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Mães denunciam caso de LGBTfobia em escola de Feira de Santana

Família compartilhou a mensagem que recebeu da escola nas redes sociais em forma de denúncia

O segundo domingo de maio, tradicionalmente comemorado o Dia das Mães e que deveria ser um dia de felicidade e homenagens, se tornou um pesadelo para Larissa Porto e Mariana Leonesy. As psicólogas, mães da pequena Marina, de 4 anos, uma criança atípica com autismo de grau de suporte 2, vivenciaram momentos conturbados após a escola onde Marina estuda enviar mensagens solicitando que elas escolhessem apenas uma delas para estar presente na festa de homenagem da escola. O incidente ocorreu entre os dias 3 e 4 de maio, mas ganhou repercussão nos últimos dias ao viralizar no perfil da jornalista e criadora de conteúdo Lorena Coutinho.

Em entrevista ao Portal M!, Larissa Porto comentou que a coordenação, juntamente com a direção, enviou mensagens informando que apenas uma das mães poderia comparecer à festa de homenagem. “Estamos preparando esse momento com todo carinho que a mãe ou o representante merece. Contudo, tratando-se de um ambiente de educação, no qual a construção e cumprimento de regras incluem a ética e respeito ao direito do outro, enviamos um comunicado anterior enfatizando que cada criança terá direito somente a um representante por família”, dizia o comunicado.

Para Larissa, a mensagem foi ofensiva e constrangedora. “Mandar uma das mães sair da lista, retirar o nome de uma das duas é muito constrangedor. Vale ressaltar que eles falam de igualdade, mas devemos pensar em equidade. Não há como tratar com regras iguais uma família que, em sua concepção, é diferente e carece de políticas públicas, compreensão e suporte para lidar com as violências impostas por uma sociedade majoritariamente cisheteronormativa”, afirmou.

Em outro trecho da mensagem, a escola comunicou que enviaram as informações para todas as mães e que todas respeitaram, mesmo tendo redes de apoio como avós e tias que têm grande importância para a criança. “Nos sentimos ainda mais violentadas quando comparam a nossa maternidade à relação de avó, tia, etc., sendo que as duas são igualmente mães e não deveriam ser excluídas de um momento tão importante para nós e também para nossa família, que gostaria de ter as duas lá”, ponderou Larissa.

Questionada sobre o sentimento em meio a todo o transtorno, Larissa revelou uma certa insegurança. “Estamos profundamente inseguras por estarmos em um ambiente como esse e, principalmente, sentimos que nossa maternidade não era reconhecida e respeitada pela escola. Gostaria de destacar que a escola afirmou que estávamos sendo desrespeitosas só porque indicamos que as duas deveriam ser homenageadas”, declarou.

Segundo Larissa, a pequena Marina percebeu a tristeza das mães. “Ficamos tão mal com tudo que chegamos no final do evento. O evento foi realizado na quadra da escola, um espaço grande que comportava muita gente. Nossa filha sentiu, ficou muito triste no dia, mas fizemos de tudo para não demonstrar nossa tristeza e blindá-la de um conteúdo tão violento e injusto”, exclamou.

Larissa ainda falou sobre a compreensão da importância do momento para a criança, que estava ansiosa pela ocasião. “É importante deixar claro que, ainda que tenhamos ido as duas porque indicamos que iríamos publicizar o caso, tivemos nosso Dia das Mães arrancado e nos sentimos expulsas e desprotegidas em um ambiente que deveria prezar pela relação escola-família, principalmente pelo bem-estar da criança”, finalizou.

A advogada Larissa Santiago, representante da família, conversou com exclusividade com o Portal M! e revelou que existe um processo em tramitação, um boletim de ocorrência foi feito e o caso foi encaminhado ao Ministério Público. “Este episódio está gerando um processo contra a escola, em que buscamos reparação pelos danos morais causados por toda essa situação de preconceito e descumprimento contratual. A partir do momento em que a escola deixa de criar regras inclusivas, está descumprindo o próprio contrato. Temos uma relação de consumo e inúmeros aspectos que colocam a família como tendo suportado danos morais. Existe um processo relacionado a isso e outras medidas em relação aos preconceitos sofridos”, ponderou.

“Este comunicado, no nosso entendimento, já é preconceituoso no sentido de não reconhecer as múltiplas formas de família e o direito à maternidade sócioafetiva, que já é garantido, assim como a dupla maternidade. Tanto que, quando elas se referem a duas mães, não é somente por consideração; legalmente, a criança tem uma certidão de nascimento com o nome das duas”, disse.

Esta não é a primeira situação que Larissa e Mariana enfrentam com a escola. Segundo elas, já tramita um processo contra a escola, que nega a mediação exclusiva para Marina, uma criança com autismo, conforme indicado em laudo médico e garantido por lei.

A advogada comenta que a abertura desse processo já trouxe transtornos para as mães em relação à escola. “Veja só, essa ação inicial foi para garantir que a filha de Larissa e Mariana tivesse a mediação exclusiva, que já é prevista em lei para crianças com autismo. Nos anos anteriores, a menor tinha essa mediação, e a escola retirou sem qualquer motivação, de forma unilateral. Eles simplesmente tomaram a decisão de tirar. Nesse momento, foi proposta uma ação para obrigar a escola a manter a mediação, pois é um direito previsto em lei. Existe um relatório médico com essa orientação e especificação de que isso é muito importante para o desenvolvimento da criança”, disse.

“A partir daí, a situação com a escola ficou ainda mais agravada. Tanto Larissa quanto Mariana relataram que já vinham sentindo um certo preconceito, um tratamento diferente, mas, através do diálogo, conseguiam contornar, apesar dessa sensação de preconceito que já tinham”, finalizou.

Procurada, a escola particular Asas de Papel, localizada em Feira de Santana, informou que sempre estará à disposição para qualquer informação, mas que no momento ainda não tem um pronunciamento.

 

 

 

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