Creche gratuita na Boca do Rio nasceu do desejo de um casal de dar assistência a crianças do bairro

Dona Neném conta orgulhosa a história da creche e o legado deixado pelo marido

Por Bruna Ferraz
23/03/2024 às 08h00
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Foto: Ireno Figuer
Foto: Ireno Figuer

No bairro da Boca do Rio, em Salvador, está instalada, há 37 anos, a Creche Béu Machado, instituição que nasceu de maneira despretensiosa, mas que se tornou um elemento essencial na rotina da comunidade local. Tudo começou a partir da história de amor entre Maria José Machado, que trabalhava fazendo faxina, e o jornalista e compositor Béu Machado. Dona Neném, como Maria é conhecida, trabalhava na casa do escritor, quando eles engataram um romance que durou a vida toda.

"A minha vida toda foi criar. Quando eu me casei com Béu, eu já tinha meu primeiro filho e, com o casamento com ele, tive mais dois filhos. Quando Béu faleceu eu já tinha creche. Béu sempre foi jornalista, escritor e compositor. Ele se foi e eu fiquei com a creche e até hoje estou", contou ao Portal M!.

Emocionada, Neném contou que ela e o marido sempre sonharam em ter uma casa cheia e, por isso, iam aos poucos chamando as crianças da redondeza para passarem o dia lá. O convite também era feito aos pais que trabalhava o dia todo e não tinham onde deixar os pequenos. Com o passar do tempo, a notícia foi correndo, até que passaram a fazer fila na porta do casal.

Todos precisam de um lar

O espaço de acolhimento já existia, dentro da própria casa da família, quando o jornalista faleceu. Para manter o sonho vivo, Neném transferiu a creche para outro espaço e lhe deu o nome de 'Béu Machado', que está presente não apenas em título, mas em um grande banner ostentado na parede do seu lar e em todas as falas da viúva, que faz questão de falar do marido há todo tempo.

"Béu não alcançou esses quase 30 anos que fiquei nessa casa vizinha. Depois do falecimento dele que eu tive com ACM, o avô, não Neto. Por ele ser muito amigo de Béu, ele prometeu me dar um espaço para eu viver com essas crianças. ACM comprou esse espaço e eu me coloquei lá durante esse tempo todo. Foi muito maravilhoso, passamos esses anos todos fazendo reformas, reformas e reformas, mas vai fazer quatro anos que o Estado tomou a casa para fazer uma reforma. Só que eles acharam melhor, no decorrer do tempo, pegar o espaço de volta e não quereriam mais que continuasse com a creche", disse a mulher.

Maria José Machado relatou ter sido convocada pelo Ministério Público da Bahia (MP-BA) e informada de que o imóvel que ocupava corria o risco de cair. De início, a proposta era para ela ser instalar em outro espaço até que uma obra de requalificação fosse concluída, contudo, com o passar do tempo, lhe foi dito que o Estado já não tinha mais o interesse em manter uma creche naquele lugar.

Quando a casa ocupava o espaço maior, Neném chegou a acolher até 280 crianças, mas como, para não encerrar as atividades, ela precisou transferir a instituição para dentro do próprio lar, o número de pequenos foi diminuindo, sendo reduzido drasticamente após a pandemia.

"São 52 crianças cadastradas, mas nem todas vêm de vez. A média, durante o dia, é de 37, 29... depende do dia, porque quando a criança está doente, a gente afasta, porque não pode passar de uma para outra. É uma luta diária. Tem dias que a gente não tem nem o que comer direito, mas aí Deus providencia, é uma coisa assim mágica", explicou Márcia Guimarães, secretária da creche.,

Márcia foi uma das mães beneficiadas pelo projeto e atualmente é funcionária da creche, função que ocupa há 26 anos. Para ela, essa é uma forma de agradecimento pelo que o espaço já proporcionou para a sua filha, antiga criança acolhida pelo projeto e hoje uma mulher já crescida e formada em Enfermagem. "A minha função é pedir. Eu peço alimento para as crianças, peço roupas para o bazar, justamente para a gente comprar as coisas que a gente não recebe... a gente dá oportunidade à comunidade de adquirir esses produtos doados para poder justamente, a gente comprar uma carne ou um frango que falta", explicou.

De acordo com a secretária, as crianças chegam às 7h e ficam até às 17h. Na creche, elas recebem quatro refeições diárias. Ao chegarem, elas tomam café da manhã, vão para as salas de aula, onde recebem o ensino de professoras voluntárias. Mais tarde, elas tomam banho e vão almoçar, tiram um cochilo e depois acordam para brincar, correr e fazer um lanche.

"A maioria das mães são solteiras, que trabalham em lares, então elas têm a necessidade de deixar as crianças aqui, já que não tem ninguém pra olhar. Inclusive, a criança com cinco anos, ela sai daqui, mas tem mães que já estão chorando, pois não sabem onde vão deixar as crianças no próximo ano. Elas necessitam da creche pra trabalhar. Elas chegam aqui cedo, 7h da manhã, e deixam as crianças aqui ao nosso cuidado, pois sabe que as crianças estão seguras com a gente [...] Se a gente tivesse uma estrutura maior, quem sabe... se a gente conseguisse resgatar o prédio aqui ao lado, quem sabe a gente não poderia acolher essas crianças após os cinco anos", disse Márcia.

Além do prédio maior, dentre as necessidades listadas pelos voluntários da casa estão: ajuda de custo para pagar as contas; móveis novos para as crianças estudarem, como mesinhas e cadeiras; pintura para as paredes; doação de objetos que podem ser vendidos no bazar; doação de alimentos; e ventiladores para diminuírem o calor no espaço.

Você também pode ajudar

Ajude como puder a Creche Béu Machado:

Doações por Pix: 7198677-9703 - Associação de Clube de Mães União da Boca do Rio.

Doações por conta Banco Bradesco:

Ag.3673-0

Conta 10643-7

Associação de Clube de Mães União da Boca do Rio.

CNPJ 15.163.058.0001-23

Telefone para contato: (71) 3231-3729 / (71) 98677-9703

As doações também podem ser presenciais, no endereço da instituição: Rua do Caxundé, 13, Boca do Rio, Salvador. Ponto de referência: lado esquerdo de quem sobe a rua, após a esquina com a Rua Novo Paraíso.

Conheça a Creche Béu Machado:

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