Bolsonaro reage: volta a defender golpe e fala em ‘tortura psicológica’ contra Mauro Cid
Ex-presidente reforça tese de que atos de 8 de janeiro foram articulados pela esquerda

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou que seu ex-ajudante de ordens, Mauro Cid, foi “torturado” em sua delação premiada. Em entrevista ao jornalista Léo Dias, divulgada nesta última terça-feira (25), ele também voltou a sustentar a narrativa de que os atos golpistas de 8 de janeiro foram planejados pela esquerda. Denunciado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) por tentativa de golpe, o ex-presidente se defendeu das acusações e classificou os participantes das invasões como “pobres coitados”.
“Ele foi torturado […] em dado momento, estava lá o dono de tudo, o dono inquieto, é a vítima, é tudo. Falando: ‘Olha, você tem um pai, uma esposa e uma filha’. Tortura psicológica”, disse Bolsonaro, em referência ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.
Bolsonaro insiste em tese de que atos foram planejados pela esquerda
Bolsonaro reafirmou a teoria de que os ataques aos Três Poderes em 8 de janeiro teriam sido orquestrados pela esquerda. Segundo o ex-presidente, a falta de imagens claras das invasões reforçaria sua tese.
“Esse 8 de janeiro foi programado pela esquerda. Quando você tem imagens do pessoal quebrando lá dentro, não foi quando entrou a turma que começou a quebrar, não. Quebrando sozinho, o cara quebrando o vidro sozinho. Derrubando o quadro sozinho. Você tem essas imagens […] Só tinha imagens de um magrinho derrubando o relógio […] Foram 33 alertas da Abin para o GSI. Por isso que no meu entender era algo programado. Só pode ter sido pela esquerda”, afirmou.
O ex-presidente classificou os invasores como “pobres coitados, com bíblia na mão” e alegou que o episódio se tratou de “vandalismo”. “Vai dar golpe em um prédio? Sem nada, sem presidente, sem arma? Você acha que vai preparar um golpe com 1500 pessoas e isso não vaza?”, questionou.
Defesa de Bolsonaro contesta áudios revelados pela PF
Recentemente, áudios inéditos divulgados pelo programa Fantástico, da TV Globo, revelaram o envolvimento de militares e civis em um plano de golpe de Estado após a derrota de Bolsonaro em 2022. As conversas, obtidas pela Polícia Federal, indicam que militares em posições estratégicas incentivaram a participação popular e buscaram apoio do ex-presidente.
Ao ser confrontado sobre os áudios, Bolsonaro negou a existência de uma tentativa concreta de golpe. Conforme o ex-presidente, apenas estudou hipóteses constitucionais em resposta a decisões do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que multaram seu partido, o PL.
“Nós temos que nos preparar. Em havendo um problema no Brasil, como vamos reagir? […] Houve uma convocação dos conselhos da defesa da minha parte? Para o estado de sítio? Não. Vamos supor que tivesse convocado. Eu mandaria uma mensagem para o Congresso com exposições de motivos. Pedindo ao Congresso autorização para baixar o decreto […] Mas se não houve nem convocação dos conselhos, sem comentários. Não houve nem tentativa, nem convocação, nada”, justificou o ex-presidente.
Bolsonaro pede afastamento de ministros em julgamento no STF
Em meio às acusações, Jair Bolsonaro acionou o Supremo Tribunal Federal (STF) para solicitar o impedimento dos ministros Flávio Dino e Cristiano Zanin no julgamento da denúncia sobre tentativa de golpe de Estado. A defesa alega que ambos possuem conflitos de interesse que comprometeriam sua imparcialidade.
A petição foi encaminhada ao presidente do STF, ministro Luís Roberto Barroso, que irá avaliar os pedidos de impedimento. A estratégia já havia sido antecipada após reunião do advogado de Bolsonaro, Celso Vilardi, com Barroso.
Argumentos contra Flávio Dino
A defesa argumenta que Dino já moveu uma queixa-crime contra Bolsonaro em 2021, quando era governador do Maranhão, acusando-o de calúnia durante a pandemia de Covid-19.
“A pré-existência de queixa-crime envolvendo, de um lado, o juiz, e de outro lado, a parte, é causa típica de impedimento”, sustentou o advogado Celso Vilardi.
Motivos para afastamento de Cristiano Zanin
No caso de Cristiano Zanin, o argumento se baseia em sua atuação anterior como advogado em uma representação contra Bolsonaro na Justiça Eleitoral, relacionada à reunião do então presidente com embaixadores estrangeiros.
A defesa alega que os mesmos fatos utilizados no julgamento da inelegibilidade de Bolsonaro são agora imputados na denúncia criminal, o que justificaria seu impedimento também no STF.
Denúncia da PGR contra Bolsonaro e aliados
A Procuradoria-Geral da República (PGR) denunciou, no último dia 18, Jair Bolsonaro e outras 33 pessoas por envolvimento em uma organização criminosa. Segundo a acusação, eles tinham como objetivo romper a ordem constitucional e manter o ex-presidente no poder após sua derrota eleitoral em 2022.
Entre os crimes atribuídos estão dano qualificado, agravado pelo uso de violência, ameaça ao patrimônio da União e deterioração de patrimônio tombado. Esses fatos estão ligados aos ataques de 8 de janeiro de 2023, quando apoiadores de Bolsonaro invadiram e depredaram as sedes dos Três Poderes, em Brasília.
Se condenados, os envolvidos podem enfrentar penas severas por atentar contra a democracia brasileira e a integridade das instituições públicas.
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