Caso Isabel Veloso: entenda a diferença entre câncer terminal e cuidados paliativos
Ao M!, a médica Yanne Amorim explicou que a abordagem não é voltada exclusivamente para o fim da vida
Nesta semana, a influenciadora Isabel Veloso, 18 anos, enfrentou duras críticas nas redes sociais após declarar não ser mais considerada paciente terminal. Ela havia feito a declaração em março deste ano, devido ao Linfoma de Hodgkin diagnosticado há três anos. Grávida e em cuidados paliativos, Isabel é acusada de manipular informações sobre sua saúde para ganhar likes e monetizar seu conteúdo. A controvérsia cresceu quando sua médica esclareceu que ela não está em fase terminal.
O Portal M! ouviu a médica especializada em Medicina Paliativa da Clínica Florence, Yanne Amorim, para explicar a diferença entre paciente em cuidados paliativos e paciente terminal. De acordo com ela, o principal ponto a ser considerado é que cuidado paliativo não é, exclusivamente, cuidado de fim de vida. Isso porque pacientes em cuidados paliativos podem viver anos amparados pela abordagem, já que ela compreende todas as fases da doença irreversível.
“Os pacientes terminais ou em terminalidade de cuidados são aqueles que estão no estágio mais avançado de uma doença irreversível e que estão mais próximos do fim de vida, com um prognóstico limitado a semanas ou meses”, explicou Yanne, que também é médica pneumologista e paliativista do Hospital Geral Roberto Santos (HGRS).
Conforme a especialista, a medicina paliativa foca em diversos pontos de atenção e atua em várias áreas para oferecer o cuidado integral e humanizado ao paciente e à sua família. Entre os principais aspectos da abordagem, estão o controle adequado de dor e outros sintomas que causam desconforto, como náusea, falta de ar e vômito.
Há ainda a oferta do apoio psicológico e emocional, para que o paciente possa lidar com a angústia de uma doença irreversível, bem como apoio espiritual e o apoio à família, tido como um pilar importante na abordagem dos cuidados paliativos no que diz respeito à comunicação e à tomada de decisão.
“É a equipe de cuidado paliativo que facilita essa comunicação com o paciente, com a família e com os outros profissionais envolvidos no cuidado, auxiliando na tomada de decisões importantes sobre o tratamento. A educação e a formação de profissionais também é um enfoque da medicina paliativa, no que diz respeito a capacitar cada vez mais profissionais de saúde sobre essa abordagem, promovendo uma ampliação no cuidado a pacientes com doenças graves”, disse.
Questionada sobre a origem da abordagem e o início da sua aplicação no Brasil e no mundo, a médica esclareceu que a medicina paliativa tem o objetivo de melhorar a qualidade de vida dos pacientes. Ainda segundo ela, a origem remonta do início do século XX, ao ser fundado o St. Christopher ‘s Hospice em Londres por Cicely Saunders, que era uma médica, enfermeira e assistente social.
“Esse modelo começou a humanizar, de fato, o cuidado dos pacientes em fim de vida, focando no controle de dor e de sofrimento que acompanhavam essas doenças. De forma geral, o movimento pela medicina paliativa começou a se consolidar nas décadas de 70 e 80, e em 1990, a Organização Mundial de Saúde deu a definição de cuidado paliativo, incluindo como um componente essencial na assistência médica. No Brasil, nos anos 2000, o campo foi se solidificando, sobretudo com a fundação de algumas associações, a principal delas a Associação Nacional do Cuidado Paliativo (ANCP), e a inclusão dos cuidados paliativos na formação acadêmica dos profissionais de saúde. Em 2024, foi publicada a Política Nacional de Saúde Paliativa, promovendo a expansão e a formalização dos cuidados paliativos no SUS, o que fortaleceu ainda mais o movimento”, destacou.
Em quais casos os cuidados paliativos são indicados?
