Sérgio Manzione explica como a psicoterapia poder restaurar a autoconfiança no processo do luto

Em entrevista ao Portal M!, psicólogo clínico explicou as cinco fases decorrentes da perda

Por Flávio Gomes
01/11/2021 às 18h00
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Foto: Divulgação
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O psicólogo clínico Sérgio Manzione explica como a psicoterapia poder restaurar a autoconfiança no processo do luto e o que fazer para encarar com a certeza da morte sem ansiedade. 

"Todos nós gostaríamos de ter essa resposta na ponta da língua. O que podemos fazer para facilitar esse processo é estar mais conscientes de quem somos e aumentar o autoconhecimento. A partir daí que entra a psicoterapia. Para quem está passando por este momento de luto, é poder restaurar a autoconfiança, ajudando a pensar na morte sem puxar uma culpa. A intervenção profissional vai pegar aquele paciente para poder entender como a pessoa encara o mundo", explicou em entrevista ao editor-chefe do Portal M!, Osvaldo Lyra, no programa Nova Manhã, da Rádio Nova Brasil FM

"A psicoterapia é um reforço importante. É uma reestruturação para ver a realidade como ela é e não como você gostaria que ela fosse", completou.

O psicólogo explicou ainda, como é o processo de convivência do luto em cinco fases.

"Não necessariamente a pessoa passa por essas fases ou o tempo que fique em cada fase vai ser igual. Essa subjetividade faz com que as pessoas tenham velocidades diferentes para encarar o problema que vai depender do conjunto de crenças", disse.

Segundo o profissional, a primeira é a fase da negação. "É a fuga da realidade. É uma forma de proteção de dizer que aqui está acontecendo no primeiro impacto". Já a segunda fase é caracterizada pela revolta, "onde a pessoa vai se sentir injustiçada e ter raiva de si mesma, por não ter feito algo que pudesse evitar".

A terceira fase é a da barganha, onde a pessoa começa a negociar consigo ou até mesmo com Deus, prometendo ser uma pessoa melhor, se ela sair daquela situação. "Podemos considerar como um pré-luto, quando uma pessoa está perto de morrer", continuou.

Sérgio Manzione continuou explicando que, a quarta fase é o processo final do luto, chamada de depressão.

"Essa tristeza profunda que a pessoa vai sentir, saindo do mundo externo e entrando no mundo interno, com isolamento, melancolia e impotência de tudo com o que está acontecendo. Então a pessoa se recolhe e vai passando por momentos de tristeza, de alegria quando lembra nesse processo de flutuação emocional muito grande, encaminhando para o que seria esta última fase, que é da aceitação", disse.

"O indivíduo não tem mais o desespero e enxerga a realidade como ela é, e fica pronto para enfrentar a perda, transformando a imensa dor da perda com a saudade. Aí se lembra da pessoa com alegria lembrando-se de pontos alegres da convivência, ressaltando pontos positivos desta relação", completou.

 

Pandemia e luto coletivo

Questionado sobre enfrentar esse período de luto coletivo, por conta da pandemia da covid-19, Manzione afirma que "as pessoas que passam por essa situação vão ter que passar por essas fases que falamos". "De fato, estamos diante de uma tragédia coletiva, onde pouco se pôde fazer no início e só agora conseguimos ter uma reação aceitável, com o avanço da vacinação em quase todo o mundo, inclusive no Brasil", disse.

"O que podemos dizer para essas pessoas é que, diante de um fato com este, pouco controle se tem, mas devemos encarar a realidade como algo que não controlamos e o imponderável está sempre nos cercando e devemos cultuar o lado positivo de quem foi e lembrar dessa pessoa com alegria, mesmo que a morte tenha interrompido os projetos de mais de 606 mil pessoas. É preciso sim ter muita calma neste momento e aceitar o fato como ele é e fazer o possível para que ele não se estenda", continuou.

Por fim, Sérgio Manzione aconselhou os pais para falar sempre a verdade para as crianças, nos casos de perdas.

"O ideal é sempre falar a verdade. Qual a quantidade de verdade que você vai falar para a criança? Nunca se deve mentir para a criança e sim dosar a verdade que vai passar pra ela", ressaltou.

"Pra cada fase da infância, você tem um conjunto de ferramentas, de histórias que você pode contar, nunca mentirosas, mas criativas para aquele momento, a depender da idade, a aceitação é diferente. O grande diferencial é falar a verdade, sem entrar no processo de forma que se fala para um adulto", finalizou.