Governo Lula fala em preocupação com ataque a Israel, mas não condena ação do Irã

No mundo, líderes dos principais países ocidentais condenaram investida, mas presidente petista ainda não se pronunciou, apenas Itamaraty emitiu nota

Por Estadão Conteúdo
14/04/2024 às 11h00
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Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil
Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) evitou condenar publicamente o ataque do Irã a Israel neste sábado (13). Em nota, o Ministério das Relações Exteriores disse que acompanha "com grave preocupação" o ataque de drones do Irã a Israel.

O governo brasileiro fez um apelo "a todas as partes envolvidas que exerçam máxima contenção", para "evitar uma escalada" do conflito, mas não criticou a ação iraniana. No mundo, líderes dos principais países ocidentais condenaram o ataque.

"O Governo brasileiro acompanha, com grave preocupação, relatos de envio de drones e mísseis do Irã em direção a Israel, deixando em alerta países vizinhos como Jordânia e Síria. Desde o início do conflito em curso na Faixa de Gaza, o Governo brasileiro vem alertando sobre o potencial destrutivo do alastramento das hostilidades à Cisjordânia e para outros países, como Líbano, Síria, Iêmen e, agora, o Irã", diz o texto do Itamaraty.

"O Brasil apela a todas as partes envolvidas que exerçam máxima contenção e conclama a comunidade internacional a mobilizar esforços no sentido de evitar uma escalada", diz a nota, recomendando ainda que sejam evitadas viagens "não essenciais" à região. O MRE pede ainda aos brasileiros que já estão no oriente médio que "sigam as orientações divulgadas nos sítios eletrônicos e mídias sociais das embaixadas brasileiras".

O ataque massivo de drones e de mísseis, é uma resposta do regime iraniano ao bombardeio israelense à embaixada do Irã na Síria, no dia 1º de abril deste ano. O bombardeio matou três comandantes da Guarda Revolucionária iraniana, inclusive o comandante sênior Mohammad Reza Zahedi. O regime dos aiatolás vinha prometendo uma resposta militar à agressão israelense desde então.

Por enquanto, o único integrante do governo a se manifestar individualmente sobre o assunto foi o ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, que condenou a ação militar iraniana, mas também criticou o país atacado. Em sua conta no X (antigo Twitter), o ministro Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário) pediu o fim das ações de Israel em Gaza.

"Condenamos o ataque do Irã sobre Israel. Queremos paz no Oriente Médio. Exigimos o fim dos ataques à Gaza por parte de Israel", disse. "Evidentemente, ao condenar o ataque do Irã a Israel condenamos igualmente o ataque de Israel à embaixada iraniana na Síria. O mundo precisa ajudar a evitar a presente escalada bélica no Oriente Médio", acrescentou ele em outro post.

Nos últimos meses, o governo Lula vem acumulando atritos com o governo do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu. O ponto mais elevado dos atritos foi em fevereiro, quando o Estado israelense passou a considerar o petista "persona non grata" no país do oriente médio. Na diplomacia, "persona non grata" é aquela que não é bem-vinda a um país. A declaração veio depois que Lula comparou o conflito entre Israel e o Hamas ao holocausto de judeus promovido pela Alemanha hitlerista na Segunda Guerra mundial,

"O que está acontecendo em Gaza não aconteceu em nenhum outro momento histórico, só quando Hitler resolveu matar os judeus", disse Lula, sem usar o termo "holocausto". O petista também criticou o Estado de Israel por supostamente descumprir decisões da Organização das Nações Unidas. Disse ainda defender a criação de um Estado palestino. Para Lula, o conflito "não é uma guerra entre soldados e soldados, é uma guerra entre um Exército altamente preparado e mulheres e crianças", afirmou. "Não é uma guerra, é um genocídio", disse. A fala se deu durante uma entrevista a jornalistas em Adis Abeba, capital da Etiópia.

