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Psicoterapeuta alerta para riscos do uso excessivo de telas para crianças e adolescentes

Ao podcast do Portal M!, Faezeh Santos citou prejuízo na qualidade do sono, déficit de atenção e problemas na saúde física e mental

Muita gente reconhece que o uso excessivo de telas é perigoso, mas  a questão ganha contornos dramáticos quando envolve crianças e adolescentes – pessoas ainda em formação física, social e intelectual. A explosão de informações curtas e constantes proporcionada pelas redes sociais resulta na dificuldade de manutenção da atenção e, por consequência, se reflete até mesmo no rendimento escolar. Entretanto, isso não é tudo.

Irritabilidade, ansiedade, privação do sono, isolamento, falta de interesse em atividades ao ar livre e redução drástica de tempo dedicado à interação presencial são alguns dos sinais do uso abusivo de telas. Diante desse cenário tão comum nos lares brasileiros, a educadora parental, psicoterapeuta infantojuvenil e idealizadora do programa Arvorar Jovem, Faezeh Santos, falou ao podcast do Portal M! sobre o assunto.  

“O número de crianças e adolescentes conectados à internet pode ser atribuído a diversos fatores que são relacionados entre si. O fator mais óbvio é o próprio acesso facilitado que hoje nós temos. Cada vez mais lares têm a banda larga e a disponibilidade de diversos tipos de eletrônicos, o smartphone, o tablet, o computador… tudo isso facilita. As próprias escolas vêm utilizando materiais que usam tecnologia digital no seu método de treino e isso também leva os estudantes a precisarem acessar a internet para pesquisar e fazer exercícios”, explicou a especialista.

O entretenimento digital, significantemente buscado por jovens como uma forma de conexão com os outros, também foi citado pela profissional como um fator de aumento na busca por telas.

“Hoje em dia a gente tem famílias cada vezes menores, então eles [os jovens] estão solitários em casa e essa é uma forma de poder interagir com outras pessoas, também de poderem buscar vídeos, jogos, músicas. Quando a gente fala sobre as redes sociais, principalmente relacionadas às crianças e adolescentes, elas têm um papel importante, porque o adolescente deseja se conectar com outros e, muitas vezes, a forma de conexão que eles têm encontrado leva a um uso frequente das redes sociais. Esse uso gera um prazer imediato, deixando sempre aquele gostinho de quero mais”, pontuou.

Durante a fase da adolescência, uma parte importante do cérebro ainda está sendo desenvolvida: o córtex pré-frontal, responsável pelo controle de impulsos, reação a ameaças e recompensas. Diante disso, o uso excessivo de telas e redes sociais pode levar a situação para as quais o cérebro jovem ainda não está preparado. Isso não significa que os dispositivos causarão problemas de saúde mental a todos os usuários, mas eles podem ser amplificados em quem já está mais vulnerável.

Papel dos pais

Segundo Faezeh Santos, com a rotina profissional intensa e o uso constante de redes sociais, muitos pais acabam influenciando os seus filhos a seguirem esse comportamento. Um dos maiores problemas é a pouca disponibilidade de tempo de interação que se tem para estar com as crianças e adolescentes.

“As crianças aprendem muito através do exemplo, e elas querem imitar o adulto. A criança aprende pela imitação, então se o adulto está muito tempo online e isso parece servir tanto para o trabalho quanto para o entretenimento, também é muito possível que a criança desenvolva esse hábito”, afirmou,

Sinais de alerta

Diante dos desafios da contemporaneidade e do uso crescente de tecnologias, Faezeh Santos indicou a necessidade de atenção constante por parte dos pais e responsáveis, tanto no que se refere ao tempo de exposição às telas, quanto pela forma com que os filhos lidam com a questão. Um dos pontos que devem ser observados, segundo a especialista, é se há preocupação excessiva com os dispositivos eletrônicos.

“Se o tempo todo a criança ou o adolescente está procurando o celular ou tablet, mostrando ansiedade ou irritação quando não os está usando, isso pode ser um sinal de dependência. Outro elemento pode ser o isolamento social. Se essa criança ou adolescente está evitando atividades presenciais, está preferindo ficar online, interagir só com os amigos virtuais ou jogando, isso pode indicar um problema”, listou.

Faezeh também disse que é importante ficar atento a mudanças significativas no comportamento, como irritabilidade, agressividade ou tristeza.

“Elas podem indicar que o tempo excessivo nas telas está afetando o bem-estar emocional dessa criança, desse adolescente. Ainda outro fator, outro elemento, pode ser quando a gente está observando que há uma negligência por parte deles de atividades que a gente considera essenciais como a alimentação, o sono, a higiene pessoal”, detalhou a psicoterapeuta.

Faezeh Santos afirmou que é complexo determinar quando o indivíduo está, de fato, viciado no uso de dispositivos eletrônicos, já que eles fazem parte da vida moderna. Contudo, lembrou que sempre se faz necessário prestar atenção à manutenção de um contato saudável e equilibrado com essas tecnologias.

Riscos do vício nas telas

Dentre os malefícios do contato constante com telas, a especialista destacou o prejuízo na qualidade do sono.

“Já existem estudos que falam como essa exposição excessiva antes de dormir pode ser prejudicial. Inclusive, a indicação é que duas horas antes de dormir, a gente já deveria ir parando de usar as telas, porque a luz azul, emitida pelos dispositivos eletrônicos, pode afetar a produção de melatonina, que é o hormônio que regula o sono. Isso vai contribuir para problemas de insônia, noite mal dormida e queda na qualidade do sono”.

O aumento de risco de obesidade e outros problemas de saúde relacionados à falta de atividade física também foram destacados por Faezeh Santos como alguns malefícios do excesso de contato com tecnologias. Ela alertou, sobretudo, para dificuldades de desenvolvimento cognitivo, principalmente em se tratando de crianças e adolescentes.  

“Esse estímulo constante, visual e auditivo, interfere na concentração, na atenção e na capacidade de aprendizado. Essa dificuldade vai sendo gerada porque tudo é muito rápido nas telas. Em muitos outros momentos da vida, a gente precisa de uma concentração que é bem diferente do que a gente tem nesses vídeos de 20 segundos, que estão o tempo todo mudando, no TikTok ou em outras redes sociais”, pontuou.

Por fim, outro risco ressaltado pela profissional é o surgimento de problemas de saúde mental. De acordo com ela, o uso excessivo de telas pode levar à ansiedade, depressão e isolamento social.

“Para o adolescente, algumas questões se fazem bastante presentes, como a autocrítica, a autodepreciação, a autoestima baixa. São coisas que um adolescente, muitas vezes, já luta contra. Então, vêm as redes sociais, onde constantemente ele está comparando a sua vida com a vida de outras pessoas e existe a exposição a conteúdos prejudiciais, a possibilidade de cyberbullying. São fatores que podem contribuir para esse impacto negativo na saúde mental”, explicou.

Confira o podcast na íntegra:

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