O senso comum costuma vincular os cuidados paliativos aos pacientes oncológicos, no entanto, a médica observa que é um mito. Isso porque qualquer doença ameaçadora à vida ou uma condição de irreversibilidade, ou seja, que não possui cura, exige a intervenção da medicina paliativa.
“No mundo, as principais causas de morte são relacionadas às doenças cardiovasculares. Então, dentro da cardiologia, a gente tem uma gama de patologias que podem ser vinculadas à medicina paliativa, as insuficiências cardíacas graves, por exemplo, as doenças respiratórias crônicas graves, como enfisema, fibrose, as demências, a própria senilidade como um todo, são condições que necessariamente se beneficiam de uma abordagem paliativa”, listou.
Já sobre as especialidades médicas envolvidas nos cuidados paliativos, Yanne explicou que múltiplas áreas podem atuar na abordagem, como oncologia, cardiologia, neurologia, pediatria, entre outras. “Existem equipes voltadas para os cuidados paliativos pediátricos, para as crianças que têm doenças graves e irreversíveis. Os cuidados geriátricos, a abordagem dos idosos, as doenças complexas, as demências, então todas essas são áreas de atuação que mostram que a medicina paliativa transcende ao cuidado essencialmente de fim de vida, mas sim a uma abordagem que prioriza a qualidade de vida em todas as fases da doença”, ressaltou.
Outra questão importante e ligada aos cuidados paliativos, sejam entre os pacientes terminais ou não, está a proximidade e/ou aceitação da morte como condição intrínseca à vida. De acordo com a especialista, se trata de um aspecto essencial para se trabalhar dentro da abordagem paliativa, sobretudo com paciente e família. Para tanto, ela apontou a existência de algumas estratégias.
“Saber sobre a morte é importante, sobre a condição da doença, sobre que estágio estamos passando, fortalecendo vínculos, estabelecendo um suporte emocional adequado para esse paciente, para essa família, trazendo ainda um apoio espiritual, respeitando, obviamente, suas crenças pessoais, o que é valor para aquele paciente e para aquela família, integrando todos os aspectos e as dimensões do ser humano. O foco principal do cuidado paliativo é a qualidade de vida. Então, isso traz a necessidade de a gente abordar a concentração no presente, no dia de hoje, fazer com que o paciente se coloque nas práticas de atenção plena, de trazer o momento presente como principal, com isso diminuindo a ansiedade e, sobretudo, as expectativas relacionadas à mortalidade em si”, observou.
Conforme Yanne, é fundamental manejar os sintomas que estão causando sofrimento aos pacientes, como dor, náusea, falta de ar, além de oferecer suporte psicológico aos sintomas emocionais, a exemplo do medo, ansiedade e depressão, para que o paciente possa desfrutar de uma “boa morte”.
“O paciente pode desejar passar seus últimos dias em casa, então é necessário que a gente garanta o conforto dele em casa. Hospital, muitas vezes, não é o ambiente ideal para o paciente falecer. E é necessário que a gente consiga oferecer um ambiente adequado para que consigamos controlar efetivamente esses sintomas e permitir a proximidade dos entes queridos”, recomendou.
Perguntada sobre o papel da família no processo de cuidados paliativos, a médica explicou se tratar de algo “fundamental”.
“O tempo inteiro a família precisa estar inclusa nesse processo, para que a gente proporcione um suporte dando apoio emocional, acompanhamento psíquico, abordando as questões de comunicação, preparo para a morte. O mesmo apoio espiritual que a gente oferece ao paciente, a gente tem que oferecer para a família também, respeitando suas convicções, facilitando essas conexões, respeitando a autonomia do paciente, trazendo a família para criar memórias afetivas, refletir sobre os legados. O importante é que o cuidado paliativo, sobretudo o cuidado paliativo de fim de vida, ele não termina quando o paciente falece, toda a abordagem do luto. Cuidado aos familiares enlutados também pertence à equipe de cuidados paliativos”, explica.
