Porta-voz da BYD nega más condições em obra na Bahia
Empresa terceirizada também nega acusações de trabalho análogo à escravidão, enquanto MTE aponta graves violações
O porta-voz da fabricante de veículos chineses BYD, Li Yunfei, negou, na manhã desta quinta-feira (26), os relatos sobre as más condições de trabalho em um canteiro de obras na cidade baiana de Camaçari, onde está sendo construída uma fábrica da montadora. Segundo ele, as alegações no município da Região Metropolitana de Salvador (RMS) têm como objetivo difamar a China, as marcas do país asiático e minar a amizade com o Brasil.
Uma força-tarefa do Ministério Público do Trabalho na Bahia (MPT-BA), divulgada na última segunda-feira (23), resgatou 163 cidadãos chineses que, segundo eles, estavam trabalhando em condições “semelhantes à escravidão” e com situação sanitária ruim. A BYD disse que “rescindiria imediatamente o contrato” com o Jinjiang Group, empreiteira responsável pela obra, e que estava estudando outras medidas apropriadas.
De acordo com auditores fiscais do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), a construtora confiscou os passaportes dos trabalhadores e reteve 60% dos salários. Além disso, os chineses que pedissem demissão seriam forçados indenizar à empresa as passagens aéreas tanto que os trouxe da China para o Brasil, como a de volta ao país de origem.
Terceirizada da BYD nega trabalho análogo à escravidão
A empresa Jinjang Construction Brazil Ltda., terceirizada contratada pela BYD, declarou em rede social que as acusações de promover trabalhos análogos à escravidão são infundadas e não condizem com os fatos. A empresa chinesa era responsável pelos 163 trabalhadores chineses que foram resgatados pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) após denúncias de maus-tratos.
“Serem injustamente rotulados como ‘escravizados’ fez com que nossos funcionários se sentissem com sua dignidade insultada e seus direitos humanos violados, ferindo seriamente a dignidade do povo chinês. Assinamos uma carta conjunta para expressar nossos verdadeiros sentimentos”, declarou a empresa.
Denúncias detalhadas pelo Ministério do Trabalho
De acordo com o MTE, os trabalhadores foram localizados em quatro alojamentos principais, onde as condições encontradas eram alarmantes: camas sem colchões adequados, falta de armários e itens pessoais misturados com alimentos. Além disso, foi identificado que havia banheiros insuficientes para todos os funcionários. Em um dos casos, foi constatada a existência de um único banheiro que seria dividido entre 31 trabalhadores.
O refeitório foi descrito pelos investigadores como inadequado, sem condições mínimas de higiene, enquanto os banheiros químicos estavam em estado deplorável. Além disso, a exposição à radiação solar sem proteção e acidentes recorrentes devido às longas jornadas foram constatados.
Ainda segundo a denúncia, um trabalhador relatou um acidente ocular que não recebeu o devido atendimento médico. Enquanto outro funcionário da empresa sofreu um acidente causado por privação de sono.
A investigação revelou também práticas que configuram trabalho forçado, como a retenção de parte dos salários, com os trabalhadores recebendo apenas 40% em moeda chinesa. Além disso, eles eram obrigados a pagar cauções, enfrentavam restrições para rescindir contratos e tinham os passaportes retidos, dificultando o retorno ao país de origem.
As jornadas de trabalho chegavam a 10 horas diárias, com folgas irregulares e contratos não formalizados, o que contribuía para a violação dos direitos trabalhistas. Os trabalhadores descansavam em condições inadequadas, como sobre materiais de construção, e enfrentavam restrições de movimento.
Medidas adotadas pela BYD
Em nota, a BYD informou ter encerrado o contrato com a construtora terceirizada Jinjang Construction Brazil Ltda. Os 163 trabalhadores resgatados foram alojados em hotéis da região, enquanto as autoridades continuam investigando as denúncias.
No início de dezembro, poucos dias após a denúncia das condições de trabalho análogo à escravidão, o representante da BYD no Brasil, Alexandre Baldy, ressaltou que medidas de transparência já foram tomadas e que a empresa chinesa de veículos está colaborando com as investigações.
Ele afirmou ainda que a BYD está comprometida com os trabalhadores e busca respeitar seus direitos. “A BYD primeiro respeita as leis brasileiras. Ela trabalha dentro de toda a legislação municipal, estadual e federal. […] Abrimos as portas, as quais puderam visitar as instalações e a todos os investimentos que estão sendo aqui promovidos e aos empregos que são gerados, de forma transparente. Não há aqui qualquer desrespeito à dignidade humana, não se tolerará qualquer desrespeito à relação entre pessoas”, declarou.
Jerônimo Rodrigues cobra investigações da BYD
Durante uma visita, no último dia 2 de dezembro, à fábrica da BYD que está em construção em Camaçari, o governador da Bahia afirmou que confia na montadora chinesa, mas cobrou que as denúncias sejam investigadas e punidas.
“Eu confio na BYD, conversamos ontem, estão sendo tomadas atitudes sobre o que foi denunciado. Eu só espero que a gente não veja o que eu senti na época da política eleitoral. Sabemos muito bem o que significam boas condições de trabalho. Acho que o grandioso aqui é a BYD reafirmar, como fez com a gente, que está tratando, que vai fazer auditoria, que ela vai falar sobre isso. Mas a expectativa minha, enquanto governador, é que eu confio, estarei ao lado para a gente fazer isso, para resolver todas as pendências ou qualquer tipo de denúncia que possa chegar até a gente”, declarou o governador.
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