"Benefícios da inclusão responsável de autistas no mundo do trabalho são pouco conhecidos", diz coordenadora de associação

ACEB abraça a causa do Projeto FAMA

Por Redação
11/05/2021 às 17h15
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Foto: Divulgação
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Negação de matrícula escolar, falta de preparo das equipes e negligência com a aprendizagem de autistas são alguns obstáculos educacionais que dificultam a qualificação de pessoas com esta condição para o mercado de trabalho. Também por isso a contratação de autistas é rara no Brasil: cerca de 85% das pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) estão desempregadas.

Mesmo com esse cenário, aqueles que conseguem driblar barreiras e são contratados por empresas socialmente responsáveis ou incluídos em projetos empreendedores provam as vantagens da inclusão, tais como baixo absenteísmo, melhora nas relações interpessoais, potencialização da saúde organizacional, aumento da arrecadação para os cofres públicos por meio de impostos pagos e consequente redução de custos com o Benefício de Prestação Continuada (BPC), destinado a pessoas com deficiência.

Se, por um lado, a inclusão responsável dos autistas no mundo do trabalho traz diversas vantagens para empresas e empreendimentos, para os autistas, o trabalho não só garante ocupação e renda, mas também desenvolve autonomia, autoestima, rede de amigos e mobilidade social, além de abrir portas para que a sociedade veja com naturalidade sua participação social. 

Quando, recentemente, teve acesso a todas essas informações, a coordenadora de empreendedorismo e ação social da Associação Classista de Educação e Esporte da Bahia (ACEB), Anne Cristina Nogueira, ficou surpresa.

Ela acessou dados atuais sobre o tema por meio de uma longa conversa com a presidente e coordenadora pedagógica da Associação Projeto Fantástico Mundo Autista (FAMA), Patrícia Teodolina. 

"Nossa luta pela inclusão, na verdade, sempre fez parte da identidade da ACEB. No início da história da entidade, há mais de 15 anos, oferecemos cursos de especialização pioneiros no âmbito da educação inclusiva, que tinham como objetivo qualificar professores a trabalhar nesse contexto, conforme preconiza a Lei de Diretrizes e Bases (LDB). Apoiar a luta da FAMA é uma forma que encontramos de dar continuidade a esse processo", pontuou.

Quando buscou entender por que os autistas têm tão poucas oportunidades no mundo do trabalho, apesar da Lei de Cotas (Lei 8.213/91), que determina critérios para contratação de pessoas com deficiência, o que Anne ouviu de Patrícia foi que uma das principais justificativas é o modelo biomédico, que reduz a pessoa com deficiência a um ser necessitado de atenção biomédica. 

"Embora existam indivíduos com limitações severas, esse paradigma generalizado mantém o estereótipo de um sujeito com baixa autonomia, reduzida independência e limitações para o trabalho. Essas barreiras são reforçadas pelo hiperfoco nos prejuízos do autismo quando, na verdade, o foco maior deve residir nas potencialidades dos autistas", frisou a pedagoga especialista em neuropsicologia que preside a FAMA.