Médica destaca coragem de pacientes
Por fim, ao falar sobre o cenário enfrentado pelos pacientes em cuidados paliativos e/ou terminais, a especialista afirmou se tratar de um momento “delicado”, e marcado por muita “coragem” e “força”.
“A jornada não é fácil e é extremamente natural e esperado que sentimentos complexos e difíceis venham à tona. Estamos aqui para apoiar todos vocês em cada passo, oferecendo o máximo de conforto e cuidado possível. É extremamente importante saber que cada momento é valioso. Estar comprometido em proporcionar qualidade de vida, respeitando seus desejos e necessidades, é de extrema importância, é fundamental. É importante que a gente dê vida aos nossos dias, e não dias à nossa vida”, recomenda.
A médica também ressaltou que a importância do apoio aos familiares de pacientes, quem também enfrentam esse momento. “Para os familiares, entendemos que a preocupação que vocês sentem é imensurável e é importante que vocês possam compartilhar com a equipe suas dúvidas, angústias e qualquer outra necessidade que venham a ter. E talvez o mais importante de tudo: vocês não estão sozinhos, estamos juntos nessa caminhada e a nossa prioridade é garantir dignidade, respeito e compaixão. O cuidado paliativo é uma especialidade da saúde que oferece apoio emocional, espiritual e físico para que esse tempo seja cercado de carinho, compreensão e paz, com muito respeito e dedicação”.
Entenda a polêmica com Isabel Veloso
Nos últimos meses, o nome da influenciadora digital Isabel Veloso tem gerado frequentes discussões nas redes sociais. A jovem paranaense, que enfrenta um Linfoma de Hodgkin, ganhou notoriedade ao compartilhar com seus seguidores a rotina de cuidados e tratamentos médicos.
Em março de 2024, ela viralizou com uma publicação onde afirmava ter apenas seis meses de vida e se declarava para o então noivo, Lucas Borbas. A postagem emocionou a internet, e o casal iniciou um financiamento coletivo para realizar o casamento.
No último dia 12 de agosto, Isabel anunciou estar grávida do primeiro filho, fruto do casamento com Lucas Borbas. O anúncio, feito em um vídeo no YouTube, levantou questionamentos dos seguidores sobre as condições que Isabel teria para gestar, por conta da doença. Ela também foi criticada por escolher ter um filho mesmo correndo risco de morte.
Na ocasião, a influenciadora rebateu as críticas e afirmou que sua doença estava estabilizada. Agora, depois do anúncio acerca dos cuidados paliativos, parte do público acusa a influenciadora de distorcer a gravidade de sua condição de saúde para os seguidores.
De acordo com a médica da influenciadora, Melina Branco, a jovem não está em estágio terminal, mas, sim, em cuidados paliativos. “Isabel Veloso foi diagnosticada com Linfoma de Hodgkin em 2021. Ela realizou inúmeros tratamentos quimioterápicos com oncologistas, porém, não teve sucesso. No final de 2023, ela apresentou remissão do tumor, mas, infelizmente, ele voltou a crescer em 2024”, disse a especialista em postagem nas redes sociais.
Conforme Melina, Isabel foi diagnosticada como uma paciente em cuidados paliativos no início de 2024. “Ela é, sim, portadora do câncer; o tumor existe. Porém, o tumor está crescendo mais lentamente do que a Medicina previu”, explicou.
Ao falar sobre os “seis meses de vida” que haviam sido dados a influenciadora, a médica afirmou se tratar de uma “expectativa médica”. “Na época, a equipe de oncologia dela previu, de acordo com o crescimento inicial do tumor, que ela teria, em média, seis meses de vida. Porém, isso é apenas uma expectativa médica. Portanto, Isabel Veloso é, sim, uma paciente em cuidados paliativos, mantém seu acompanhamento e, por isso, apresenta estabilidade em seu quadro clínico”, concluiu Melina.
Confira a explicação de Yanne Amorim sobre cuidados paliativos e condições terminais:
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