Cemitério de escravizados do século 18 pode virar museu a céu aberto em Salvador
Escavação para investigar existência no estacionamento da Pupileira é liberada na capital baiana

A escavação para investigar a existência de um cemitério de escravizados do século 18 no estacionamento da Pupileira, em Salvador, foi liberada nesta última quarta-feira (26). A autorização foi confirmada pela pesquisadora Silvana Olivieri e pela Santa Casa de Misericórdia da Bahia, proprietária do imóvel no bairro Nazaré.
A assinatura do termo de cooperação ocorreu com intermédio do Ministério Público da Bahia (MP-BA). O próximo passo é a elaboração de um projeto de pesquisa arqueológica, que precisa ser aprovado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e, posteriormente, pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (Ipac), responsável pelo tombamento da Pupileira. Segundo a pesquisadora, todo o processo burocrático deve durar pouco mais de um mês, com previsão de início das escavações em maio. Caso os vestígios do cemitério sejam confirmados, há a possibilidade do local se transformar em um museu a céu aberto.
Pesquisa revela possível localização do cemitério
A investigação sobre o cemitério teve início a partir da pesquisa de doutorado da arquiteta urbanista Silvana Olivieri, desenvolvida na Universidade Federal da Bahia (Ufba).
A pesquisadora identificou a possível localização do cemitério ao comparar mapas históricos do século 18 com imagens de satélite atuais. Os indícios apontam que o cemitério ficava exatamente na entrada da Pupileira.

“Utilizei como fontes vários mapas e plantas de Salvador do século 18, além de referências bibliográficas escassas, como artigos dos historiadores Braz do Amaral (1917) e Consuelo Pondé de Sena (1981), além de um livro de 1862 escrito por Antônio Joaquim Damázio, contador da Santa Casa”, explicou Silvana.
Quem era enterrado no cemitério?
O cemitério serviu como local de sepultamento para escravizados, indígenas, integrantes da comunidade cigana e pessoas sem condições de custear um enterro. Documentos históricos indicam que, entre os sepultados, estavam líderes da Revolta dos Búzios e da Revolução Pernambucana, além de dezenas de participantes da Revolta dos Malês.
O número exato de corpos enterrados ainda é desconhecido, mas estima-se que sejam dezenas ou até centenas de milhares de pessoas. Os sepultamentos eram feitos em valas comuns e superficiais, sem cerimônias religiosas ou ritos fúnebres.
“O cemitério sofreu um apagamento histórico, desaparecendo tanto da paisagem visível quanto da memória da cidade. Cento e oitenta anos depois, poucas pessoas lembravam ou sabiam da sua existência”, destacou a arquiteta.
Inicialmente, a administração do local era feita pela Câmara Municipal de Salvador (CMS), mas, posteriormente, passou para a Santa Casa de Misericórdia da Bahia. O cemitério permaneceu ativo por cerca de 150 anos, até ser desativado em 1844, quando a Santa Casa inaugurou o Cemitério Campo Santo, no bairro da Federação.
Intervenção do MP-BA foi decisiva para avanço da pesquisa
A descoberta foi apresentada à Santa Casa em setembro de 2023, durante reuniões com o Iphan, mas a pesquisadora não recebeu retorno. Diante da falta de respostas, Silvana e o advogado e professor da Ufba, Samuel Vida, recorreram ao MP-BA, que atuou como mediador das negociações.
A primeira reunião ocorreu em 9 de janeiro, sem a presença da Santa Casa. No encontro seguinte, em 29 de janeiro, todos os envolvidos participaram da discussão.
A Santa Casa tinha até 24 de fevereiro para se posicionar sobre a escavação, mas solicitou ajustes no termo de cooperação, o que atrasou o processo. Agora, com a liberação da pesquisa, a expectativa é que a investigação arqueológica revele mais detalhes sobre a história do cemitério e de seus sepultados, contribuindo para a preservação da memória negra e indígena de Salvador.
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