Lula defende candidatura de mulher para chefiar ONU e pressiona por união contra tarifas e imigração

Presença do presidente marca retorno do Brasil à Celac após a ausência durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL)


Redação
Redação 07/04/2025 17:32 • Internacional
Lula defende candidatura de mulher para chefiar ONU e pressiona por união contra tarifas e imigração - Marcelo Camargo/Agência Brasil

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) participa, nesta quarta-feira (9), da 9ª Cúpula de Chefes de Estado e de Governo da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) em Tegucigalpa, Honduras. O encontro reúne os 33 países da região.

A presença de Lula marca o retorno do Brasil à Celac após ausência durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). A organização é o único bloco político que reúne todas as nações latino-americanas e caribenhas.

A participação do presidente é um claro sinal da prioridade que, aliás, sempre foi dada pelo presidente Lula e pelo Brasil à integração. Na nossa Constituição, no Artigo 4º, consta que o Brasil deve buscar exatamente a Celac: a construção de uma comunidade de nações latino-americanas e caribenhas”, afirmou a embaixadora Gisela Padovan.

Revitalização da Celac

A secretária de América Latina e Caribe do Ministério das Relações Exteriores (MRE), Gisela Padovan, explicou que a Cúpula integra o processo de reestruturação da Celac, enfraquecida nos últimos anos. A embaixadora citou a decisão de Lula de reintegrar o bloco logo no início do terceiro mandato.

O sonho da integração existiu desde Bolívar, desde San Martín, que se falava essa visão de que juntos temos mais condição de enfrentar os desafios globais e também de nos desenvolvermos e resolvermos nossos problemas internos e regionais”, completou a embaixadora.

A comitiva presidencial brasileira chegou a Honduras na terça-feira (8). A expectativa do Itamaraty é de um debate amplo e a divulgação de uma declaração conjunta entre os 33 países ao final do encontro.

O encontro ocorre em meio à tensão regional, com destaque para as políticas migratórias dos Estados Unidos e a guerra de tarifas iniciada pelo governo de Donald Trump. O tema das tarifas, segundo o Itamaraty, não foi incluído na pauta inicial. A imigração, por outro lado, será debatida com destaque. A proposta é reativar um grupo de trabalho da Celac que tratava do tema anteriormente.

Estão confirmadas as participações dos presidentes do México, Claudia Sheinbaum, da Colômbia, Gustavo Petro, da Bolívia, Luis Arce, do Uruguai, Yamandú Orsi, de Cuba, Miguel Diáz-Canel, entre outros, conforme comunicado do governo hondurenho.

Proposta de candidatura feminina na ONU

Lula propôs uma articulação entre os países da Celac em torno de uma candidatura única feminina ao cargo de secretária-geral da ONU. A proposta será apresentada durante a cúpula em Tegucigalpa.

Nós estamos propondo que os países se unam para começar a trabalhar em torno de uma candidatura única, que nos dá maiores chances de fazer valer esse princípio da rotatividade”, disse na quinta-feira (4) a embaixadora Gisela Padovan.

O Brasil defende que a candidata seja uma mulher latino-americana. Os nomes cogitados incluem a ex-presidente do Chile, Michelle Bachelet, e a primeira-ministra de Barbados, Mia Mottley.

A expectativa do governo brasileiro é que a Celac aprove uma declaração especial em apoio à candidatura conjunta feminina para a ONU e outra voltada à pauta de mulheres e segurança.

Em setembro do ano passado, Lula criticou a ausência de mulheres na liderança da ONU durante discurso na Assembleia Geral das Nações Unidas. Desde a fundação, todos os nove secretários-gerais foram homens.

A proposta, segundo o Itamaraty, ainda está em estágio preliminar. A intenção é viabilizar uma articulação antecipada para fortalecer a posição latino-americana no pleito.

Resistência de países conservadores

Segundo o MRE, há possibilidade de resistência por parte de governos conservadores da região, como o da Argentina, liderado por Javier Milei. No ano passado, declarações conjuntas sobre gênero foram bloqueadas em fóruns como G-20, OEA e Mercosul.

Diplomatas avaliam que a Celac pode ajustar o texto sugerido pelo Brasil para permitir uma candidatura unificada, independentemente do gênero, como forma de garantir apoio mínimo ao projeto.

Temos a percepção, pelo menos nos contatos informais, que há grande apoio a essa iniciativa, mas tudo estará nos detalhes. Ainda teremos o processo de validação dos termos específicos”, declarou a embaixadora Daniela Arruda Benjamin.

Presidência da Celac será transferida à Colômbia

Durante o encontro, a presidência do bloco será oficialmente repassada de Honduras para a Colômbia, que conduzirá as atividades da Celac em 2025.

A agenda da organização inclui temas como segurança alimentar, mudança climática e gestão de desastres. Honduras priorizou durante sua presidência ações voltadas às mulheres, energia, agricultura e produção de café.

A Cúpula deve encerrar com um comunicado final abordando imigração, deportações, livre-comércio, multilateralismo e o papel da Organização Mundial do Comércio (OMC).

Embora as tarifas dos Estados Unidos não estejam na pauta oficial, diplomatas brasileiros admitem que o tema poderá ser citado nos discursos de chefes de Estado. Um parágrafo sobre o tema pode ser negociado para o documento final.

As situações são bem distintas, não vejo que se torne o tema da reunião”, disse Gisela. “Vai ser tratado, talvez tenha algum parágrafo. Os quadros são distintos, alguns países como o Brasil têm um comércio equilibrado, outros têm superávit, como o México, e outros têm comércio pequeno”, completou.

Por sua vez, a embaixadora Daniela Arruda reforçou que o debate será livre. “No debate é natural que os presidentes levantem questões importantes para a região. Há na declaração compromissos reiterados de outras cúpulas, a preocupação com o sistema multilateral de comércio e o comércio justo, mas o tema em si (tarifas) e questões específicas bilaterais não estão na pauta”.

Reunião com a China

A Cúpula da Celac antecede um encontro entre chanceleres da Celac e o presidente da China, Xi Jinping, em Pequim. A reunião deve acontecer em maio, no contexto dos 10 anos do Fórum China-Celac. Lula foi convidado para participar do encontro em 13 de maio. No entanto, a data poderá ser modificada para acomodar a agenda de representantes da Comunidade do Caribe (Caricom).

A proposta do Brasil é construir uma agenda de cooperação equilibrada com a China, evitando que Pequim conduza isoladamente as negociações. Ainda neste ano, está prevista uma nova reunião entre líderes da Celac e da União Europeia, que será sediada pela Colômbia. O objetivo é fortalecer os laços entre as duas regiões.

A Celac mantém também diálogos estratégicos com outras regiões. Há negociações em andamento com o Conselho de Cooperação do Golfo, a Turquia e a Índia. O Brasil busca ampliar sua atuação regional e internacional por meio dessas articulações multilaterais, alinhando-se a estratégias comuns com os demais países da América Latina e Caribe.

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