ARTIGO: Depressão - Papel da família e amigos*

Por Sérgio Manzione*
09/12/2019 às 10h00
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Foto: Divulgação
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A depressão atinge mais de 300 milhões de pessoas em todo mundo, segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), e será a primeira maior causa de incapacitação para o trabalho até 2020. A OMS estima que as perdas geradas sejam da ordem de 1 trilhão de dólares ao ano. 

No Brasil, estima-se que o número de deprimidos seja acima de 12 milhões de pessoas, de todas as idades e classes sociais, sendo que metade não está sob nenhum tratamento. Portanto, não é mais possível tratar a depressão como algo banal e que atinge pessoas preguiçosas e desmotivadas. É importante ressaltar um ponto: o deprimido tem grande sofrimento com o que está se passando com ele e a rede de apoio, com destaque para a família, é fator fundamental para a melhora ou, infelizmente, para a piora do quadro clínico.

A depressão é originada por um conjunto de fatores com múltiplos sintomas. A tristeza tem uma causa definida e tende a cessar ao longo do tempo ou quando cessa a causa que a originou. Pode-se ficar triste por não passar em uma prova de vestibular ou por ver seu time de futebol perder a final do campeonato, mas esse quadro vai perdendo força e desaparece. A tristeza pode, no entanto, ser um sintoma da depressão, assim como irritabilidade, falta de ânimo, culpa, apatia, cansaço, afastamento do convívio social, perda ou aumento do apetite, pessimismo, desesperança, insônia, despertar precoce, pensamento recorrente com ideação suicida (ou não) e outros mais. Por isso, é preciso uma avaliação profissional para o correto diagnóstico.

Família, amigos e rede de apoio do indivíduo têm grande importância no tratamento da depressão: pode ajudar ou atrapalhar. No Brasil, estima-se que 65% dos integrantes de uma família não sabem o que é a depressão, nem como lidar com ela. E isso pode atrapalhar muito, pois quem está deprimido acaba ouvindo palavras de ordem que a colocam ainda mais para baixo. 

É comum a depressão ser classificada como frescura, preguiça, bobagem, fraqueza moral, falta do que fazer, vagabundagem e que pode ser curada pegando uma enxada e capinando, trabalhando duro ou, ainda, simplesmente saindo de casa e indo a festas. 

Essas palavras e sugestões em nada contribuem para a melhora do deprimido e só agravam seu estado de saúde. Depressão é uma doençae deve ser encarada e tratada como tal. A família normalmente percebe que a situação é grave quando há um episódio de suicídio ou de tentativa deste. Aliás, o suicídio tem a depressão como uma de suas principais causas.

A depressão precisa ser tratada e a família também, visto que, quando um membro adoece, todos ficam doentes. Um bom começo é desmistificar a doença e esclarecer a família ao máximo para que o preconceito seja desfeito e ambos, família e doente, saibam como lidar com o indivíduo deprimido. 

Portanto, toda forma de esclarecimento é importante e deve ser o mais abrangente possível para reduzir a ignorância sobre a doença. A experiência clínica indica que a família, quando entende o que está acontecendo, passa, na maioria dos casos, a ajudar o deprimido, garantindo sua adesão ao tratamento.

O tratamento da depressão normalmente é o conjunto da psicoterapia e de medicação. Ambas são importantes, pois enquanto uma fortalece o indivíduo para ele aprender com as questões cotidianas, a outra elimina os sintomas e recupera a qualidade de vida. 

A família e os amigos devem colocar-se à disposição para ouvir o deprimido, não para cobrar atitudes consideradas curativas como passear, praticar esportes e coisas assim. O deprimido não é preguiçoso, mas sua energia vital está deprimida (em baixa) e é preciso entender isso não como uma fraqueza, mas como uma doença. A medicação fará efeito em 3 ou 4 semanas e a psicoterapia trará resultados que permanecerão com o paciente, que reelabora sua maneira de ver o mundo e passa a sofrer menos. 

Tendo um caso em sua família, procure entender o que é a depressão e passe a ajudar a pessoa a se livrar da doença.

*Sergio Manzione é psicólogo clínico, administrador, mestre em Engenharia da Energia e semanalmente fala sobre temas da psicologia na Rádio Câmara e no Portal Muita Informação! 
@psicomanzione