), o tumor de mama é responsável por 28,1% dos casos de câncer em mulheres no Brasil. Isso representa uma taxa de incidência de 66,54 casos a cada 100 mil mulheres. Essa prevalência é resultado de uma combinação de fatores, incluindo genética, estilo de vida e acesso a serviços de saúde.
O que é o câncer mamário
A maioria dos tumores de mama é hormônio-dependente, ou seja, crescem e se desenvolvem em resposta à presença de certos hormônios no organismo, que podem estimular o crescimento e a proliferação das células cancerígenas.
“É na presença do estrógeno que a neoplasia pode se desenvolver. O câncer de mama, na maioria das neoplasias malignas de mama, tem receptores de estrógeno na membrana celular. E na presença do estrógeno, essa neoplasia pode crescer”, explica o médico Alberto Nogueira, do Centro de Oncologia da Bahia e coordenador de Oncologia Clínica do Hospital Aristides Maltez (HAM), referência no tratamento oncológico 100% SUS na Bahia.
Ele frisa que, de fato, existe relação entre a reposição hormonal e o câncer de mama. Entretanto, a baixa dos níveis de hormônios da mulher na fase pós-menopausa trazem fatores como osteoporose, redução do libido e perda da qualidade de vida.
“Portanto, a reposição hormonal é um ponto importante para a mulher na qualidade de vida dela e precisa ser feita com segurança. Não é contraindicar a reposição hormonal, mas fazer de forma segura”, frisa Alberto.
O oncologista ressalta que, antes de iniciar a reposição, é preciso avaliar a mamografia, o ultrassom das mamas, a história genética do câncer de mama na família da paciente e, com base nessas questões, verificar se é possível indicar o tratamento.
Alberto Nogueira alerta, no entanto, que o processo deve ser realizado com profissionais e a automedicação jamais deve ser adotada. “O profissional que acompanha deve avaliar e, com base em critérios, ele vai indicar ou não a reposição. Não existe uma contraindicação de não fazer, mas fazer sem critério e a automedicação, nunca”.
A reposição hormonal realizada de forma indiscriminada aumenta o risco de câncer de mama. Os estudos já produzidos, que mostraram essa relação de maior risco, utilizavam uma dosagem que não é a mais indicada hoje em dia, segundo explica Renata Cangussu, médica da Oncologia D’Or/Rede D’Or.
“Houve um pequeno aumento do risco de câncer de mama, sim, principalmente para as mulheres que faziam reposição por mais de cinco anos. Então, existem alguns aspectos a serem considerados: qual combinação está sendo feita? Durante quanto tempo essa mulher vai fazer essa reposição? E, principalmente, é importante observar quem é a mulher que vai ser candidata a fazer essa reposição hormonal”, pontua.
Renata reforça que o uso prolongado ou indiscriminado da reposição hormonal, aumenta o risco de câncer de mama. Sem estar na perimenopausa, muitas mulheres já estão fazendo uso de hormônios. “É muito possível que o uso prolongado dessas hormônios cause também aumento de risco, mas a gente não tem evidências de segurança com relação ao uso dessa manipulação hormonal também”, pontua a especialista.
“Apesar das mulheres terem medo [da reposição hormonal], digo que deveriam ter mais medo de estarem sedentárias, pois quando coloca na balança, o risco é muito maior. No entanto, elas acabam não tendo a consciência de que precisam mudar”, orienta Renata.
Risco pequeno, mas não inexistente
Ginecologista e mastologista do Centro Médico Ondina e do Hospital São Rafael, Maria da Graça Andrade Azaro aponta que não é possível indicar ou contraindicar o tratamento antes de conhecer o perfil da mulher.
“Tem mulheres que já têm um fator de risco aumentado por câncer de mama, seja da parte hereditária, familiar, ou seja pelo estilo de vida inadequado. Por exemplo, mulheres que estão obesas, acima do peso, sedentárias, com risco maior por conta dessa parte genética, ou que já tiveram alguma lesão na mama que foi comprovadamente precursora. Essas mulheres têm que ter uma atenção maior e individualizadas para poder se pesar risco e benefício no uso da reposição”, explica.
Maria da Graça aponta que manter um estilo de vida saudável reduz em até 40% o risco de câncer de mama. “Às vezes, um estilo de vida inadequado vai impactar muito maior risco, mesmo para aquela mulher que não usou [a reposição]. Eu digo sempre às minhas pacientes: ‘Para fazer uma reposição, você precisa merecer. Então, você tem que primeiro voltar para o seu autocuidado, estar empenhada na boa qualidade de vida, no estilo de vida saudável, você tem que se beneficiar mais da reposição e não aumentar o seu risco”, pontua.
Automedicação nem com analgésico
Maria da Graça reforça que a reposição deve ser individualizada: “Automedicação sem uma avaliação não deve ser feita nem com analgésico comum. E para reposição, jamais. A gente sempre diz ‘porque a minha amiga estava usando isso, me falou, e eu fui ali e comprei’. Ou ‘a minha irmã’. A gente ouve muito isso. Para você fazer, você tem que personalizar e você tem que avaliar esse impacto positivo ou negativo na vida de uma mulher”.
A especialista aponta que campanhas como o Outubro Rosa devem servir para alertar a mulher que a consciência precisa existir durante todos os meses. “Observamos um aumento significativo nos casos de investigação e tratamento de câncer de mama entre outubro e o final do ano, porque muitas mulheres, motivadas pela conscientização promovida durante o Outubro Rosa, acabam buscando atendimento médico. Elas aproveitam para realizar exames que haviam sido adiados e fazer revisões pendentes. Embora essa campanha cause certo receio e aumente a ansiedade, ela também tem o impacto positivo de incentivar as mulheres a procurarem esses cuidados preventivos”.
Outubro Rosa: prevenção e diagnóstico precoce salvam vidas
O Outubro Rosa 2024 tem como tema ‘Mulher: seu corpo, sua vida’. O objetivo da campanha é motivar e instrumentalizar a população e os profissionais de saúde para as ações de controle e o cuidado integral relativos aos câncer de mama e do colo do útero, com foco na prevenção e no diagnóstico precoce.
A campanha vem sendo considerada uma oportunidade para ampliar a abordagem da saúde da mulher e a prevenção do câncer, de forma mais ampla. O tumor de mama é o tipo de câncer que mais acomete as mulheres no Brasil. A prevenção primária e a detecção precoce contribuem para a redução da incidência e da mortalidade.
A prevenção primária do câncer de mama consiste em reduzir os fatores de risco modificáveis e promover os fatores de proteção para a doença. Prática de atividade física, manutenção do peso adequado, alimentação saudável e evitar o consumo de bebidas alcóolicas são práticas associadas à redução do risco de desenvolver câncer de mama. A amamentação também é considerada um fator protetor.
O diagnóstico precoce consiste na abordagem oportuna das mulheres com sinais e sintomas suspeitos de câncer para identificação da doença em fase inicial, a fim de possibilitar tratamento efetivo e maior sobrevida. A orientação é que a mulher observe e apalpe suas mamas sempre que se sentir confortável, sem técnica específica, valorizando a descoberta casual de pequenas alterações mamárias. Nestes casos, é fundamental procurar ajuda médica.
A segunda estratégia de detecção do câncer de mama é o rastreamento por mamografia, exame padrão ouro para o diagnóstico precoce. Além de estar atenta ao próprio corpo, é recomendado que mulheres de 50 a 69 anos, de risco padrão, façam uma mamografia anual ou, no mínimo, a cada dois anos. Para mulheres com risco elevado de câncer de mama, recomenda-se que tenham acompanhamento médico individualizado.
É importante que as mulheres estejam sempre atentas aos sinais e sintomas suspeitos do câncer de mama:
- caroço (nódulo), geralmente endurecido, fixo e indolor;
- pele da mama avermelhada ou parecida com casca de laranja;
- alterações no bico do peito (mamilo);
- saída espontânea de líquido de um dos mamilos;
- pequenos nódulos no pescoço ou na região das axilas.
Câncer de colo do útero
O câncer do colo do útero é a terceira neoplasia mais frequente em mulheres no Brasil, com grandes desigualdades regionais e maior incidência e mortalidade nas regiões menos desenvolvidas do país, em especial, o Norte. Está em curso uma chamada global para a eliminação da doença por ser praticamente 100% prevenível por vacina e rastreamento.
O câncer do colo do útero está associado à infecção persistente por subtipos oncogênicos do vírus HPV (Papilomavírus Humano), especialmente o HPV-16 e o HPV-18, responsáveis por cerca de 70% dos tumores cervicais.
A infecção pelo HPV é muito comum. Estima-se que cerca de 80% das mulheres sexualmente ativas irão adquiri-la ao longo de suas vidas. A maior parte dos casos regride espontaneamente. Quando isso não acontece, pode ocorrer o desenvolvimento de lesões precursoras que, se identificadas e tratadas adequadamente, evitam a progressão para câncer.
A principal forma de prevenção é a vacinação contra o HPV, que protege contra os subtipos oncogênicos 6, 11, 16 e 18. Os dois primeiros causam verrugas genitais e os dois últimos são responsáveis por cerca de 70% dos casos de câncer do colo do útero.
A recomendação atual é de dose única para meninas e meninos com idade entre 9 e 14 anos – a vacina é mais eficaz se usada antes do início da vida sexual.
O imunizante também está disponível no SUS para pessoas de 9 a 45 anos vivendo com HIV/Aids, transplantados e pacientes oncológicos, que apresentam maior risco de desenvolver câncer e complicações relacionadas ao HPV.
Também estão incluídas as pessoas, nessa faixa etária ampliada, que foram vítimas de violência sexual, devido ao risco aumentado de desfechos negativos relacionados ao HPV, e também as portadoras de papilomatose respiratória recorrente (PPR).
A detecção precoce do câncer do colo do útero é feita atualmente pelo exame citopatológico do colo do útero, na faixa etária de 25 a 64 anos. Este é o chamado preventivo ginecológico, que deve ser feito, preferencialmente, a cada ano,
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