O médico neurologista Ivar Brandi explicou os principais pontos e dúvidas sobre o transtorno do espectro autista (TEA). Durante o programa De Olho na Bahia, da Rádio Mix Salvador (104.3 FM) – conduzida pelo médico Rodrigo Guedes e pelos jornalistas Osvaldo Lyra e Matheus Morais-, o especialista esclareceu pontos fundamentais sobre a condição, incluindo definição, causas e formas de identificação. O bate-papo aconteceu, na manhã desta quarta-feira (2), no Dia Mundial da Conscientização do Autismo.

O que é transtorno do espectro autista?

Segundo o Ivar Brandi, o termo correto para se referir ao autismo é transtorno do espectro autista.

“Esse é o termo que é defendido, proposto pelo Manual de Diagnóstico em Saúde Mental que utilizamos como referência para o diagnóstico, o DSM em sua quinta edição, publicada em 2013”.

Com a atualização do DSM-5, condições anteriormente classificadas de maneira isolada, como autismo infantil precoce, autismo de alto funcionamento, síndrome de Asperger e transtorno global do desenvolvimento, passaram a ser englobadas sob a classificação única do TEA. O transtorno é subdividido em três níveis, conforme a necessidade de suporte do indivíduo.

Como identificar o autismo?

Os sinais do transtorno do espectro autista podem variar de acordo com o nível do transtorno, mas, de maneira geral, afetam dois domínios principais: a interação social e os padrões comportamentais.

“O TEA está relacionado a comprometimento da capacidade de socialização. Isso não significa que a pessoa não pode interagir, mas que o faz de maneira atípica. Às vezes, existe uma dificuldade de iniciar a socialização, de compreender a emoção do outro ou de interpretar subjetividades”, destacou o neurologista.

No quesito comportamental, as pessoas autistas costumam apresentar padrões restritos e repetitivos. “A pessoa tende a seguir padrões, ter um repertório limitado de comportamentos. Além disso, podem surgir outras questões, como reatividade sensorial, incômodo com luz, sons e toques na pele, ansiedade, alterações no sono e seletividade alimentar”, complementou.

Quais causas do transtorno do espectro autista?

Uma das dúvidas comuns é se o autismo tem uma causa específica. De acordo com o especialista, ele é resultado de uma interação complexa entre fatores genéticos e ambientais.

“Eu vou ser bem enfático: autismo não tem causa única. Ele é multifatorial. Existe uma relação entre genes e ambiente. Por exemplo, sabemos que o uso do ácido valproico, um anticonvulsivante, durante a gestação aumenta o risco de autismo. A idade materna acima de 45 anos e a idade paterna acima de 50 também são fatores associados”, esclareceu Ivar.

Outro fator que vem sendo amplamente estudado é a exposição a poluentes. “Hoje pesquisamos muito a poluição atmosférica, a poluição da água e os microplásticos. Sabemos que essas micropartículas de plástico estão em todo lugar, inclusive no nosso organismo”, ressaltou.

Importância da conscientização sobre autismo

O Dia Mundial da Conscientização do Autismo, celebrado em 2 de abril, foi instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2007 com o objetivo de levar informação à população e reduzir o preconceito contra indivíduos autistas. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil pode ter mais de 2 milhões de pessoas com TEA, mas esse número pode ser ainda maior devido à subnotificação.

A conscientização também é fundamental para garantir que indivíduos com TEA, suas famílias e cuidadores tenham acesso a informações, suporte e oportunidades para desenvolver habilidades e construir uma vida plena. Celebridades como Letícia Sabatella, Anthony Hopkins e a cantora Sia revelaram recentemente seus diagnósticos, contribuindo para a visibilidade do tema.