Carnaval indoor é um 'retrô do apartheid', dispara Gerônimo

'O repertório está pronto, o que não está pronto é o patrocinador', afirmou artista, com relação às festas de fim de ano 

Por Jones Araújo
03/12/2021 às 10h17
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Foto: Reprodução/A Tarde
Foto: Reprodução/A Tarde

O cantor e compositor, Gerônimo, diz sentir fome dos palcos. Diante do cenário conturbado para o setor do entretenimento, provocado pela pandemia da Covid-19, artistas ainda encontram dificuldades para exercer o trabalho em Salvador, como é o caso do músico. Apesar do repertório já estar pronto há muito tempo, ele aponta barreiras para encontrar um patrocinador. 

"O repertório está pronto, nós estamos sempre prontos. O que não está pronto é o patrocinador, que muitas vezes tem uma certa simpatia por um estilo de artista que faz a cara dele e escolhe aquilo que ele quer. Eu sou uma pessoa que sempre nadei contra a corrente, achando que estou no mundo certo. Estou tentando fazer alguma coisa, mas no momento não existe nenhuma luz e terra avistada", afirmou ele durante entrevista para o editor-chefe do Portal M!, Osvaldo Lyra, na rádio Nova Brasil FM, nesta sexta-feira (3). 

Apesar do avanço da vacinação, a pandemia da Covid-19 deixa o poder público em alerta. Por conta disso, eventos precisaram passar por modificações, há exemplo do surgimento do Carnaval indoor. Gerônimo opina que a ação será positiva para aqueles artistas que já tem patrocínio. 

"Quem já tem patrocínio está dando para se resolver, alguns artistas vão sair da Bahia para fazer show fora, quem não tem [patrocínio], não tem. É mais relaxante para a Prefeitura não fazer nada, porque ela está sendo cautelosa, mas pode deixar 35 mil pessoas para assistir um jogo de futebol, pulando, gritando, bebendo, se abraçando, já para fazer entretenimento há desculpa", analisa Gerônimo. 

A respeito do Carnaval particular, o cantor manifestou desejo de realizar um evento desse porte, caso encontre um patrocinador. Ele também analisa que eventos do gênero são um "retrô do apartheid, em que o carnaval só era para poucos".  

"Se o povo tomar a rédea de fazer carnaval na rua me preocupa, porque os governos vão colocar polícia que vai bater, porque é proibido. O povão não vai compreender nunca o porquê daquela casa em frente a ele está fechada só para alguns entrarem, se tiver dinheiro, brincar o carnaval lá aglomerado. Está estranho, a pandemia está mudando o comportamento, não sei se é para pior ou melhor", analisa. 

Viver de música em Salvador 

Gerônimo também falou das dificuldades de viver de música na capital da Bahia. Para ele, uma forma de resolver os problemas de músicos que não possui grande patrocínio, seria a democratização dos acessos e que artistas de bairros também sejam valorizados. 

"Nenhum artista de peso vai querer fazer carnaval em bairro, a não ser que tenha muito dinheiro envolvido (...) a gente precisa muito que a rádio que toca música popular brasileira tenha consciência que os compositores e artistas daqui famosos e menos famosos tenham a liberdade de se expressar nessa comunicação.  Existem grandes músicos e compositores nas periferias e eles precisam mostrar seu trabalho. É assim que se desenvolve a cultura", finaliza. 

Assista a entrevista na íntegra abaixo: