Bahia registra a maior queda na cobertura de oito vacinas infantis em seis anos

Situação favorece a volta de doenças eliminadas, como o sarampo; confira campanhas de imunização já iniciadas no estado

Por Nicolas Melo
14/04/2022 às 16h00
  • Compartilhe
Foto: Walterson Rosa/Ministério da Saúde
Foto: Walterson Rosa/Ministério da Saúde

Imunizantes que previnem tuberculose, meningite, paralisia infantil e hepatite A foram os que mais registraram queda na procura nos últimos seis anos, na Bahia. Apenas a busca pela BCG, que protege contra a tuberculose, despencou em queda livre de 102,9% para 55,9%, entre 2015 e 2021.

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a pandemia de Covid-19 reverteu anos de progresso global no combate à tuberculose e, pela primeira vez em mais de uma década, as mortes pela doença aumentaram. Em 2020, a enfermidade causada pelo Bacilo de Koch matou cerca de 1,5 milhão de pessoas no mundo - incluindo 214 mil entre cidadãos que vivem com o vírus HIV.

De acordo com levantamento da Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab), um outro vetor de imunização que vem sofrendo queda ao longo dos anos é o da hepatite A, que saiu de 94,42% para 53,35%, e o da meningite, que registrou 93,76% em 2015 e desceu para 58,02%, em 2021. 

Os demais indicadores também apontam queda no quadro vacinal, como a tríplice viral (sarampo, caxumba, rubéola), que caiu de 90,18%, em 2015, para 61,62%, em 2021. A pentavalente (contra a difteria, tétano, coqueluche, hepatite B e meningite) registrou 92,98% em 2015 e 58,76%, em 2021.

Já as vacinas da pneumocócica (pneumonia, meningite, otite), rotavírus (gastroenterite que provoca diarreia e vômito), febre amarela e meningite e  meningocócica C (outras doenças graves), também tiveram,  respectivamente, queda de 90,24%; 88,36%; 83,29%; e 93,76%, em 2015, para 60,04%; 57,04%; 50,51%; e 58,02%, em 2021.

 

Retorno de doenças 

A coordenadora do Programa Estadual de Imunização da Sesab, Vânia Rebouças, pontua que a queda nos índices acende um sinal alerta à saúde pública, uma vez que o menor número de crianças vacinadas significa o risco de retorno de doenças erradicadas ou controladas, como o sarampo.

Houve um surto de sarampo no Brasil em 2018, cerca de dois anos depois de o país receber o certificado de eliminação da doença no território nacional. Foram confirmados 10.346 casos de  sarampo em 2019, e o Brasil perdeu certificação de "país livre do vírus".

A rigor, o termo "erradicação" só é utilizado pela comunidade médico-científica quando a incidência da doença infecciosa é reduzida a zero em nível global. É o caso da varíola, por exemplo. Nos demais casos, usa-se a expressão "eliminada" quando a enfermidade é controlada e zerada em uma região.

"São vários os motivos que vêm contribuindo ao longo dos anos para a queda das coberturas vacinais. A gente pode citar a falsa sensação de segurança que os pais têm com relação às doenças que são controladas ou eliminadas por causa do êxito das próprias vacinas. Isso é o que a gente costuma falar: a vacina tem sido vítima do seu próprio sucesso. Outro motivo é a dificuldade de adesão às vacinas por causa das notícias falsas que vêm circulando, principalmente nas redes sociais, pelo movimento antivacina", pontua Vânia Rebouças.

 

Sinal de alerta em Salvador

Na capital baiana, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) informou que, atualmente, há cerca de 23.967 vacinados contra a gripe - o que corresponde a 2,63% de cobertura vacinal. Já quanto ao sarampo, a abrangência é menor: cerca de 2.183 vacinados, o que corresponde a 1,53% de cobertura de vacinação.

A Prefeitura de Salvador programou a primeira micareta pós-pandemia para outubro. Mas já agora  em abril, entre os dias  21 a 23, será realizado o CarnaSal, no WET, na Avenida Paralela. 

Com os eventos e a baixa adesão aos imunizantes, a infectologista Giovanna Orrico chama a atenção para o risco de novas contaminações, principalmente por meio de turistas.

"Com o isolamento social e o distanciamento, tivemos uma diminuição significativa na cobertura vacinal global em crianças no primeiro ano de vida", alerta, acrescentando que isso pode gerar o surgimento de doenças que já são prevenidas pela vacinação.

"As festividades sempre agravam a situação, pela aglomeração e viagens de pessoas levando e trazendo possíveis doenças de outros países ou estados", ressalta a médica.

 

Campanhas contra influenza e sarampo

Em toda a Bahia foi deflagrada uma campanha de imunização contra sarampo e influenza. A primeira etapa da vacinação é contra a gripe e ocorre até o dia 2 de maio. O público-alvo é formado por idosos com 60 anos ou mais e trabalhadores da saúde.

A segunda etapa, de 3 de maio a 3 de junho, pretende vacinar os demais grupos prioritários como crianças de 6 meses a menores de 5 anos de idade (4 anos, 11 meses e 29 dias), gestantes, puérperas, povos indígenas, professores das escolas públicas e privadas, além de portadores de doenças crônicas não transmissíveis.

Demais públicos-alvos devem ser consultados no site da SMS. Em toda a Bahia, a meta é vacinar 90% de todos os grupos-alvos, uma população estimada em 4.900.410 pessoas.

Já a vacinação contra o sarampo também será realizada até 3 de junho, sendo o próximo dia 30, o Dia D de mobilização. Esta campanha alcança os trabalhadores da saúde e crianças de seis meses a menores de 5 anos de idade, no intuito de atualizar a situação vacinal destes públicos e evitar um novo surto da doença.

O público-alvo na Bahia é de 1.273.068 pessoas: 374 mil 368 trabalhadores da saúde e 898 mil e 700 crianças. A meta é alcançar, pelo menos, 95% do público infantil.