"Historicamente, todas as vezes que os preços subiram dessa forma, nunca voltaram para o patamar anterior", diz diretor do Grupo LemosPassos

O momento é considerado difícil para toda uma cadeia que vai desde o consumidor familiar até as empresas que necessitam dos alimentos para funcionar e gerar emprego e renda, afirma Ademar Lemos Júnior

Por Nicolas Melo
27/07/2022 às 11h02
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Foto: Reprodução/YouTube
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Da pandemia de Covid-19 à guerra da Rússia na Ucrânia. A primeira, que afetou em forma de crise sanitária no mundo, já  a segunda, provoca escassez de alimentos para alguns países da Ásia e Oriente Médio. O Brasil, que tem adotado uma política econômica liberal durante a gestão do presidente Jair Bolsonaro (PL), vive uma alta inflacionária sobre o preço dos alimentos, isso sem deixar de esquecer os combustíveis.

O momento é considerado difícil para toda uma cadeia que vai desde o consumidor familiar até as empresas que necessitam dos alimentos para funcionar e gerar emprego e renda, como é o caso do grupo LemosPassos, que atua no fornecimento de refeições em restaurantes corporativos.

Segundo o diretor-geral do grupo, Ademar Lemos Júnior, a pandemia provocou uma alta nos índices dos alimentos, quando alguns itens chegaram a marca de 90% em pouco tempo. Ele explicou durante entrevista na manhã desta quarta-feira (27), durante com o editor-chefe do Portal M!, Osvaldo Lyra, no programa Nova Manhã da rádio Nova Brasil FM, a diferença entre um restaurante comercial e um coletivo ou industrial.

"Vamos diferenciar o restaurante comercial no qual você abre o menu, escolhe o prato e paga. Esse restaurante sofre com as altas do preço, mas eles têm a condição de reajustar o preço de acordo com os custos. Já os restaurantes de coletividade ou industrial, eles assinam um contrato de um ano e tem uma lei que é desde o ex-presidente Fernando Henrique, com o plano real, que impossibilita o reajuste antes dos 12 meses. Porém, o alimento sofre o impacto inflacionário", disse Lemos Júnior.

"A rigor não daria para repassar isso para o cliente. Porém, é lógico que subindo a base de custo não é possível manter até porque há também leis que dizem que é preciso manter o equilíbrio do contrato, se não está bom para uma das partes, tem que haver um equilíbrio para ambas", pontuou Ademar.

A fim de evitar um repasse repentino ao consumidor final, já que ato é proibido por lei, as empresas prestadoras de serviço têm firmado uma espécie de gatilho com as contratantes para animar os impactos no faturamento anual, principalmente para a LemosPassos, que produz cerca de 14 milhões de refeições por dia, em nove estados brasileiros.

"O arroz subiu 77%. Feijão, 80%. Hortifruti e granjeiros subiram em todos os itens acima de 50%. Então, como tem uma lei que proíbe um reajuste de preço em menos 12 meses, foi criado um gatilho nos contratos como, por exemplo, a inflação média hoje está em 12%. Então, estamos negociando sempre que a inflação chegue a 5%, acionando o gatilho para um reajuste antecipado de 5% para ser compensado quando completar um ano. Se antes desse um ano, houve outro 5% de inflação, esse valor é incorporado ao preço e no próximo ano, em vez de ser 12%, em média vai se ter 2%, em modo de falar, porque tem que compor esses 10% que já foram recebidos antecipadamente", explicou.

O cenário tem se agravado desde fevereiro, quando a guerra no Leste europeu começou entre os dois países, que são um dos maiores produtores de alimentos, como trigo, petróleo e insumos, seja para agricultura como para saúde. "O trigo no último mês teve um aumento grande. Mesmo o Brasil produzindo trigo, ele não é das melhores qualidades, então o país vive de trigo da Argentina e da Rússia e com essa guerra para tudo, a dificuldade de logística aumenta e isso impacta no principal item de consumo do brasileiro, que é o pão", justificou Ademar Lemos Júnior.

O diretor-geral do grupo LemosPassos ainda externou uma preocupação futura com base na alta dos preços atuais. Na avaliação dele, "historicamente todas as vezes que esses preços subiram dessa forma, nunca voltaram para o patamar anterior, mesmo sendo resolvido os problemas". O gestor ainda continua: "Eu acho que tem que ter uma preocupação, porque isso vai encarecer não só para as famílias, mas também para nós, que somos restaurantes firmados por contratos com diversos tipos de empresas no Brasil", disse Ademar Lemos.

Confira a entrevista na íntegra: