‘Rui Costa tem muito mais a ver com o velho ACM do que o neto dele’, afirma Paulo Fábio
Cientista político é autor do livro ‘ACM – Político baiano-nacional, cronologia de um fato consumado’
Considerado por seus adversários como um grande ‘coronel’ da política, da mídia e das cidades do interior baiano, Antonio Carlos Magalhães foi o oposto do coronelismo. A avaliação é de Paulo Fábio Dantas, cientista político e autor do livro ACM – Político baiano-nacional, cronologia de um fato consumado.
A obra, a segunda de Paulo Fábio sobre a trajetória do ex-senador, conta a história política do influente personagem da Bahia e do Brasil. Ele considera que ACM é um dos nomes mais emblemáticos da política baiana e sua trajetória continua a reverberar nas dinâmicas políticas do estado.
“ACM foi uma figura de uma habilidade política singular, mas a política que ele construiu não é mais a mesma. A competição de hoje já não tem as mesmas bases e as mesmas condições”, afirmou o professor, em entrevista exclusiva ao Portal M!.
Paulo Fábio avalia como a política na Bahia evoluiu desde os tempos de ACM e como o atual cenário, com as influências do PT e o crescente protagonismo de ACM Neto, representa uma nova configuração para o estado.
No período que antecedeu a eleição de 2010, a oposição na Bahia, embora lançasse candidatos ao governo, sabia que suas chances eram pequenas. “Queria eleger deputados, porque o poder era uma coisa previamente definida”, explica o pesquisador.
Esse domínio político, que parecia imbatível, era caracterizado por um controle quase absoluto, uma espécie de ‘gramática política’ que se perpetuava ao longo dos anos, seja no ciclo carlista ou no esquema montado por Jaques Wagner.
A vitória de Wagner nas eleições de 2010, no primeiro turno, contra Paulo Souto e Geddel Vieira Lima, foi vista como um marco. “Ali se levantou a possibilidade do que aconteceu: a indicação de Rui Costa como sucessor”, destacou.
Segundo Paulo Fábio, Rui Costa não possuía a mesma expressão eleitoral que Wagner, mas seu perfil político foi moldado por uma conjuntura nacional conturbada, com o impeachment de Dilma Rousseff, a crise econômica e os escândalos da Lava Jato.
Apesar das dificuldades, Rui conseguiu manter a unidade dos partidos que apoiavam o PT, algo que o cientista político vê como uma habilidade de articulação semelhante à de ACM. “Rui Costa tem muito mais a ver com o velho ACM do que o neto dele”, afirmou.
Paulo Fábio frisa que o ex-governador da Bahia teve que se adaptar a um novo cenário político, em que a competição não estava mais centrada em um domínio claro de um único grupo, mas na polarização entre PT e oposição.
“ACM Neto apareceu como uma figura de oposição ao PT, um catalisador do voto de muitos eleitores que, embora fossem de esquerda, não gostavam mais do PT, principalmente devido aos escândalos da Lava Jato”, explicou.
Segundo Paulo Fábio, essa mudança na política baiana foi influenciada pela situação nacional, com a ascensão de líderes como Jair Bolsonaro e a reação popular à crise política e econômica do país. “ACM Neto se tornou um ator político central, quase como um destino, encaixado perfeitamente no cenário político nacional”, completou.
Renovação de quadros é o grande desafio, diz Paulo Fábio
O processo de construção política da Bahia, segundo Dantas, é uma complexa rede de fatores. “A manutenção do poder do grupo de Wagner, por exemplo, não pode ser dissociada da popularidade de Lula e da força da máquina governamental”, explicou.
Ele observou que a competição política no estado, embora pareça inalterada, enfrenta novos desafios com a renovação de quadros e a necessidade de adaptação às novas realidades políticas.
A crítica ao longo tempo de poder concentrado em um único grupo, com a possível “fadiga de material”, é outro ponto abordado por Paulo Fábio.
“O problema não é perder o poder, mas ficar no poder por 16 ou 20 anos com o mesmo grupo. Isso exige renovação”, alerta. Ele pontua que a crítica não é à essência do poder, mas à falta de transformação dentro dos partidos que estão no comando há tanto tempo.
Segundo ele, a decisão de Wagner de lançar Rui Costa como candidato a governador, sem a força eleitoral necessária, foi como uma falha estratégica. “A leitura correta da situação era que Otto Alencar deveria ter sido o candidato”, afirmou. Para ele, Otto, com sua experiência política e articulação, parecia ser a escolha mais acertada para enfrentar o desafio de manter o controle do estado.
No entanto, as disputas internas e as preocupações com os interesses partidários do PP e do PSD impediram que Otto Alencar fosse a escolha do PT. “João Leão, como vice-governador, tinha o receio de que Otto se tornasse uma figura mais forte, favorecendo o PSD em detrimento do PP”, explicou.
Para Dantas, a forma como o PT lidou com a candidatura de Jerônimo Rodrigues, que enfrentou um processo de mobilização intenso por parte de Lula e das lideranças petistas, é um exemplo claro do que faltou na candidatura de Otto Alencar. “Se o PT tivesse se mobilizado da mesma maneira, Otto Alencar teria derrotado ACM Neto, como Jerônimo derrotou”, afirmou.
Legado de ACM: ‘Não foi um coronel’
Em relação ao legado de ACM, o cientista destacou a complexidade do personagem. “ACM é uma figura emblemática, mas cada um vê nele o que quer ver”, disse. Sua figura de líder autocrático, que sempre agiu com uma visão pragmática e voltada para o poder executivo, deixou marcas profundas na política baiana. Para ele, a adaptação de ACM à democracia foi um grande feito, embora seja inegável que sua postura autocrática tenha sido limitada pelas novas condições políticas.
Hoje, segundo o professor, as circunstâncias são diferentes. “A impunidade política de que ACM gozava não existe mais”, observou. A maior liberdade da população e a maior capacidade de mobilização das massas dificultam a perpetuação de um sistema político centralizado e autocrático.
“O país mudou, e as condições para um político como Bolsonaro, por exemplo, governar com a mesma liberdade que ACM teve, já não existem mais”, acrescentou.
No entanto, apesar da mudança, ACM ainda é uma referência na Bahia. “Ele foi um político que fez acontecer, que teve a capacidade de domar as circunstâncias e colocar o estado nos trilhos”, afirmou. Para Dantas, ACM foi uma figura que soube lidar com os desafios de sua época, mas que, diante da polarização atual e da maior transparência política, já não poderia exercer a mesma influência.
“ACM foi o oposto do coronelismo”, destacou o cientista, expondo uma avaliação oposta à do senso comum sobre o estilo de liderança do ex-senador e ex-governador da Bahia. “Ele foi um líder que soube se adaptar à democracia e aos novos tempos, mas o ‘mandonismo’, como era feito na sua época, não é mais viável”, explicou.
Sobre o futuro da política baiana, Paulo Fábio reflete: “Hoje, a competição política é mais fragmentada, e a oposição tem mais chances de crescer. A política não se resume mais a uma única liderança, e isso muda completamente o jogo”.
Ele reforça que o cenário de 2024, com as eleições municipais e a ascensão de novos líderes, é um exemplo claro dessa transformação “O ACM que os baianos conheceram já não existe, mas o impacto de sua trajetória continua a influenciar a política do estado”, finalizou.
Confira o vídeo da entrevista:
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