O cotidiano de trabalhadoras da Avenida Sete de Setembro, importante eixo comercial de Salvador, é tema da websérie ‘Na Avenida 7‘, produção dividida em três episódios que busca apresentar a vivência de quem trabalha diariamente na região central da capital baiana. A narrativa é construída a partir da perspectiva de três mulheres negras que compartilham suas rotinas, desafios e relações com o território.

Em entrevista ao Portal M!, o documentarista baiano Léo Veneza explicou a motivação por trás da criação da websérie e afirmou que o projeto é resultado de uma trajetória dedicada a registrar culturas e personagens de territórios populares da cidade de Salvador. A nova produção acompanha o cotidiano de três trabalhadoras da Avenida Sete de Setembro.

“Minha inspiração para esse projeto nasce do desejo de documentar a cultura de Salvador que está presente nos territórios populares. Esse impulso, essa vontade, me levam especialmente a focar em narrativas e personagens que costumam ser invisibilizados no cotidiano da própria cidade”, afirmou o diretor.

De acordo com ele, a proposta é uma continuidade de trabalhos anteriores e é fruto de uma “materialização” de um desejo de carreira e de vida. “Começou lá com a série Feirantes da Bahia, que gravei com os trabalhadores da Feira de São Joaquim, e que agora eu dou novos contornos, trazendo para a Avenida 7 e contando histórias de mulheres que ajudaram a construir, com seu trabalho, o comércio da Avenida.”

Para Léo Veneza, o processo de produção da websérie foi marcado pela convivência com as personagens e pela escuta das formas como elas ressignificam o espaço urbano e o trabalho.

“O que mais me marcou durante esse processo foi a convivência com essas mulheres incríveis. Apesar das dificuldades que elas enfrentam no contexto do trabalho informal, elas ressignificam esse espaço como um lugar de força, cuidado e manutenção da saúde mental”, pontuou.

Trabalho como expressão de identidade e cuidado

Ao acompanhar a rotina de Edna, Nalvinha e Lívia, o diretor percebeu que o trabalho exercido por elas ultrapassa o conceito de sobrevivência. As entrevistas revelam dimensões mais profundas da relação com o ofício, o espaço e a coletividade que se forma entre as trabalhadoras da Avenida Sete.

“O trabalho para elas é para além da sobrevivência, né? É uma expressão de identidade, de autonomia, de prazer. Então, Nalvinha, Edna e Lívia utilizam daquele espaço não só para subsistência, mas também para a sua saúde mental, para a convivência com outras pessoas e para se sentir viva, isso chamou muito a minha atenção”, destacou.

O diretor observou que essas dimensões se tornam ainda mais relevantes diante das transformações enfrentadas na região. A Avenida Sete, segundo ele, passa por um momento de declínio econômico, o que impacta diretamente quem vive do comércio local.

Declínio da Avenida Sete e resistência cotidiana

A percepção de decadência do espaço comercial tradicional apareceu nos relatos das protagonistas da série, especialmente em função das mudanças no comportamento de consumo e no avanço das vendas digitais. Apesar disso, Veneza destaca a permanência de laços afetivos e da criatividade das personagens.

“Mesmo com isso tudo, as personagens trouxeram também que a Avenida Sete vive um momento de declínio por conta das transformações no consumo, do comércio, da internet. Ainda assim as histórias revelam uma resistência, uma criatividade, um afeto que é muito presente em todo discurso quando elas trazem nas entrevistas e nos episódios que vão estar disponíveis a partir de semana que vem”.

Lançamento entre os dias 14 e 16 de abril

A websérie será lançada com três episódios entre os dias 14 e 16 de abril, com exibições às 19h30 nos perfis oficiais do projeto no Instagram e no YouTube. A produção é financiada pela Lei Paulo Gustavo e realizada pelo Núcleo de Audiovisual do #QuilomboDiMaria em parceria com a TRINTAE3 Conteúdos.

A exibição dos episódios será realizada nos dias 14, 15 e 16 de abril, sempre às 19h30, por meio dos perfis oficiais da websérie no Instagram (@navenida7) e no YouTube. A divulgação também conta com o apoio da página @Salvadorparaomundo, que atua na promoção de conteúdos voltados à cidade de Salvador. A estratégia de distribuição visa ampliar o alcance das histórias contadas na série.

A idealização do projeto partiu de Catarina Teles, que uniu sua vivência pessoal na Avenida Sete à pesquisa sobre relações de trabalho.

“Quis unir essa vivência pessoal a uma das minhas grandes inquietações: entender como as pessoas se relacionam com o trabalho. Na Avenida 7 é esse encontro entre memória, pesquisa e escuta sensível”, afirmou a criadora.

A produção é financiada por recursos da Lei Paulo Gustavo, através da Secretaria de Cultura da Bahia e do Ministério da Cultura do Governo Federal. A iniciativa integra uma série de ações voltadas ao fortalecimento da cultura audiovisual na Bahia, com foco em narrativas locais e protagonismo de grupos historicamente sub-representados.

Confira o trailer:

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