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Associação da Arquidiocese de Salvador acolhe crianças e adolescentes vítimas de abuso e exploração sexual

Neste 18 de maio, data dedicada à causa, a luta contra este tipo de violência ganha visibilidade

Neste 18 de maio, Dia de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, ganha os holofotes a mobilização pelos direitos humanos de meninos e meninas visando fortalecer a rede de proteção e denunciar casos de violência. Este esforço é realizado pela Arquidiocese de Salvador através do trabalho da Associação das Comunidades Paroquiais de Mata Escura e Calabetão (Acopamec).

Há mais de três décadas, a entidade é referência no combate a qualquer tipo de violência e no acolhimento de crianças e adolescentes vítimas de abusos e de exploração sexual na Bahia e fora do estado.

Antônia (nome fictício para preservar a fonte), de 17 anos, é uma destas vítimas e se encontra acolhida na Acopamec há dois anos. A adolescente chegou à entidade aos 15 anos, com marcas de violência física, desnutrição e grávida de quase quatro meses.

“Morava com minha companheira que me obrigava a me prostituir, me espancava e ainda ficava com o dinheiro dos programas. Com essa vida de prostituição, engravidei de um cliente, e meu único pensamento foi o de tirar essa criança. Busquei ajuda de uma vizinha para sair dessa vida de violência e também para interromper a gravidez. Só que ela me levou ao Conselho Tutelar, que me encaminhou para a Acopamec”, conta a adolescente.

Casos como o de Antônia* são cada vez mais comuns. Com a pandemia de Covid-19, violência física (maus tratos, agressão, estupro e insubsistência material) e  psicológica (insubsistência afetiva, ameaça, assédio moral e alienação parental) foram potencializadas, conforme apontam dados do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos).

Na Acopamec, as vítimas são atendidas e passam a morar em uma das cinco casas-lares mantidas pela entidade. Nestes locais, crianças e adolescentes passam a viver juntos, frequentam a escola, participam de cursos profissionalizantes e permanecem até completarem 18 anos.

Com esta idade, eles podem deixar a Acopamec, desde que a autoestima esteja recuperada. Para isso, os meninos e as meninas contam com uma equipe técnica qualificada composta por assistentes sociais, psicólogos, pedagoga, mães sociais e coordenação. 

 

Acolhimento e respeito

De acordo com a coordenadora das casas-lares, Estefanie Valadão, as atividades desenvolvidas na entidade têm como objetivo principal garantir que as crianças e os adolescentes tenham os direitos respeitados, sobretudo quando as famílias ou responsáveis encontram-se temporariamente impossibilitados de cumprirem a função de cuidado e proteção.

“Nós acolhemos diversos casos, desde violência, abandono, incapacidade de cuidado, mas sempre com o encaminhamento do Juizado ou Conselho Tutelar, através da Central Reguladora de Vagas,  assim como foi o caso da Antônia. A nossa sensibilidade é enorme em todos os casos e, por isso, temos como prática realizar uma escuta qualificada, buscamos identificar familiares próximos, com vinculação e entender todo o processo da criança e do adolescente”, ressalta.

A psicóloga da Acopamec, Sara Mascarenhas, reforça que as vítimas chegam às casas-lares precisando de ajuda. Mas, para toda a equipe técnica, o caso da Antônia foi ainda mais sensível e desafiador por se tratar de duas vidas.

“Nós vivenciamos muitas histórias, processos de muita dor e que demandam muito apoio psicológico. Quando essas meninas e meninos chegam até nós, trabalhamos principalmente a escuta, o cuidado e o acolhimento saudável.  Antônia carregava outra vida. Nosso caminhar com ela foi através do amor, dialogamos muito para a sua aceitação, depois para o amar e cuidar do seu processo de maternidade. O resultado foi o melhor possível”, conta.

Sorridente, Antônia não apenas gesticula com a cabeça como verbaliza com toda força que a pequena Alice* (nome fictício para preservar a fonte), de 1 ano e 10 meses, foi a melhor coisa que aconteceu em sua vida.

“É muito bom estar na Acopamec e receber todo apoio que eu e minha filha recebemos aqui. Nós temos uma a outra, e eu tenho a Acopamec como minha família. Ainda bem que eu tive a minha filha, mesmo com tudo que aconteceu comigo. Eu amo Alice mais do que tudo e eu agradeço a Acopamec e por todas as tias daqui que me ensinaram o que é o amor de verdade e que tudo pode mudar. Eu estou seguindo a minha vida e me sinto mais forte. Cheguei aqui sem estudar e aqui continuei meus estudos, fiz vários cursos e hoje sou jovem aprendiz. Quero trabalhar, ter minha casa e quando sair da Acopamec, quero ter condições de cuidar da minha filha”, afirma Antônia.

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