ARTIGO: Projeto político do PT na Bahia está em risco

Por Rodrigo Daniel Silva*
03/12/2020 às 08h00
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Foto: Divulgação
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A Bahia está hoje para o PT o que São Paulo representa para o PSDB. É uma espécie de cidadela dos petistas, já que é o maior estado comandado pelo partido no país. Demais disso, a Bahia é onde o Partido dos Trabalhadores está há mais tempo no poder atualmente. São quase 14 anos, com quatro gestões aprovadas pela população. Só que, em 2022, o projeto político do PT baiano corre o risco de ser derrotado. A eleição deste ano mostrou que a situação não está fácil para a legenda do governador Rui Costa e do senador Jaques Wagner. 

Independente do prisma que se olhe, o resultado do PT é amargo no estado. Se verificamos os quatro maiores colégios eleitorais do estado, percebemos que estão dominados por oposicionistas: Salvador (Bruno Reis, do DEM), Feira de Santana (Colbert Martins, do MDB), Vitória da Conquista (Herzem Gusmão, do MDB) e Camaçari (Antonio Elinaldo, do DEM). Se analisarmos os 20 maiores colégios eleitorais da Bahia, nota-se que os petistas foram capazes de eleger apenas um prefeito. Foi, em Lauro de Freitas, Região Metropolitana de Salvador, após a reeleição de Moema Gramacho.

Se o que era ruim, pode piorar. Com as vitórias dos oposicionistas em Feira de Santana e Vitória da Conquista, os adversários de Rui Costa vão passar a administrar 12 dos 20 principais municípios baianos. Há quatro anos, o placar era de 13 a 7 a favor dos governistas. De volta ao PT, o partido chegou a eleger 93 prefeitos baianos em 2012. De lá para cá, a legenda está indo de ladeira abaixo.

Caiu para 39 em 2016, e agora conquistou apenas 32 prefeituras. Se avaliarmos o resultado em Salvador, observamos que a candidata Major Denice Santiago obteve o pior desempenho da sigla dos 20 últimos anos, com apenas 18% dos votos válidos. O PT ainda deu de brinde ao sucessor do prefeito soteropolitano ACM Neto, Bruno Reis, a maior votação entre os candidatos a prefeito de capital, com 64% dos votos. Ah, não se pode esquecer que o triunfo veio com uma cereja no bolo. Bruno Reis foi eleito com a adesão de dois partidos da base de Rui Costa: PDT e PL.

Não me parece plausível supor que há uma onda antipetista no estado. Em 2018, quando havia um verdadeiro maremoto contra os petistas, a sigla conseguiu reeleger Rui Costa governador com votação histórica. Além disso, o presidenciável Fernando Haddad obteve mais de 70% dos votos válidos no estado no segundo turno. É possível que haja um desgaste natural do partido, que está há quase duas décadas no comando das terras baianas. Mais aceitável ainda é a hipótese de que a incapacidade de articulação política do governador tenha afetado o resultado. Há tempos, os aliados reclamam que Rui dedica muitas horas para a parte administrativa, e praticamente ignora a política. Se os correligionários de outras legendas tiveram uma míngua de atenção do governador nos últimos seis anos, apesar de ser cobrado publicamente, o que dizer então dos petistas?

A dificuldade de renovação do PT na Bahia parece ser outra pedra no meio do caminho da agremiação partidária. O ex-governador e senador Jaques Wagner já disse e tem dito reiteradamente que é preciso novos quadros, mas muito pouco tem feito até agora para revigorar o partido. Se deixar a eleição de 2022 nas mãos de Rui Costa e não entrar em campo, Wagner verá o projeto político, que começou a construir em 2007, se desmanchar no ar.

Pela primeira vez, o PT deve ter um adversário verdadeiramente competitivo ao governo da Bahia. ACM Neto, que provavelmente irá postular o cargo em 2022, deixará a prefeitura de Salvador muito maior do que entrou em 2013, com a aprovação que passa da casa dos 80%. Na conjuntura atual, o mais provável é que o democrata enfrente Jaques Wagner. Será o embate entre o criador de Rui Costa e o criador do ex-senador Antonio Carlos Magalhães. Wagner, no entanto, só será capaz de vencer se unir a base política, que hoje demonstra insatisfação com a postura do atual governador baiano. Se não conseguir, será o fim da aventura do PT em terras baianas.  

*Rodrigo Daniel Silva - Jornalista, repórter na Tribuna, mestrando em Comunicação pela Universidade Federal da Bahia (Ufba)

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