ARTIGO: Convivência com o Covid-19

Por Adilson Fonseca*
11/11/2020 às 08h00
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Foto: Divulgação
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Por mais que se pense em reimplantar o isolamento radical, com nuances, como se viu, de medidas sem qualquer lastro médico-científico, como o toque de recolher a partir das 18 horas até às cinco horas do dia seguinte, a sociedade brasileira vai aprendendo a conviver com o coronavírus e a pandemia. Afinal, se o vírus circula em qualquer ambiente e horário, como o toque de recolher se tornaria eficaz, se durante o dia as pessoas vivem normalmente? Se é proibido o retorno às aulas, o banho de mar, como explicar as aglomerações no transporte público e no comércio?

O Brasil vive um período de queda nos casos de Covid-19 justamente a partir do momento em que as pessoas começaram a circular mais, com a abertura da economia, e viveu o período de pico da doença justamente quando estavam aglomeradas, trancadas em casa, sem uma separação entre grupos mais vulneráveis (idosos e que tem comorbidades) e aquelas pessoas contaminadas, muitas delas assintomáticas, com outras que não tinham contraído a doença.

Obviamente que os cuidados sanitários devem continuar, como a higienização das mãos e o uso de máscara, mas com 256 óbitos por covid-19 registrados nas últimas 24h, o Brasil teve, na última sexta-feira, a menor média móvel de mortes desde 28 de abril, o que indica que há um arrefecimento da doença. Leve-se em conta, ainda, que o Brasil registra mais de 5 milhões de pessoas curadas da Covid-19. Segundo o Ministério da Saúde, o número de pessoas curadas no Brasil é superior à quantidade de casos ativos (364.575), que estão em acompanhamento médico. 

Até a última sexta-feira, o Brasil acumulava 5.612.319 casos. A média diária de mortes, contudo, vem caindo nas últimas semanas, mesmo com a maior circulação das pessoas, o que pode apontar para a imunização de rebanho, que é quando há um efeito de proteção que surge em uma população quando uma percentagem alta de pessoas se vacina contra uma certa doença. Por obra da "imunidade de rebanho", mesmo quem não está vacinado fica protegido da doença. A doença está presente em 99,9% dos municípios brasileiros. Contudo, mais da metade das cidades (3.447), tem entre um e dois casos confirmados da doença.

Um estudo realizado nos Estados Unidos e publicado na revista científica Nature Immunology mostra que crianças têm anticorpos contra o coronavírus mais fracos do que os identificados nos adultos, mas isso não é um problema. Curiosamente, ter menos anticorpos ajuda as crianças a eliminarem o vírus mais rapidamente, segundo o artigo.

Atiividade industrial - Um dado que ilustra o benefício da reabertura da sociedade, é que em setembro a atividade industrial no Brasil foi aquecida, elevando quase todos os indicadores do setor, ampliando o nível de utilização da capacidade instalada e aumentando as horas trabalhadas na produção. Segundo pesquisa Indicadores Industriais, divulgada na última sexta-feira pela CNI (Confederação Nacional da Indústria), o faturamento real da indústria de transformação cresceu 5,2% em setembro na comparação com agosto.

Esse foi o quinto mês consecutivo em que o indicador da atividade industrial registrou crescimento. De acordo com os dados da pesquisa, o faturamento de setembro deste ano é o maior desde outubro de 2015 e supera o registrado em setembro de 2019 em 12,6%. Mas, ainda assim, destaca a CNI, no acumulado do ano até setembro, o valor está 1,9% abaixo do registrado no mesmo período de 2019. Essa retração deve-se à forte queda ocorrida no faturamento nos meses de março e abril, justamente quando os lockdowns foram implantados em diversos estados.

Passado o pânico, e com ele as medidas draconianas adotadas por prefeitos e governadores, a sociedade retoma a sua trajetória de vida. Não com a mesma normalidade, mas com a necessidade de que é preciso continuar a viver, mesmo que para isso seja preciso conviver com o Covid-19.

* Adilson Fonseca é jornalista e escreve neste espaço às quartas-feiras.

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