Como identificar sinais suicidas em jovens? Psicólogo faz alerta sobre redes sociais

Sérgio Manzione repercute o caso de Lucas Santos, filho de ex-vocalista da banda Magníficos, e diz que o problema não está na internet, mas sim nas pessoas

Por Flávio Gomes
04/08/2021 às 15h00
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Foto: Divulgação
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O desabafo da cantora de forró, Walkyria Santos, sobre a morte do filho adolescente, Lucas Santos, 16 anos, levantou a discussão sobre as relações no segmento digital. Walkyria disse que seu filho tirou a própria vida, após receber comentários de haters em um vídeo que publicou na plataforma TikTok.

"Hoje eu perdi meu filho, mas preciso deixar esse sinal de alerta aqui. Tenham cuidado com o que vocês falam, com o que vocês comentam. Vocês podem acabar com a vida de alguém. Hoje sou eu e a minha família que choram", disse.

Em entrevista ao Portal M!, o psicólogo clínico Sérgio Manzione disse que o problema não está na internet, mas sim nas pessoas.

"A gente às vezes coloca a internet como se fosse uma entidade, uma pessoa. Ela só faz a ligação entre as pessoas. O que acontece é que nas duas pontas existe algum tipo de problema", explicou.

O psicólogo ressaltou ainda que há três tipos de componentes nesta comunicação.

"O que ataca gratuitamente e comete bullying ou só por diversão, um prazer obscuro. Tem o que recebe, uma pessoa insegura que está precisando de aprovação, e os amigos e familiares, que não estão atentos a essa questão com o que está acontecendo com o indivíduo, deixando as pessoas entrando em situações que poderiam ser evitadas", pontuou.

Sobre casos como o do garoto Lucas Santos, Dr. Manzione avaliou que pode haver uma tendência suicida que já acompanha o indivíduo.

"Não sei se no caso os comentários eram ataques frequentes ou se era a mesma pessoa. São elementos muito importantes para a avaliação. Do outro lado, pode haver uma tendência suicida que já acompanha essa pessoa. Não é um comentário negativo que você ouve ou lê na internet que vai disparar um suicídio e sim, um acúmulo de coisas que vêm sendo feitas ao longo de um período", avaliou.

"O suicida dá sinais aos poucos, mas a família ou amigos não estão atentos a estes sinais. Então qualquer mudança brusca de comportamento é um sinal para um comportamento mais tímido ou de mais tristeza. A pessoa começa a se fechar no quarto ou vivendo em função da aceitação do outro na internet", completou.

O psicólogo avaliou também a dependência dos indivíduos para com as redes sociais, vivendo em função ou em compulsão da aprovação de terceiros.

"As pessoas vivem muito em função da aprovação das redes sociais. O indivíduo publica um vídeo ou comentário e fica aguardando a repercussão disso, para ver se está agradando ou não e isso pode se tornar até uma compulsão, vivendo em função disso", disse.

Ele disse ainda que é importante o acompanhamento dos pais sobre o que os filhos estão fazendo na rede.

"Hoje em dia dizem que isso é invasão de privacidade. Mas isso é justamente a maneira para você preservar justamente para que não aconteça o que aconteceu. Ninguém comete suicídio para se matar, comete para se livrar de um sofrimento grande que não vê saída de outra forma. Ela não tem ninguém em volta", ressaltou.

Por fim, Sérgio Manzione alertou sobre o fato da sociedade entender os problemas que os indivíduos possam transmitir evitando um suicídio.

"Segundo a Organização Mundial da Saúde, 90% dos suicídios poderiam ser evitados. Ou seja, falta a sociedade entender os problemas. Adolescentes entre 12 e 16 anos, e até mesmo crianças são seduzidas por pessoas muito mais velhas que se passam por mais novas, nas redes. É a sociedade doente que se manifesta através da internet", concluiu.