Vivemos numa redoma social

Por Fernando Cardoso*
08/04/2024 às 18h20
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Foto: Arquivo pessoal
Foto: Arquivo pessoal

Nessa manhã chuvosa fiquei aqui pensando o quanto nossa querida Salvador a exemplo de outras grandes metrópoles, se dividem socialmente. A classe média tranca-se por trás dos muros e das suas portarias brindadas, empregam-se pessoas para proteger-nos e vigiar nossos patrimônios, quando essa responsabilidade é um dever sob Estado.

Porém, vamos para a realidade do meu pensamento, principalmente eu que vivencio por força do trabalho político/social, os 2 mundos, ou sejam, o da redoma e o pós muralhas.

Caminhar pela periferia de Salvador, onde essa população se considera "favela", vivência-se mundos totalmente diferentes, esgotos à céu aberto, ruas esburacadas e com pisos ainda em barros desniveladas,  vielas escuras, fétidas, onde os poderes públicos só adentram sobre ordem dos comandos e das facções, crianças pelas ruas sem nada para fazer,  brincam despreocupadamente, veículos que por ali adentram somente do gás, caminhões das cervejarias, carro do lixo e eventualmente SAMU, vez por outra viaturas da RONDESP mesmo assim em grupos,  transportes alternativos somente conduzindo moradores e com seus vidros abertos sem atenderem telefones, caminhões de coleta de lixos, carros da COELBA e EMBASA, sempre acompanhados por alguma "liderança", por ali, regras tem que ser cumpridas, aí da pessoa que se comprimente fazendo o "V", geralmente são instruídos desses limites do que deve ou não fazer! Portanto, existem comandos sociais paralelos.

Meninas de 12,13 e 14 anos já conduzindo seus filhos para as creches próximas, limitadas que são de até onde pode ir, famílias que trabalham fora, também respeitam seus limites e regras, pois suas saídas e entradas são monitoradas.

Gente, é um mundo totalmente diferente do que vivemos, é estarrecedor, chocante e temos que nos curvar.

O poder das armas e dos interesses "exclusos" desses COMANDOS, são os que mandam nas grandes cidades, eles se expandiram ramificando-se como um "câncer" social, regulamentados por siglas e bairros de atuação: CV, PCC, TROPA, BDM, CATITA,entre outros que se formam e crescem a cada dia pela força das armas e do poder crescente das drogas, além da ambição pela retomada dos espaços os  territoriais por grandes facções.

Enquanto isso, a cidade pulsa nas divisões de classes sociais, crescendo exponencialmente a força das muralhas condominiais, equipamentos de proteção, reformas de portarias em reformas de vidros brindadas, colocando-nos frente as regras do que pode e do que não pode, transformando-nos em meros biscuit's de prateleiras, forma-se por conseguinte a geração do medo!

Fernando, falando do que sabe e conhece!

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*Fernando Cardoso é funcionário público e administrador aposentado 

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