Os três presentes

Muitas pessoas estão com a sensação de que o tempo tem passado rápido demais. Uma década era algo demorado, mas hoje, sem nos darmos conta, lá se foram dez anos.  

Por Sérgio Manzione*
02/09/2022 às 08h00
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Foto: Divulgação
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De um lado, temos a internet, que nos conectou a lugares e situações inimagináveis, quase instantaneamente. As redes sociais aproximam os que estão longe, mas tendem a afastar os que estão perto.  De fato, as redes sociais têm relevância nas interações sociais, mas, ao que parece, são interações imediatistas e de conteúdo raso, onde a imagem é uma máscara que se coloca à frente de cada um.  Mas o que se passa com cada um de fato?  

Nesse mundo encantado de instagrams e tiktoks um vídeo com um minuto é algo longo demais. Textos grandes só são lidos quando o assunto é muito relevante para quem os lê. Os tais algoritmos não entregam suas postagens para todos seus seguidores, pois há cálculos a serem feitos de acordo com a relevância com que cada rede social atribui a cada postagem. Sim, eles é que definem o que é importante para seus seguidores verem, não você.  Isso é feito para que o "melhor" produto seja oferecido.

Seria errado pensar que as redes sociais só existem para incentivar o consumo de produtos, que eles consideram importantes para você?  Parece que não. E como eles sabem do que você gosta?  Porque eles rastreiam todos os seus hábitos, seja através de "cookies", que memorizam onde você clica, seja através da localização de seu celular, que marca na sua linha do tempo por onde você anda.  Resumindo, nas redes sociais você é constantemente bombardeado por propagandas, que se encaixam aos seus anseios, ou aos seus hábitos de consumo.  Isso tudo para dizer que as coisas tem de ser rápidas nas redes socias para que se possa oferecer o maior número possível de produtos, você precisando ou não. Difícil escapar dessa armadilha, que é um dos fatores que nos dá a impressão de que o tempo corre demais, e corre mesmo, pois a percepção de tempo foi acelerada.

Destaco que o Brasil é o país com o maior número de pessoas com ansiedade, cerca de 20 milhões, não só por causa das redes sociais, pois as causas passam por diversos aspectos, incluindo as desigualdades sociais e econômicas deixando o clima de incerteza, desde a insegurança de garantir o emprego, ou de conseguir um, até a dificuldade em manter a família alimentada. No entanto, com o tempo "acelerado", surge a dificuldade em lidar com o presente, pois os dias estão curtos demais para resolver os problemas que se acumulam.

 Esse acúmulo vai gerando um "passado" de problemas e, se a pessoa ficar presa nele, poderá escancarar uma porta para a depressão.  De outro lado, ao se fixar no futuro, a porta se abre para a ansiedade.  O que ocorre é que tanto o passado, quanto o futuro, ficam fazendo parte do presente. O passado é vivido no presente, e o futuro também o é. Assim, temos três "presentes", sendo que o presente verdadeiro some para dar espaço para o passado e/ou para o futuro.  Quando essa angústia de ter de lidar com os três presentes fica muito alta, muitas pessoas vão se distrair nas redes sociais, e aí o ciclo recomeça, pois elas comem o seu tempo.

O que existe mesmo é o presente. O passado é um conjunto de experiências, nem sempre bem digeridas, mas que pressionam as ideias de hoje, e precisa ser devidamente tratado com psicoterapia, senão a pessoa fica atolada na culpa, no ressentimento, no ódio, na mágoa, na saudade, e assim por diante.  O futuro não existe e é dinâmico, pois qualquer mudança hoje o afeta. Ele é apenas o resultado do que foi feito no passado, e daquilo que se projeta e planeja acontecer depois de hoje.  A conta é simples: se você quer que as coisas sejam diferentes, é preciso fazer diferente. Em outras palavras, se você fizer sempre igual o resultado será sempre o mesmo.  Procure separar os problemas para buscar soluções para cada um deles individualmente.  

Ocorre, muitas vezes, é que os problemas se somam e se busca uma solução única para tudo, quando, na verdade, é preciso buscar uma solução adequada para cada um deles. É preciso, também, classificar seus problemas de acordo com a urgência de cada um, assim você poderá distribuir as soluções ao longo do tempo. Outra coisa muito importante é você saber o que você pode resolver sozinho(a) ou se precisa de ajuda. Além disso, é importante saber se o problema é seu mesmo ou você está carregando problemas alheios. Enfim, pare tudo, e faça uma lista de seus problemas e o que é preciso para solucioná-los. Não é hora de ficar lamentando o que (não) fez, ou se punindo, é hora de buscar as soluções.

O tempo para dar essa paradinha vem da redução do uso das redes sociais. Se você não sabe como resolver suas questões pessoais procure ajuda. É fundamental parar e olhar para a sua vida, ou você continuará dentro da armadilha, sem solucionar os problemas, e vendo o tempo passar.

*Sergio Manzione é psicólogo clínico, administrador, colunista sobre comportamento humano e psicologia no Portal Muita Informação!, e escreveu o livro "Viva Sem Ansiedade - oito caminhos para uma vida feliz". @psicomanzione

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