Especialista faz alerta aos pais sobre mudanças de comportamento dos filhos

A orientação vai desde a prevenção de possíveis abusos sexuais até a casos de depressão e suicídio infantil

Por Nicolas Melo
25/07/2022 às 18h26
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Foto: Divulgação/Agência Brasil/Madalena Rodrigues
Foto: Divulgação/Agência Brasil/Madalena Rodrigues

O Dia D de Enfrentamento ao Abuso e Exploração Sexual de Crianças foi em 18 de março, mas falar de violência sexual contra crianças e adolescentes tem que ser dito todo o dia. Dados do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos indicam que este ano já foram registradas 4.486 denúncias de violações de direitos contra crianças e adolescentes ligados a situações de violência sexual.

Segundo a Agência Brasil, entre janeiro e dezembro de 2021, houve 18.681 registros contabilizados entre as denúncias recebidas pela Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos, o equivalente a 18,6% dos relatos. Os cenários da violação que mais aparecem nas denúncias são três situações: a residência da vítima e do suspeito (8.494), a casa da vítima (3.330) e a casa do suspeito (3.098).

O psicólogo Sérgio Manzione destacou durante entrevista com o editor-chefe do Portal M!, Osvaldo Lyra, no programa Nova Manhã da rádio Nova Brasil FM, desta segunda-feira (25), sobre a importância dos pais estarem atentos à mudança de comportamento de seus filhos. A orientação vai desde a prevenção de possíveis abusos sexuais até a casos de depressão e suicídio infantil.

Diferente do que muitos pensam, a depressão que sempre pareceu um mal exclusivo dos adultos hoje em dia, afeta cerca de 2% das crianças e 5% dos adolescentes do mundo, segundo a Fiocruz. De acordo com o instituto nacional, diagnosticar depressão é mais difícil nas crianças, pois os sintomas podem ser confundidos com malcriação, pirraça ou birra, mau humor, tristeza e agressividade. O que diferencia a depressão das tristezas do dia-a-dia é a intensidade, a persistência e as mudanças em hábitos normais das atividades da criança.

O especialista explicou que a mudança de humor proveniente de uma possível depressão pode estar atrelada a casos de abuso que, infelizmente, são mais frequentes entre pais, padrastos, avôs, tios e até amigos da família. Entre as denúncias da Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos, em quase 60% dos casos a vítima tinha entre 10 e 17 anos, e cerca de 74%, a violação é contra meninas. Padrasto e a madrasta (2.617) e o pai (2.443) e a mãe (2.044) estão entre os maiores suspeitos dos crimes cometidos.

"Com todas as pessoas, mas principalmente com as crianças, a gente tem que observar as mudanças de comportamento. Se ela tem um comportamento equilibrado, que vai numa direção mais tranquila e de repente muda, então tem um problema aí. E esse problema pode ser na escola ou dentro da família, como casos em que pais são separados e há uma guarda compartilhada e essa criança diz que não quer ir para a casa do pai ou do avô. Se tio fulano estiver lá eu não vou. Então tem alguma coisa errada que precisa ser avaliada", alertou Sérgio Manzione.

"Os casos de abusos sexuais são muito mais frequentes e os maiores causadores são pais, padrastos, avôs, tios e amigos próximos. Então, quando uma criança aponta que ela está com medo de alguém e que não quer ir para um lugar, e muda o comportamento, isso precisa ser observado. Primeiramente, se pergunta para a criança o que está acontecendo e a depender da necessidade, encaminhar essa criança para um psicólogo infantil. Porque às vezes ela se abre com o profissional, mas não com a família porque se sente culpada, com vergonha. Se tem um pai, padrasto ou avô que abusa dela, ela acha que ela é o problema, a causadora", acrescentou o especialista.

Sérgio complementa o alerta aos pais sobre tratar do transtorno psicológico, seja ele qual tenha sido o fator causador, ainda na infância, a fim de evitar que ela seja um adulto com problemas. "Um problema que não é trabalhado na infância traz inúmeros problemas nos futuros relacionamentos que vai ter. A criança vai crescer e esse problema continua junto e vai persistir", explicou o psicólogo.

"Se houver mudança de humor, pisca logo o sinal vermelho, não espere. Assim como para os adolescentes também. 'Ah, é o momento do adolescente'. Não! Tem que conversar e saber o que está acontecendo. Nada de que 'tem que respeitar o tempo' do adolescente, que é do adolescene. Às vezes você respeita um espaço que não tem retorno", alertou.  

Ao primeiro sinal de depressão, os pais devem acolher a criança e encaminhá-la a um profissional o mais rápido possível. Na maioria das vezes, o apoio da família e a psicoterapia são suficientes. Somente a partir dos seis anos de idade, é necessário, em alguns casos, intervir com medicamentos. A depressão infantil desencadeia várias outras doenças, tais como: anorexia, bulimia, entre outros e até suicídio.

Ajuda no SUS

Para quem não tem suporte financeiro para buscar uma ajuda profissional particular, o Sistema Único de Saúde (SUS) disponibiliza consultas por meio do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS). Em Salvador, a rede de atenção é composta por ambulatórios especializados em saúde mental, Pronto Atendimento Psiquiátrico (PAP), Unidade de Acolhimento e Serviços Residenciais Terapêuticos.

Já para quem estiver com pensamentos suicidas ou sofrendo de algum tipo de transtorno mental, pode também entrar em contato gratuitamente com o Centro de Valorização da Vida (CVV), por meio do 188. A conversa é feita com um  voluntário do CVV e está disponível para todo o território nacional, 24 horas todos os dias, de forma gratuita.

Confira a entrevista na íntegra: