Vixe! Não há chance de ACM Neto sentar para discutir apoio com João Roma no 2º turno. E as preocupações do PL com a filiação de Bolsonaro

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Por Osvaldo Lyra e equipe
10/11/2021 às 07h41
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Foto: Arte: Haron Ribeiro
Foto: Arte: Haron Ribeiro

Aí que saudade...

O governador Rui Costa não saiu nada satisfeito da visita que fez à Vitória da Conquista na última segunda-feira. Após vistoriar a reforma do Hospital Afrânio Peixoto, que será transformado em um anexo do Hospital de Base, o governador reclamou do atraso das obras, o que fez com que algumas pessoas presentes cochichassem sobre "a falta" que o ex-secretário Fábio Vilas-Boas faz no governo estadual. A reforma, iniciada em 2019, teve uma alteração no projeto original, o que acabou atrasando a entrega do equipamento. Fábio, desde que deixou o governo, passou a se dedicar totalmente à sua pré-candidatura a deputado federal. 
 

José Carlos Araujo 

Injeção de votos e ânimos 
 
O ex-deputado José Carlos Aráujo, presidente do PL na Bahia, comemorou a possível chegada do presidente Jair Bolsonaro à sigla. Segundo o dirigente, o clima é de otimismo com a entrada do chefe do Executivo federal. "Vejo com boa expectativa e acredito que vai haver uma mudança na Bahia. Haverá uma injeção de ânimos e votos e, por essa razão, o nosso partido poderá chegar a ter até sete ou oito deputados federais. Hoje estamos com quatro", pontuou Araújo.

Jair Bolsonaro 

As preocupações do PL
 
Além de dar musculatura à sigla, a entrada de Bolsonaro dá uma sobrevida a deputados que detém mandato hoje na Bahia. Dos quatro parlamentares atuais, a expectativa é que dois federais sejam reeleitos e dois batam na trave. Eles se somarão aos outros três ou quatro que devem ser eleitos no próximo ano. Mas não é só otimismo que resulta da movimentação do presidente da República. Há também uma onda de preocupação. Uma dúvida que, inclusive, passou a queimar as pestanas dos liberais é se o presidente permitirá a manutenção do acordo existente com o ex-prefeito ACM Neto, para garantir o apoio do PL local à sua candidatura ao governo em 2022. 

Valdemar Costa Neto
 
Valdemar não mudaria acordos
 
Pelo que se comenta à boca pequena, o dirigente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, dificilmente mudaria um acordo já estabelecido com o ex-presidente do DEM, de apoiá-lo em 2022, já que os liberais estão no arco de alianças do democrata há quatro anos na Bahia. E, como ACM Neto quer se manter distante da disputa nacional, os integrantes do PL esperam continuar fazendo parte da sua base de apoio, sem ser contaminados pela eleição presidencial. 
 
Sob nova direção?
 
Há quem aposte na sigla que até mesmo o comando do PL, em estados estratégicos, continuará nas mãos do atual grupo que o dirige. Em São Paulo, por exemplo, Valdemar não quer que o PL apoie o nome que Bolsonaro quer como candidato em 2022. Isso levou ao entendimento de que deverão ficar de fora dos tentáculos dos bolsonaristas a Bahia, Pernambuco, São Paulo e Piauí. Até porque, o presidente liberal controla o partido há mais de 20 anos. "Valdemar não abrirá mão de mandar no partido", completou outro deputado, ao destacar que "o Partido Liberal é um brinquedinho de ouro, muito bem cuidado e controlado por ele". 

Bolsonaro e João Roma 

Filiação de Bolsonaro e o destino de Roma
 
O sentimento é que a ida de Bolsonaro para o PL não crava a mudança automática do ministro João Roma para o partido. Hoje ele se mantém filiado ao Republicanos. O entendimento entre os parlamentares ouvidos pela coluna é que o presidente da República precisará de outras forças políticas, além da nova sigla, já que não poderá ter em seu arco de alianças apenas um partido. Outro detalhe que chama a atenção é o fato de no partido, ligado à IURD - Igreja Universal do Reino de Deus, ninguém querer que Roma saia. "Mas também não querem que o partido rompa com ACM Neto pra marchar com Bolsonaro e apoiar seu projeto ao governo da Bahia", como enfatizou um republicano, ao destacar "a sinuca de bico" que a estratégia provocou na política local. A expectativa é que um desfecho aconteça até o próximo mês. A conferir. 
 
Sem previsão de mudança partidária 
 
Ontem mesmo, em entrevista à rádio Nova Brasil FM Salvador, o ministro da Cidadania disse que nunca cogitou deixar o Republicanos e se filiar ao PL. "Nunca cogitei mudança partidária. Estou trabalhando para montar um arco de alianças a favor do presidente, mas fico feliz com um encaminhamento da filiação de Bolsonaro ao PL", afirmou. 

Ciro Nogueira 
Por que Bolsonaro não foi para o PP?
 
Por que Bolsonaro não foi para o PP, de Ciro Nogueira? Quem conhece um pouco de política sabe essa resposta: porque o partido tem muitos caciques locais e isso impede o avanço da negociação com o presidente e sua turma. Isso, diferente do PL, que só tem um dono, Valdemar Costa Neto, que já foi preso, já foi solto, colocou um laranja em seu lugar, mas não entregou totalmente a sigla. Há mais de um ano ele retomou a presidência do PL e passou a despachar diretamente com o próprio Bolsonaro no Palácio do Planalto. Como prêmio de consolação, é esperado que os PP indiquem o candidato a vice na chapa de presidencial.  
 
Para onde irão os bolsonaristas?
 
No entorno do ex-prefeito ACM Neto, a orientação é aguardar a concretização da filiação de Bolsonaro ao PL e entender como os aliados mais próximos a ele vão se comportar, para onde irão. Se vão filiar todos em um mesmo partido ou se vão pulverizar. 

ACM Neto

É preciso dar tempo ao tempo
 
Os aliados do ex-prefeito de Salvador dizem que, antes de qualquer coisa, é preciso dar tempo ao tempo para ver como todas essas movimentações vão se acomodar. A poeira subiu e o ambiente está turvo. Além do mais, tem interesses de ambos os partidos, em vários estados brasileiros, que blindam ainda mais a aliança entre o União Brasil (DEM) e o PL local. O entendimento no bloco oposicionista é que o foco agora deve ser o fortalecimento de Neto no interior do estado e a preparação para o lançamento da sua candidatura, no próximo dia 2 de dezembro. 
 
Crescem os apoios
 
Quem circula no entorno do ex-prefeito diz que aumentou e muito o nível de procura de lideranças, de partidos aliados e da base do governo, para lhe declarar apoio. Tanto nas viagens ao interior como nas visitas políticas em seu escritório em Salvador, políticos de vários partidos fazem questão de hipotecar apoio ao pré-candidato do DEM. Deputados ouvidos pela coluna dizem que só não vai aumentar agora o número de prefeitos declarando apoio, pois eles vão continuar atrás de recursos do governo para seus municípios, já que o prazo legal para liberação de obras vai até abril do próximo ano. "Nessa hora a caneta pesa", completou um oposicionista. 
 

Jaques Wagner 

Os movimentos de Wagner 
 
Enquanto o ex-prefeito ACM Neto avança em sua candidatura, prevista pra ser lançada no dia 2, o senador Jaques Wagner segue ainda com poucos movimentos. No DEM, muitos dizem que ele se limitou a ir a alguns eventos com o governador Rui Costa, onde o ambiente é controlado e o público já é seu aliado, o que dá pouca margem de ampliação do projeto petista. Óbvio que o ex-governador e seu partido vão arregaçar as mangas e batalhar, mas o sentimento entre os democratas é que pouco importará a estratégia do PT. O foco deve ser potencializar o projeto de Neto e reverberar ele para toda a Bahia. "Esse é o desafio".
 
Pé no acelerador 
 
Enquanto isso, Neto segue avançando e reunindo apoios formais com 118 prefeitos baianos, dentre eles, os gestores das sete maiores cidades do estado. A expectativa, inclusive, é que a estratégia do democrata obrigue seus adversários a se movimentarem mais. Até mesmo pela força do lançamento da sua candidatura, petistas e os aliados de Bolsonaro deverão ampliar o diálogo e o contato com o eleitorado. Segundo um deputado do DEM, só nos últimos dias o democrata foi a cinco cidades, reunindo mais de mil pessoas. "Espontaneamente, se formaram carreatas, caminhadas, num movimento crescente, que pode embalar seu nome na disputa", como apostou o aliado, ao destacar que Neto só tira o pé do acelerador após a eleição. 
 
Neto leva vantagem pois não precisará se apresentar 
 
O fato de ter uma imagem pública construída e ser considerado um bom gestor ajuda muito a ACM Neto. Ele não precisará se apresentar para a população, o que se configura como uma vantagem para ele. O sentimento no grupo é de otimismo, mas com pé no chão, já que todos sabem que enfrentar a máquina do estado não será uma tarefa fácil. Facilitará esse processo o fato de haver, segundo os democratas, uma fadiga de material do PT, por estar há quase 16 anos no poder. 

Lula

Lula vai conseguir resolver a eleição?
 
Diferente das eleições anteriores, onde o ex-presidente Lula e seu time foram responsáveis pela vitória dos petistas na Bahia, agora, no bloco oposicionista, dizem que não é verdade que o líder petista vá "resolver" a próxima eleição no estado. As pesquisas feitas pelo grupo mostram um amadurecimento dão eleitorado e o desejo de não votar casado em 2022. Cada eleição tem suas particularidades. Em 2006, por exemplo, Paulo Souto estava cansado e havia o desgaste do carlismo. Agora o jogo virou. O cansaço está com o PT, e o candidato da oposição está com sangue no olho. 


ACM Neto e João Roma
 
Não há chance
 
Se acontecer um segundo turno na Bahia, a chance de ACM Neto sentar para discutir apoio com João Roma é abaixo de zero. Pelo que se comenta no entorno do democrata, não há hipótese dele declarar apoio ao presidente da República. E isso, tanto no primeiro como num eventual segundo turno. Pelo sim, pelo não, o certo é que Neto não vai apoiar Bolsonaro, mas vai receber muitos votos dos bolsonaristas.