Entenda nova diretriz sobre hipertensão e o que muda na prática médica
Pressão arterial conhecida como ’12 por 8′ passa a ser considerada elevada e exige acompanhamento
A hipertensão, condição crônica de pressão arterial elevada, é uma das doenças mais prevalentes no Brasil e no mundo. Recentemente, novas diretrizes da Sociedade Europeia de Cardiologia alteraram alguns conceitos sobre o que é considerado pressão arterial ‘normal’, trazendo mudanças significativas para o acompanhamento de pacientes.
Até então, a pressão de 120/80 mmHg, popularmente conhecida como ’12 por 8′, era vista como ideal. Entretanto, com a atualização nas diretrizes, esse valor passou a ser classificado como pressão arterial elevada, sendo a nova referência ideal o valor de 120/70 mmHg, ou ’12 por 7′. A mudança coloca em alerta muitas pessoas que acreditavam ter uma pressão normal e que, agora, estão na faixa de risco.
No Brasil, o número de adultos com problemas de pressão alta foi recorde em 2023. Quase 28% dos brasileiros sofrem de hipertensão, segundo estudo do Instituto Nacional de Cardiologia feito com base em dados do Ministério da Saúde. O resultado é o maior desde o início da série histórica, em 2006.
Durante a European Society of Cardiology (ESC 2024), foram divulgadas quatro novas diretrizes, com destaque para a de hipertensão. Esta atualização trouxe avanços importantes nas áreas de medição e classificação da pressão arterial, diagnóstico, investigação, prevenção e tratamento, visando reduzir os riscos cardiovasculares, elevados em função da hipertensão.
Agora, a pressão arterial (PA) é dividida em três categorias: PA não elevada (abaixo de 120/70 mmHg), PA elevada (PAS entre 120-139 mmHg e PAD entre 70-89 mmHg), e hipertensão (acima de 140/90 mmHg). Valores alterados de PA detectados em consulta devem sempre ser confirmados fora do consultório, por meio da medida residencial (MRPA) ou ambulatorial da PA (MAPA), garantindo maior precisão no diagnóstico.
De acordo com o cardiologista Nivaldo Filgueiras, que esteve presencialmente na apresentação da última diretriz internacional, em Londres, durante o Congresso Europeu de Cardiologia, a medida destaca e reforça a importância de atenção para a evolução da doença.
Vice-presidente da Associação Bahiana de Medicina e membro do Conselho Administrativo da Sociedade Brasileira de Cardiologia, Filgueiras acrescenta que a simplificação da classificação de pressão arterial ajuda no entendimento do paciente sobre a necessidade de acompanhamento contínuo.
O que é a hipertensão
A hipertensão arterial sistêmica é uma condição crônica sem cura, mas que pode ser controlada. Ela é caracterizada pela pressão persistentemente elevada, com valores iguais ou superiores a 140 mmHg para a pressão máxima e 90 mmHg para a mínima. Quando esses níveis são mantidos, o diagnóstico de hipertensão é estabelecido.
Esse quadro aumenta a resistência nas artérias, o que sobrecarrega órgãos como o coração, que ao sofrer essa pressão, pode hipertrofiar e dilatar, gerando insuficiência cardíaca, falta de ar, inchaço nas pernas e até arritmias.
Além disso, a hipertensão prejudica a função renal, podendo evoluir para uma condição chamada nefropatia hipertensiva. Com o tempo, as alterações nos vasos que irrigam os rins podem levar à perda progressiva da função renal, resultando em insuficiência renal crônica. Em casos avançados, o paciente pode precisar de hemodiálise, pois o rim, que atua como um filtro eliminador de impurezas do sangue, já não consegue desempenhar essa função adequadamente.
A pressão alta também acelera a formação de placas de gordura nas artérias, fenômeno conhecido como aterosclerose. Para evitar essas complicações, o controle da hipertensão é essencial e deve envolver mudanças no estilo de vida, como a redução do consumo de sal, a prática regular de atividade física e o uso de medicamentos prescritos.
O que mudou
O que a diretriz trouxe de novo foi fazer com que os pacientes sem diagnóstico de hipertensão, mas com pressão acima de 120 por 70 sejam melhor acompanhados. “Esse paciente pode estar progredindo para hipertensão arterial. Então, a gente precisa fazer medidas de acompanhamento mais próximas, fazer com que esse indivíduo, se não tem, passe a ter uma mudança de estilo de vida, no sentido de evitar ou protelar a progressão da doença, que é a hipertensão arterial sistêmica”, conta o médico.
Nivaldo Filgueiras explica que se trata de uma espécie de sinal amarelo para o paciente. “Veja que eu não estou dizendo que todos os pacientes com esse nível de pressão considerada normal/elevada têm que usar remédio. Não é isso que nós estamos determinando. O indivíduo que tem que usar remédio de forma crônica, permanente, tendo uma boa aderência ao tratamento, é um indivíduo que tem o diagnóstico de hipertensão arterial sistêmica”, ressalta. O especialista frisa que pessoas com a pressão de 130 por 80 não são consideradas hipertensas, mas têm um chamado de atenção.
Vale para o Brasil?
É importante ressaltar que a diretriz da Sociedade Europeia de Hipertensão não é automaticamente adotada pelo Brasil, que tem sua própria entidade médica com diretrizes regularmente atualizadas, sendo a última alteração feita em 2021.
Em 2023, por exemplo, a Sociedade Brasileira de Cardiologia emitiu posicionamento sobre a importância da medida da pressão arterial e do método diagnóstico, que seria a utilização da monitorização ambulatorial da PA para diagnosticar os pacientes também de forma precoce. O tópico, no entanto, será discutido pelos médicos brasileiros, que podem adotar entendimento igual ou similar.
“A gente achou muito interessante esse tópico e a forma que foi estabelecido pela sociedade europeia. A gente acha que é relevante o diagnóstico precoce e chamar a atenção de como isso é importante do ponto de vista de saúde pública. Estamos medindo mais na população, de uma forma geral, os níveis de pressão arterial, e a gente acha que isso é muito positivo. Nós não adotamos ainda essa modificação, mas isso será avaliado em breve, provavelmente com o posicionamento da Sociedade Brasileira em relação a esse tópico em especial”, pontua Nivaldo.
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