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Dia das Mães: quando os papéis se invertem e o maternar é exercido pelos filhos

Portal M! conta a história da fisioterapeuta Cyça Lopez, que assumiu o papel de cuidadora de sua mãe, Iranildes Viana Pereira

No Dia das Mães, celebramos não apenas o amor materno em sua forma convencional, mas também honramos as diversas maneiras pelas quais a maternidade se manifesta ao longo da vida. Para muitos, a jornada  transcende os limites da infância, chegando aos anos em que os papéis tradicionais se invertem e os filhos assumem o cuidado de suas mães.

Para mostrar essa narrativa singular, o Portal M! conta a história da fisioterapeuta e bailarina Cyça Lopez, que, com dedicação e amor inabaláveis, assumiu o papel de cuidadora de sua mãe idosa, Iranildes Viana Pereira, desafiando as expectativas convencionais e revelando a profundidade do vínculo materno em todas as fases da vida.

De acordo com Cyça, a percepção de que os papeis haviam se invertido na relação com sua mãe veio quando ela começou a perder as competências. Por conta disso, a fisioterapeuta relatou que essa relação filha-mãe é marcada por uma atenção constante.

“Apesar de ter 85 anos, ela é extremamente cognitiva, extremamente ativa. E dentro disso, a gente tem uma relação muito salutar, ela tem toda a independência. Mas, ao mesmo tempo, eu preciso ficar sempre atenta ao movimento dela, porque ao contrário de uma criança que a cada dia vai se tornando mais independente, mais autoconfiante, mais competente nas ações da vida, vai amadurecendo, o idoso vai perdendo as competências. Então, a gente precisa estar atento para saber que horas a gente vai precisar intervir ou não”, descreveu.

Cyça enfatizou ainda que, diferente do maternar entre mãe e filha, o cuidado de filha para mãe é um processo que aumenta a cada dia. “Antes, ela tinha mais independência do que tem hoje. E hoje, ela tem mais independência do que vai ter amanhã. É um sentimento de muita angústia também, porque é a sua referência. E referências de valores, de força, de superação. Minha mãe sempre foi uma pessoa muito forte, muito resolutiva. É aquela que, quando chega, vai resolver o problema. E aí, de repente, a gente se vê numa situação de que eu não posso mais confiar nem no que ela decidiu, nem no que ela fez”, pontuou.

Os cuidados de Cyça incluem a atenção ao pagamento de contas para saber se não está havendo extorsão contra Iranildes, por se tratar de uma mulher idosa. “É um cuidado que não é declarado, porque magoa também, [pelo fato de] a idosa saber que agora passa a precisar, quando antes era independente. E isso faz com que você tenha que cuidar com um pouco mais de silêncio, de disfarce, não deixando que seja algo explícito, porque nem sempre o idoso quer aceitar que ele precisa de ajuda”, explicou.

Forma de retribuir

Perguntada se o cuidado com sua mãe é uma forma de retribuir tudo que Iranildes fez por ela, Cyça afirmou se tratar do mínimo a fazer neste sentido. Um ponto importante nesta relação,  destacado pela filha, é a busca por sempre incluir a mãe em todos os planos.

“Em geral, a gente não inclui idoso na programação, por mais simples que seja. Se vai ao cinema, ninguém pensa que o idoso também precisa ir no cinema. Todo mundo quer achar o filme para agradar o adolescente, para agradar a si próprio. Neste final de semana, Dia das Mães, o que minha mãe quer fazer? Ir para cozinha? Restaurante cheio? Não. Vai querer ir ao Ilê Aiyê, e a gente vai entender porque ela vai se divertir, porque é cognitivo para ela”.

Para Cyça, a busca por promover cuidado e alegria é um dos principais pontos neste modo de maternar.

“É mais difícil ser alegre depois de uma certa idade, porque você já não vê muito graça nas coisas, já não tem muito entusiasmo, já não tem muita novidade no mundo. Então, se manter jovem é se manter alegre, se manter cognitivo, e eu acho que esse maternar filha-mãe perpassa por isso, por esse maternar de zelo, de estimulação da cognição através da afetividade”, destacou.

Principais desafios

Apesar do cuidado, a relação do maternar filha-mãe também oferece diversos desafios, principalmente o fato de estar sempre atento às demandas. “Eu tento colocar a logística dela na minha logística e vice-versa, para que eu possa estar presente. Por exemplo, eu me organizo para conseguir almoçar com ela, me organizo para depois do meu trabalho, antes de ir para casa, passar na casa dela, ver como ela está, ver o que está acontecendo”.

Essa busca por sempre incluir a mãe na rotina, no entanto, deve ser uma coisa fluida, conforme advertiu Cyça. Para ela, caso não seja desta forma, a prática pode não se sustentar. “Você vai fazer hoje, vai fazer amanhã e daqui a pouco você não vai conseguir fazer mais, porque é insustentável”, apontou.

Sentimento materno

Muitas pessoas acreditam que a maternidade está diretamente ligada ao fato de ter filhos. No entanto, casos como o de Cyça Lopez mostram que é possível maternar sem a presença de filhos no sentido convencional da palavra. Sobre a existência desse sentimento materno, a fisioterapeuta disse se tratar de uma grande honra poder cuidar de sua mãe.

“Sempre me senti muito honrada de ter condições de estar próxima, de poder cuidar, de poder estar junto para as demandas que vão surgindo, como os novos desafios desse envelhecimento, adiando essa finitude. Eu acho que 80% da qualidade de vida que ela tem hoje é desse investimento. Se ela estivesse sozinha, distante da gente, com certeza ela não estava tão bem”, completou.

 

 
 
 
 
 
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