Morre aos 95 anos, a quilombola Maria de Souza Oliveira

A quilombola tornou-se uma referência  na comunidade Rio dos Macacos, dado à sua perícia como parteira

Por Redação
17/03/2023 às 13h54
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Foto: Divulgação
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Faleceu na manhã desta sexta-feira(17), a quilombola Maria de Souza Oliveira, aos 95 anos. Dona Maria, como era carinhosamente chamada, é mãe de Olinda Oliveira, uma das principais lideranças do Quilombo Rio dos Macacos, e deixou mais três filhos homens, Orlando, Osvaldo e Luiz Gonzaga e a filha Olga, além de netos e bisnetos. 

Na sua longa vida, Maria Oliveira atuou em diversas atividades. Durante a construção da Base Naval de Aratu, na década de 1940, cozinhava e comerciava alimentos para operários que trabalharam na obra.

Posteriormente, no início da década de 1970, quando foi construída a Vila Naval de Aratu, ela exerceu a profissão de lavadeira e faxineira para famílias de oficiais e sub-oficiais da Marinha. 

Ela contou para a antropóloga Bruna Zagatto que, apesar de ter estabelecido, nas décadas de 1970 e 1980, laços de amizade e compadrio com dois oficiais que moravam na Vila Naval (um deles chegou a ser padrinho de uma de suas filhas), a anciã hoje falecida garantiu que sempre percebeu o desejo da Marinha de retirar toda a comunidade do local. 

Em 2009, a Marinha do Brasil moveu a ação judicial visando expulsar cerca de 50 famílias das terras de uso tradicional. Naquela altura, Maria de Souza Oliveira morava há 81 anos na área da antiga Fazenda Macaco. Na petição, a força naval acusou Maria de Oliveira, entre outros moradores, de serem "invasores de seis meses".

A divulgação da história de vida de dona Maria, através do filme documentário Quilombo Rio dos Macacos, e os subsequentes relatórios antropológicos do território, puseram por terra o argumento de que se tratava de invasores. 

Maria de Souza Oliveira tornou-se desde cedo uma referência da comunidade, dado à sua perícia como parteira e, em seguida, pela sua contribuição como professora leiga para o ensino das primeiras letras para as crianças das antigas fazendas Macaco, Aratu e Meireles, onde se formou o quilombo.

Excelente narradora, destacou-se também como cuidadora da saúde física e espiritual dos seus vizinhos, agindo como rezadeira e promotora, ao lado do marido, de festas como os carurus de Cosme e Damião e noitadas de sambas. O sepultamento será nesta sexta-feira, às 15h no cemitério São Miguel, em Simões Filho.