LGBTs baianos relatam como combatem a homofobia

Portal M! conversou com pessoas que, através dos seus trabalhos, contribuem para um mundo melhor

Por Jones Araújo
17/05/2021 às 15h44
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Foto: Agência Senado
Foto: Agência Senado

Nesta segunda-feira (17), é celebrado o Dia Internacional Contra a Homofobia. A data marca a luta pelos direitos iguais, combate ao preconceito e, sobretudo, o direito à vida sem o medo constante  de morrer só por ser quem é. Esta data também é a mesma em que a Organização Mundial de Saúde (OMS) retirou a homossexualidade do Código Internacional de Doenças (CID), em 1990.

A população LGBTQIA+ ainda sofre com constantes discriminações em todo o mundo. Os dados do Grupo Gay da Bahia mostraram que, em 2020, a cada 36h, morreu uma pessoa LGBTQIA+ no Brasil. Diante deste cenário, celebrar o dia de combate à homofobia é ressaltar a resistência dos integrantes dessa comunidade, que só precisam de respeito por ser quem são.

Como parte da celebração deste dia, o Portal M! conversou com pessoas que, através dos seus trabalhos, contribuem para um mundo melhor.

 

Quitutes da felicidade


Crédito: Arquivo pessoal

A história do cozinheiro e técnico em nutrição, Emerson Pimentel, mostra que bolos e doces também podem ser considerados sinônimos de alegria. Neste caso, a felicidade é uma via mão dupla, tanto para os clientes quanto para a realização pessoal do cozinheiro.

Falar de mercado de trabalho sempre traz à memória de Emerson histórias de fases pesadas em que ele sofreu ao ser alvo de preconceito.

"Já fiz várias seleções em empresas em que não passei porque na hora falavam que eu era gay. Sempre diziam: 'Você não se encaixa no perfil da vaga'", afirma. "Eram 30 funcionários, eu sempre era motivo de piada entre eles", diz ele, ao relembrar do seu primeiro estágio.

Emerson conta que essas histórias sempre ficaram marcadas em sua mente. Foram também combustíveis para que ele perseguisse seu sonho: ter o próprio negócio e levar felicidade, através dos seus quitutes, para os clientes.

"Aos 11 anos, fui morar com minha avó, que era doceira na época. Todas as encomendas que tinha, ela me chamava para perto e ensinava  passo a passo. E daí em  diante fui fazendo cursos no Senac, fui me  aperfeiçoando mais", conta.

Hoje o cozinheiro não esconde a felicidade de ter seu próprio negócio, a loja virtual Ateliê dos Deuses. "Comprei todo meu estoque de confeitaria e hoje trabalho para mim mesmo".

Ele relembra toda a jornada até seu sonho ser concretizado. "Nada na vida é fácil, tudo é persistência ainda mas para a gente. Por ser gay, as coisas são muito difíceis. Se você não persistir, desiste no meio do caminho. Hoje só abri minha loja virtual, mas estou lutando pra conquistar meu próprio espaço físico de trabalho", planeja.

"Nunca é tarde para abrirmos mão dos nossos preconceitos. Temos que amar uns aos outros, sem olhar a quem. Somos todos iguais, precisamos de respeito. Diga não à homofobia", convoca.

 

Desenvolvimento humano como chave para um mundo melhor


Juliana e a esposa. Imagem: Arquivo pessoal


O trabalho da advogada e empresária Juliana Brito tem contribuido positivamente para o desenvolvimento de centenas de alunos que são formados na Unacoaching, a escola de desenvolvimento humano na qual ela é sócia.

A profissional possui há 14 anos uma relação homoafetiva, regada com muito apoio das duas famílias e tendo o respeito como uma das chaves para um mundo melhor. Nos treinamentos da empresa dela, o respeito às diferenças é uma pauta sempre levantada.

"Percebi que o trabalho do coaching humanizado poderia ser usado em diversas frentes. Isso me ajudaria a ser melhor todos os dias e a desenvolver outras pessoas. Percebi que era possível viver uma vida e uma carreira, baseada em desenvolver pessoas", afirma a empresária.

Hoje, Juliana contribui para a  formação de centenas de alunos. A empresa oferece mentorias na área de negócios e melhor desempenho no mercado de trabalho, apresentando conteúdos para que situações desagradáveis de preconceito sejam evitadas. 

"Há também um preconceito velado, o não dizer o motivo diretamente, mas impor um não acesso. Muitas vezes dito como uma forma de evitar problemas, constrangimento com alguns clientes e se evita a contratação [de pessoas LGBTQIA+]. Hoje na Unacoaching, nos atuamos com treinamento de empresas e equipes. Um dos pontos mais importantes é a cultura da empresa, de compreender as diferenças como um ponto positivo para o avanço", explica.

"Que nós possamos construir uma sociedade em que se respeite as diferenças e principalmente a identidade das pessoas. Ser gay, lésbica, ser LGBTQIA+ e poder viver e expressar seu afeto faz parte da identidade da pessoa. Toda vez que essa identidade é atingida, nós estamos abalando a dignidade humana da pessoa", afirma.

 

Escrever para mudar o mundo 

Crédito: Arquivo pessoal

A vontade de Hércules Andrade de ser jornalista surgiu no ensino médio, quando duas psicólogas, na escola, deram a ele uma orientação profissional apresentando a grade do curso de jornalismo. "Me vi muito apaixonado por isso. Costumo dizer que se eu pudesse voltar atrás faria o mesmo curso", diz.
 
Ele conta que sempre foi uma pessoa que acredita muito na leitura e escrita como forma de mudar o mundo e, nesta linha, sempre preferiu continuar estudando. Iniciou um mestrado, participou de livros, com a ideia de dar mais representatividade para jovens negros, gays e periféricos.

"Hoje no mercado de trabalho eu vejo que cada vez mais podemos ser nós mesmos. Vai ter gente que irá nos olhar torto, mas o que importa é como a gente se olha e também saber distinguir que como o outro te olha, não define quem você é", afirma.

Hércules acredita que o jornalismo contribui para o combate à homofobia. Para ele, o profissional desta área precisa desmistificar algumas coisas.

"[Precisa] ter coerência em passar a informação. Em meio a essa coerência é que a gente vai descobrir que na atuação enquanto profissional, a gente não só deve se dedicar de corpo e alma para oferecer o melhor, mas se dedicar na busca dessa oferta de estar inserindo também quem a gente é", diz.

"Acho que é por meio dessa representação, enquanto profissional, que podemos escolher e fazer escolhas que nos representem. Desta forma conseguimos contribuir para a diminuição do preconceito".

Como mensagem ao combate à homofobia, ele diz: "Respeite a individualidade do outro".