Setores pressionam governo por solução diplomática após tarifa dos EUA: risco ao agronegócio é real
CNA avalia estratégias para mitigar política protecionista de Trump e evitar impactos no Brasil

O recente anúncio do governo dos Estados Unidos sobre a imposição de tarifas de 10% sobre produtos brasileiros gerou preocupação no setor do agronegócio. A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) considera precipitado calcular as perdas e ganhos da medida neste momento, mas enfatiza a necessidade de negociação diplomática para minimizar os impactos.
Em nota técnica, a entidade ressaltou que novas tarifas podem ser impostas caso os Estados Unidos julguem que as medidas atuais não sejam eficazes. “Como a ordem executiva cita que eventual redução de medidas significativas para corrigir arranjos comerciais não recíprocos poderá diminuir ou limitar o escopo das tarifas impostas, cabe ao governo brasileiro seguir explorando a via negociadora com os EUA para buscar mitigar as tarifas anunciadas e alcançar benefícios mútuos para ambas as nações”, declarou a CNA.
Impactos no agronegócio e posição do Brasil
A CNA destacou que a alteração tarifária terá efeito global, atingindo grandes exportadores agropecuários e impactando o comércio internacional. No caso brasileiro, os EUA são o terceiro maior destino das exportações do agronegócio. Com a nova tarifa, a alíquota nominal média sobre produtos do setor subirá para 13,9%, ante os atuais 3,9%. Apesar disso, o Brasil ainda estará em posição mais favorável em comparação à União Europeia, cujos produtos serão sobretaxados em 20%.
Nos últimos 10 anos, a participação dos EUA no volume total de exportações agropecuárias brasileiras variou entre 6% e 7,5%. Entre os principais produtos afetados pela medida estão o café verde, a celulose e o suco de laranja. A CNA alerta que o aumento das tarifas pode comprometer a competitividade desses itens no mercado norte-americano, impactando diretamente a renda dos produtores brasileiros.
Setores mais vulneráveis à nova tarifa
A CNA analisou o grau de exposição dos produtos agropecuários brasileiros ao mercado norte-americano e classificou alguns itens como “criticamente dependentes” dos EUA, dificultando o redirecionamento para outros mercados. Entre eles estão:
- Sebo bovino
- Madeira perfilada e compensada
- Carne bovina industrializada
- Outras substâncias proteicas de origem animal
Outros produtos, como óleo essencial de laranja, couro bovino, painéis de madeira e papel, possuem “alta exposição” ao mercado dos EUA e também encontrarão dificuldades para se reposicionar globalmente.
Resposta do governo brasileiro
Diante do impacto das tarifas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou, nesta última quinta-feira (3), que o Brasil não aceitará passivamente a imposição de barreiras comerciais. “É um país que fala igual para igual e respeita todos os países, dos mais pobres aos mais ricos, mas que exige reciprocidade no tratamento”, declarou Lula.
Segundo o governo, a resposta brasileira incluirá medidas baseadas na lei da reciprocidade econômica, aprovada pelo Congresso, e nos princípios da Organização Mundial do Comércio (OMC). A expectativa é que a diplomacia seja priorizada, mas o Brasil estuda medidas retaliatórias, caso as negociações não avancem. No entanto, o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) disse, na manhã desta sexta-feira (4), que o país não deve usar a Lei de Reciprocidade e se prepara para nova rodada de negociação na próxima semana com o governo americano.
Exportadores monitoram impactos e buscam soluções
A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) e a Associação Nacional de Sucos Cítricos (Citrus BR) estão monitorando os efeitos da decisão dos EUA. O setor de carne bovina teme que o aumento da tarifa reduza ainda mais a competitividade do produto brasileiro, que já enfrenta tributação elevada nos EUA.
Atualmente, a carne bovina brasileira paga taxa de 26,4% ao ultrapassar a cota de 65 mil toneladas. Em 2023, mais de 70% das exportações brasileiras de carne para os EUA foram taxadas nesse patamar. Ainda assim, o Brasil continua sendo um parceiro estratégico para os norte-americanos, que dependem de importações para suprir seu mercado interno.
O setor de sucos também demonstra preocupação. A Citrus BR avalia se a nova tarifa de 10% será aplicada cumulativamente à taxa fixa de US$ 415 por tonelada já cobrada sobre o suco de laranja brasileiro. Atualmente, esse tributo representa de 11% a 12% do valor do produto. Dependendo das cotações futuras da commodity, a tarifa pode chegar a 30%.
Em 2024, o Brasil exportou 1,346 milhão de toneladas de suco de laranja para os EUA, com faturamento de US$ 1,193 bilhão — um crescimento de 27% em relação a 2023.
Novas parcerias comerciais
Com a tensão comercial entre Brasil e EUA aumentando, a solução diplomática é vista como essencial para evitar prejuízos. O governo brasileiro avalia a possibilidade de ampliar parcerias comerciais com outros mercados para reduzir a dependência dos EUA. Enquanto isso, setores produtivos seguem atentos aos desdobramentos e aos impactos das tarifas sobre a competitividade brasileira no cenário internacional.
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