Novembro Azul: oncologista explica pesquisa promissora de vacina contra câncer de próstata

O Novembro Azul é uma campanha de conscientização sobre a saúde masculina, que reforça a importância do diagnóstico precoce e do tratamento adequado do câncer de próstata. Em entrevista ao Portal M!, o médico João Paulo Medrado, oncologista do Hospital Aristides Maltez e do Hospital Mater Dei Salvador, falou sobre os avanços mais recentes no tratamento da doença, com destaque para uma vacina em fase de testes nos Estados Unidos – novidade que traz esperanças no combate ao câncer de próstata.

“É um tipo de imunoterapia chamada de vacina contra o câncer”, explicou Medrado. “Quem está à frente desse projeto é o doutor Fernando Tomé Kreutz, um pesquisador brasileiro da PUC do Rio Grande do Sul, com vasta experiência na área, tendo iniciado seus estudos no Canadá desde 1996. Ele identificou um antígeno relacionado ao câncer de próstata, o que permite desenvolver uma resposta imunológica mais eficiente contra a doença”, detalhou.

Segundo o oncologista, essa pesquisa está atualmente em fase 2 de estudos clínicos nos Estados Unidos, um passo importante que avalia a eficácia e segurança da substância, chamada FK-PC 101.

Esta etapa da pesquisa é decisiva para determinar se o medicamento pode reduzir as chances de recidiva em pacientes já tratados com a cirurgia. “Esse fármaco tem como objetivo aumentar a proteção do paciente, tentando diminuir as chances de o câncer voltar após uma cirurgia da próstata. Essa substância trabalha mobilizando o sistema imunológico da pessoa para atacar as células cancerígenas, caso o câncer volte a se manifestar”, explica o oncologista. “Se os resultados forem favoráveis, essa vacina pode ser uma inovação no tratamento do câncer de próstata em casos específicos”, projeta.

O pesquisador brasileiro que lidera a pesquisa sobre a vacina, Fernando Kreutz, fundou uma empresa voltada para a criação de imunoterapias. Segundo o oncologista, o método utilizado nesse tratamento inovador já é adotado em outros fármacos.

“Funciona de forma semelhante ao sipuleucel-T, um medicamento aprovado pelo FDA, em que se coleta uma amostra do tumor do paciente e, fora do organismo, a equipe médica trabalha para ensinar as células imunes a reconhecerem as células cancerígenas”, afirma João Paulo Medrado. Ele destaca ainda que a substância é reintroduzida no organismo para fortalecer o sistema imunológico e combater o câncer.

O oncologista celebra o fato de uma pesquisa de destaque mundial ser liderada por um cientista brasileiro, mostrando a importância e o valor da ciência nacional. “É muito gratificante ver o desenvolvimento da ciência brasileira nesse cenário tão competitivo, com um estudo tão promissor e de impacto internacional. A ciência avança para trazer mais esperança e opções para os pacientes”, reforça.

Tratamento cirúrgico e técnicas avançadas

O especialista também ressaltou os avanços nas técnicas cirúrgicas para o tratamento do câncer de próstata, voltadas para minimizar as sequelas da intervenção.

“Hoje, contamos com abordagens minimamente invasivas, como a laparoscopia e a cirurgia robótica, que permitem uma recuperação mais rápida”, explica o oncologista. “Essas técnicas também têm aprimorado a preservação de nervos essenciais para a função erétil, o que reduz as chances de sequelas, como incontinência urinária e impotência”, completou.

Diagnóstico precoce: o papel do rastreamento

O diagnóstico precoce é fundamental, e existem diferentes abordagens para identificar a doença em estágios iniciais. O médico João Paulo Medrado explica que o câncer de próstata pode ser detectado em fases iniciais, geralmente através de exames como o PSA (antígeno prostático específico) e o toque retal.

“Esses exames, recomendados durante o Novembro Azul, são cruciais para identificar a doença antes que ela apresente sintomas, o que permite um tratamento mais efetivo. Combinando os exames de PSA e o toque retal, podemos detectar alterações na próstata que indicam a necessidade de uma biópsia, confirmando ou descartando o diagnóstico”, explica.

Para os homens que já apresentam sintomas, como dificuldade para urinar ou sangramento, o médico orienta a realização de exames complementares. “Esses sintomas também podem estar associados a outras condições, mas é importante que a possibilidade de câncer seja excluída por um profissional qualificado”, ressalta.

População afrodescendente: cuidados redobrados

Estudos populacionais, sobretudo nos Estados Unidos, têm mostrado que homens afrodescendentes podem apresentar maior predisposição para desenvolver câncer de próstata em idades mais precoces.

“A recomendação para afrodescendentes é iniciar o rastreamento aos 45 anos, especialmente para aqueles com histórico familiar”, ressalta o oncologista. “No Brasil, sobretudo na Bahia, onde a distinção de descendência é mais complexa, o ideal é conversar com o médico para estabelecer a idade apropriada para iniciar o rastreamento, levando em conta fatores familiares e hábitos saudáveis”.

Importância de hábitos saudáveis e exames regulares

Para João Paulo Medrado, é fundamental que o Novembro Azul seja visto não só como um incentivo ao diagnóstico precoce, mas também como um lembrete sobre a importância de manter hábitos saudáveis.

“O câncer de próstata, em muitos casos, se desenvolve lentamente e pode ser acompanhado com segurança por um oncologista ou urologista antes de iniciar tratamentos invasivos. Adotar uma rotina de atividades físicas, manter o peso controlado, reduzir o consumo de álcool e evitar o tabagismo são fatores que contribuem para uma saúde masculina melhor e para reduzir os riscos de diversas doenças”, orienta.