Após a fala de Lula, o ministro das relações exteriores, Israel Katz, convocou o embaixador brasileiro no país, Frederico Meyer, para uma reprimenda no Memorial do Holocausto, o Yad Vashem. O gesto não é usual, pois reuniões deste tipo costumam acontecer de forma privada, na sede da chancelaria. Durante o encontro, feito em público e com a presença da mídia, o ministro israelense mostrou ao embaixador brasileiro os nomes de familiares dele vitimados pelo regime do III Reich de Adolf Hitler. Meyer foi chamado de volta ao Brasil "para consultas", após o incidente.

O primeiro atrito entre o PT e Israel se deu pouco depois do ataque do Hamas de 7 de outubro de 2023, que deu início ao conflito. Direcionada contra a população civil, a ação do grupo terrorista vitimou 1,2 mil israelenses e resultou na captura de centenas de reféns. Poucos dias depois, o PT publicou nota equiparando o ataque terrorista - o maior em número de vítimas desde o 11 de setembro de 2001 - a um suposto genocídio contra a população de Gaza perpetrado por Israel.

"Condenamos os ataques inaceitáveis, assassinatos e sequestros de civis cometidos, tanto pelo Hamas quanto pelo Estado de Israel, que realiza neste exato momento um genocídio contra a população de Gaza, por meio de um conjunto de crimes de guerra", diz a nota do partido.

Em resposta, a embaixada israelense no Brasil afirmou que "É muito lamentável que um partido que defende os direitos humanos compare a organização terrorista Hamas, que vai de casa em casa para assassinar famílias inteiras, com o que o governo israelense está fazendo para proteger os seus cidadãos".

Países ocidentais condenam ataque iraniano

Líderes dos principais países ocidentais condenaram a ação militar iraniana na tarde e noite deste sábado. O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, postou uma foto de uma reunião com seus conselheiros para assuntos de segurança nacional. "Nosso compromisso com a segurança de Israel contra ameaças do Irã e seus representantes é inflexível", escreveu ele no X, antigo Twitter.

Em Bruxelas, o Alto Representante da União Europeia para Assuntos Estrangeiros, Josep Borrell Fontelles, disse que o bloco "condena fortemente" o "inaceitável ataque" do Irã, e que este representa uma "escalada sem precedentes e uma grave ameaça à segurança na região".

O primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, publicou uma nota na qual condenou "nos mais fortes termos o ataque irresponsável do regime iraniano contra Israel". "O Irã demonstra mais uma vez sua intenção de semear o caos no seu próprio quintal. O Reino Unido continuará a defender a segurança de Israel e de todos os nossos parceiros na região, incluindo o Reino da Jordânia e o Iraque", disse. "Junto com nossos aliados, estamos trabalhando de forma urgente para estabilizar a situação e evitar que (o conflito) escale ainda mais. Ninguém quer ver mais derramamento de sangue", diz o texto.

O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, disse "condenar fortemente a séria escalada representada pelo ataque em larga escala lançado pelo Irã contra Israel". "Eu peço pela cessação imediata das hostilidades. Nem a região e nem o mundo podem suportar outra guerra", disse.

O ministro das relações exteriores da França, Stéphane Séjourné, disse que a República Francesa "condena nos mais veementes termos o ataque lançado pelo Irã contra Israel". "Ao decidir por uma ação tão sem precedentes, o Irã está a dar um novo passo nas suas ações desestabilizadoras e a assumir o risco de uma escalada militar", disse ele.

A ministra alemã para assuntos estrangeiros, Annalena Baerbock, disse que o país "condena fortemente o ataque em andamento, que pode lançar toda a região no caos". Segundo ela, o "Irã e seus peões devem parar com isto imediatamente. Israel tem nossa completa solidariedade neste momento", disse.

O presidente da Argentina, Javier Milei, divulgou comunicado em sua rede social prestando solidariedade ao povo de Israel por conta do ataque iraniano e disse que respeita o direito de defesa dos israelenses diante de "regimes que promovem o terror".

Na Espanha, o presidente Pedro Sánchez disse estar acompanhando "com máxima preocupação os acontecimentos no Oriente Médio. Há que se evitar a todo custo uma escalada (bélica) regional". "Estamos em contato permanente com as embaixadas (espanholas) na região, que permanecem ativas, para atender aos espanhois no local".

 

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